Sustentabilidade

Desastre ecológico: usina é multada em R$ 18 milhões por mortandade de peixes no interior de SP

Usina informa que está avaliando o teor da decisão e eventuais desdobramentos; laudo aponta morte de mais de 235 mil peixes

A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) concluiu nesta sexta-feira, 19, o laudo técnico sobre o desastre que resultou na morte de toneladas de peixes no Rio Piracicaba e na área de proteção ambiental Tanquã, conhecida como “mini Pantanal” de São Paulo. 

A multa determinada pelo órgão ambiental à Usina São José é de R$ 18 milhões.  Conforme o laudo técnico, a pena aplicada à empresa tem agravantes como omissão sobre o extravasamento de substância poluidora, o alto volume de peixes mortos e atingimento de área de proteção ambiental.

Laudo técnico da Cetesb (pg. 17), sobre mortandade de peixes ocorrida no Rio Piracicaba

A diretora-presidente em exercício da Cetesb, Mayla Fukushima, afirma que a companhia identificou a relação direta entre o extravasamento de substância poluente pela usina e os dois episódios de mortandade de peixes.

“O resultado das análises laboratoriais coletadas, das investigações e inspeções realizadas não deixam dúvida sobre a relação entre o extravasamento de material poluente da Usina São José e os episódios de mortandade de peixes que aconteceram nos dias 07 e 15 de julho”, comenta a diretora, em coletiva de imprensa.

Além da multa, a Cetesb informa que estabelecerá exigências técnicas e medidas corretivas por parte da usina.

O que diz o laudo da Cetesb

Em ordem cronológica, o documento divulgado pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) relata que a partir do extravasamento das águas residuárias da usina, foi encontrado no Ribeirão Tijuco Preto, que deságua no Rio Piracicaba, mel de cana-de-açúcar, substância densa, de difícil diluição na água.

“O PH do ribeirão, entre 07 e 08 de Julho, ficou ácido (passando de 7,4pH para 5,4pH), comportamento característico de quando há presença de resíduos de açúcar em água. Essa alta carga orgânica foi levada para o Rio Piracicaba, reduzindo o nível de oxigenação da água, chegando a zero, e inviabilizando a vida aquática. Essa carga orgânica, de alta densidade, foi arrastada pelo curso do rio até o Tanquã, onde por características do local, se acumulou, causando assim novo evento de mortandade no dia 15”, contextualiza a Companhia.

Entre as constatações, o laudo revela que em uma vistoria, no dia 8, verificou-se que parte das águas residuárias industriais ainda escorria em direção ao curso de água e um trator, tipo pá carregadeira, realizava a construção de taludes com terra visando conter totalmente o vazamento.

Também foi observado que um dos tanques de armazenamento de mel possuía sinal de solda de uma abertura por onde foi feita a raspagem do mel solidificado.

“No mesmo dia foi constatado que o solo e a vegetação da Área de Preservação Permanente no local onde escorreram as águas residuárias ficaram escurecidas com aspecto queimado. O Ribeirão Tijuco Preto espumava neste ponto da mesma forma como ocorreu no Rio Piracicaba”, detalha parte do documento apresentado nesta sexta-feira.

Veja fotos abaixo:

“A Cetesb agiu com prontidão desde os primeiros relatos de mortandade de peixe no Rio Piracicaba. A equipe da Agência Ambiental local realizou inspeções e coletas, localizou a fonte poluidora e garantiu que mais nenhum resíduo fosse extravasado”, comenta  Mayla Fukushima.

O incidente resultou na morte de mais de 235 mil espécimes de peixes, em estimativas conservadoras, de acordo com o órgão ambiental.

Confira no arquivo abaixo o laudo completo:

Laudo completo da CetesbBaixar

O que diz a Usina São José

Procurada pelo Agro Estadão,  a Usina São José informa que recebeu o relatório da Cetesb e está avaliando o teor da decisão, bem como seus eventuais desdobramentos.

“Cabe lembrar que as operações da usina estavam interrompidas desde 2020, tendo sido retomadas somente em maio deste ano, e que nos últimos 10 anos houve mais de 15 ocorrências dessa natureza na região. A empresa esclarece ainda que adota as melhores práticas do ponto de vista ambiental e não poupa esforços para colaborar plenamente com a Cetesb, a Polícia Ambiental e o Ministério Público”, informa em nota a empresa.

Atualização*
Posteriormente à publicação desta matéria a Usina São José divulgou um comunicado à imprensa, onde ratifica a informação acima e faz as demais considerações:

Usina São José, 19 de julho de 2024


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