Inovação
Inteligência artificial no agro mescla otimismo e preocupação
Tecnologias podem garantir aumento de produtividade e gestão ambientalmente sustentável, mas custos, falta de conectividade e formação de mão de obra são vistos como gargalos

Igor Savenhago | Ribeirão Preto (SP)
27/02/2025 - 08:00

A granja de corte administrada por Luciana Dalmagro, em Batatais (SP), manda para o abate quatro milhões de frangos por ano. Para gerenciar o plantel, ela implantou nos últimos meses, com treinamento dado por empresas parceiras, duas tecnologias com inteligência artificial (IA).
Uma delas otimiza a cadeia logística de rações. Combinados com um software, equipamentos com visão computacional monitoram o volume nos silos com até 98% de precisão.
Outra solução, em fase de validação, pesa as aves apenas por imagens. Uma câmera tira foto dos frangos e o sistema avalia se o desenvolvimento está satisfatório. “Uma grande inovação, que tira a balança manual da jogada e traz acurácia e facilidade ao processo. Tecnologia promissora que, certamente, logo ganhará escala,”
Para Luciana, a IA não substitui o produtor, mas potencializa a capacidade de tomar decisões. Segundo ela, quem souber usar as ferramentas terá diferenciais no mercado. “Poderá produzir mais e melhor, com menor impacto ambiental, maior bem-estar animal e maior eficiência”.
Apesar dos benefícios, a cofundadora da Vida de Granja – nome da propriedade – afirma que o Brasil enfrenta um problema estrutural crônico: falta de conectividade no campo. Outro ponto é que as novas tecnologias exigem um período de adaptação. E, nesse processo, o engajamento das pessoas é ponto-chave. “A tecnologia sozinha não resolve tudo. É preciso combinar com a experiência do produtor.”
Lucro e mão de obra
A visão de Luciana é compartilhada por outros executivos do agro. Em estudo divulgado pela consultoria PwC agora no início de fevereiro, 61% dos empresários do setor no País consideram que a IA vai ampliar seus lucros nos próximos 12 meses.
Por outro lado, 38% dizem temer a falta de mão de obra qualificada para trabalhar com IA. A preocupação tem motivado a oferta de treinamentos para os colaboradores, além de manutenção e contratação apenas dos mais capacitados. Tanto que 17% declararam ter reduzido o quadro funcional por causa da IA.
Outro levantamento, realizado em 2024 pelo Talenses Group, holding especializada em recrutamento para posições de lideranças, demonstrou que as maiores preocupações dos executivos, nesta ordem, são a formação de profissionais, resistência de produtores e empresários em adotar novas tecnologias, conectividade e custos para implementação de IA – nesse caso, especialmente para pequenos produtores.

Espaço para crescer
Matheus Machado, criador da Ascendero, empresa de Ribeirão Preto (SP) que capacita pessoas a lidar com IA, explica que, apesar de o agro ser um setor que investe em tecnologia, as questões estruturais ainda dificultam a chegada de informações aos produtores. “Há poucas empresas usando IA em relação a outros setores, mas isso acaba sendo um bom sinal. Se tem poucos, tem muito espaço para crescimento.”
Ele acredita que a IA pode contribuir inclusive com isso, ajudando a promover letramento digital. “Muitas funções são por comando de voz, o que agiliza as operações”. Com facilidades desse tipo, o especialista espera que a IA promova integração efetiva entre diversas áreas do agro, como planejamento de produção, controle de frota, indústria, entre outros. “É interessante notar que a tecnologia, antes vista como acessório, se tornou protagonista. Temos uma dependência tão absurda que o mundo para se ela faltar.”
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