Inovação
Estudo inédito aponta fungo que compromete produção do shimeji
Fungo do gênero Penicillium é registrado pela primeira vez no País, que enfrenta desafios com a falta de produtos seguros e respaldo técnico para a produção comercial
Paloma Santos | Brasília
30/06/2025 - 08:00

Uma pesquisa da Universidade Federal do Paraná (UFPR) identificou uma doença causada por um fungo do gênero Penicillium, que afeta diretamente o cultivo comercial do cogumelo Shimeji. Este é o primeiro registro científico formal desse patógeno em cogumelos no País — um avanço relevante para a fungicultura brasileira, que ainda enfrenta falta de respaldo técnico e normativo.
O trabalho foi conduzido pelo engenheiro agrônomo Ricardo Scheffer de Andrade Silva durante seu doutorado. A motivação veio da prática: Ricardo foi produtor de cogumelos por anos, em Curitiba (PR), e criou uma sociedade com colegas de faculdade. “A produção sofria com contaminações recorrentes. Mesmo entre os produtores mais experientes, ninguém sabia ao certo como controlar ou identificar o problema”, relata ao Agro Estadão.
O fungo, disseminado por esporos, apresenta sintomas como o abortamento dos primórdios (estágios iniciais do cogumelo), mudança de coloração e atrofiamento. Além de contaminar o cogumelo, também pode atingir o substrato, agravando o problema.
Segundo a pesquisa, o abortamento representa o estágio final da contaminação. O primeiro sintoma é o surgimento de uma massa cinzenta pulverulenta, que se dispersa com facilidade. Em seguida, ocorre o atrofiamento do primórdio, que apresenta aspecto enrugado e alteração na coloração, passando de um tom cinza-esbranquiçado para amarelado.
Controle ainda limitado

A pesquisa começou com o isolamento dos fungos presentes em substratos contaminados, em condições semelhantes às das estufas comerciais. Em laboratório, o pesquisador identificou os gêneros de maior frequência e, a partir disso, iniciou testes com produtos de uso popular que pudessem atuar como alternativas aos fungicidas — proibidos no cultivo de cogumelos, já que estes também são fungos.
Foram testadas substâncias como água sanitária, vinagre e calda bordalesa. A água sanitária diluída a 4% apresentou o melhor desempenho, inibindo parcialmente a germinação dos esporos do patógeno. No entanto, Ricardo explica que nenhuma das substâncias avaliadas conseguiu eliminar completamente a doença. “Faltam produtos registrados e seguros para uso no Brasil. O controle hoje é puramente empírico e preventivo. A contaminação pode comprometer rapidamente toda a produção”, alerta.
De acordo com Silva, o manejo baseado em limpeza e higienização rigorosa é a principal ferramenta para evitar a contaminação. Segundo ele, é essencial adotar práticas rígidas de biossegurança. Entre as medidas recomendadas estão a higienização adequada das mãos e utensílios, a eliminação de resíduos de cogumelos infectados e a restrição de circulação entre ambientes de cultivo contaminados.
A pesquisa foi elaborada pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Cogumelos Comestíveis, sob a coordenação da professora Francine Lorena Cuquel, do setor de Ciências Agrárias da UFPR, com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).
Prevenção na prática

A experiência do produtor Marcos Felipe Pscheidt, que há seis anos cultiva quatro tipos de cogumelos (Paris, Portobello, Shiitake e Shimeji), confirma o impacto da carência de pesquisa e de produtos de controle de doenças na rotina produtiva. “Quando aparece, a doença atinge direto a produtividade. O Shimeji afetado para de crescer direito, desenvolve manchas, perde a coloração e pode apodrecer.”
Para evitar prejuízos, Marcos investe em prevenção: controle rigoroso de temperatura, umidade e ventilação, esterilização dos espaços entre os lotes e descarte imediato de qualquer composto contaminado. O principal insumo do cultivo — o substrato pasteurizado e inoculado — também requer atenção. “A oferta até existe, mas encontrar um fornecedor com padrão técnico alto é difícil. Um lote mal processado pode comprometer toda a produção”, afirma.
Ele destaca que o cultivo de cogumelos no Brasil ainda é muito recente, considerando o contexto histórico em comparação com grandes culturas agrícolas. “Ainda falta muita informação técnica. É preciso estudar muito para entender as necessidades da produção.”
Por outro lado, segundo dados da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), o consumo de cogumelos no País tem aumentado. Em 1996, cada brasileiro consumia, em média, 30 gramas por ano. Passadas mais de duas décadas, o consumo passou para cerca de 160 gramas — cinco vezes mais.
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