Inovação
Epamig desenvolve cultivar de trigo para alimentação animal que pode reduzir custos
MGS Brilhante oferece alta proteína e fibra digestível, sendo uma alternativa mais sustentável para pecuaristas em Minas Gerais

Paloma Custódio | Brasília
20/01/2025 - 08:00

Uma cultivar de trigo desenvolvida pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) é apontada como excelente escolha para suplementar a alimentação de bovinos. Só em 2024, foram produzidas 60 toneladas de sementes de MGS Brilhante e aproximadamente 20 toneladas já foram comercializadas.
Segundo a Epamig, o MGS Brilhante pode ser utilizado sem nenhuma restrição e em qualquer quantidade, seja puro ou misturado em diferentes proporções com a silagem de milho. Além de ser usada na suplementação, a cultivar de trigo também é uma boa opção para produção de forragem na safrinha, visando complementar a silagem de milho e fazer cobertura de solo e rotação de culturas na entressafra.
Os estudos com gado de leite ainda estão em curso, mas, para gado de corte, os resultados indicam que não há diferença no peso entre os animais tratados com silagem de trigo MGS-Brilhante e outras silagem.
As pesquisas mostram que o alto teor de proteína do cereal pode reduzir a incorporação de outras fontes de proteínas, diminuindo o custo da dieta dos animais. Além disso, a fibra longa de alta digestibilidade estimula a maior ruminação dos animais, favorecendo a absorção e o aproveitamento dos nutrientes contidos na dieta.
Ao Agro Estadão, o agrônomo e pesquisador da Epamig Maurício Coelho elencou as principais vantagens da cultivar de trigo MGS Brilhante para alimentação de gado de corte.
- Custo significativamente inferior ao cultivo das forragens tradicionais de milho e sorgo;
- Alta tolerância ao déficit hídrico, o que permite a produção tanto no sistema de cultivo sequeiro (sem irrigação), quanto irrigado;
- Tolerância ao calor, o que permite a semeadura em todas as regiões de Minas Gerais, inclusive no noroeste de Minas, Vale do Jequitinhonha e norte de Minas. A semeadura pode ser realizada entre março e final de junho;
- Possibilidade de ocupação de áreas normalmente ociosas na entressafra, proporcionando ao produtor oportunidade de fazer rotação de culturas;
- Fibra de alta digestibilidade pelos animais;
- Alto teor de proteína, variando de 12 a 14% de proteína bruta na matéria seca;
- Porte alto, proporcionando elevado rendimento de matéria verde, com produtividades superiores a 40 toneladas por hectare em cultivos irrigados;
- Ausência de aristas (estruturas anatômicas pontiagudas e recalcitrantes presentes nas espigas de trigo tradicionais, que causam pequenos ferimentos no rúmen dos animais).





Custo de produção da nova cultivar de trigo é até 40% mais barato
A Epamig estima que o custo de produção da tonelada de silagem do MGS Brilhante seja em torno de 40% mais barato que o da silagem de milho, por exemplo. O agrônomo Maurício Coelho explica que vários fatores contribuem para essa vantagens, entre eles: o menor custo das sementes, que podem ser até 50% mais baratas em comparação com as de milho; o baixo custo com controle de plantas daninhas; a reduzida incidência de pragas na cultura; e a baixa ocorrência de doenças nas condições climáticas do Brasil Central entre março e setembro, período caracterizado por um clima mais seco, o que diminui significativamente os gastos com fungicidas.
“Na grande maioria das unidades demonstrativas implantadas com a cultivar de trigo MGS-Brilhante nas regiões Sul de Minas, Zona da Mata, Centro de Minas, Vale do Jequitinhonha, Norte de Minas, Noroeste de Minas, Alto Paranaíba e Triângulo Mineiro, não temos utilizado aplicação de nenhum herbicida, inseticida ou herbicida”, ressalta o pesquisador da Epamig.
Além disso, ele afirma que a cultivar pode ser implantada com semeadura a lanço, cultivo mínimo (preparo do solo apenas com gradagem) ou plantio direto.
Sustentabilidade
Maurício Coelho afirma que o cultivo de trigo interrompe o ciclo de sobrevivência das principais doenças e pragas que afetam as culturas de verão, como soja e milho. Isso ocorre porque esses organismos não encontram no trigo um ambiente propício para se reproduzirem ou sobreviverem. Como consequência, a pressão dessas pragas e doenças nas culturas seguintes é reduzida, diminuindo a necessidade de aplicações de agrotóxicos.
“A alta relação carbono/nitrogênio do caule da palhada do trigo retarda sua decomposição, inviabilizando a multiplicação das principais doenças da soja e milho. A cigarrinha, principal praga da cultura do milho atualmente, não tem a cultura do trigo como hospedeira”, explica.
Além disso, os estudos da Epamig mostram que a alta densidade de plantas por área plantada de trigo MGS Brilhante permite que o solo permaneça com um grande volume de palhada residual após a colheita, o que traz benefícios como:
- Redução de perdas de água do solo por evaporação;
- Incremento de matéria orgânica no solo e, consequentemente, aumento da retenção de umidade e diversidade biológica no solo;
- Redução de germinação de plantas daninhas e, consequentemente, diminuição do uso de herbicidas no preparo das áreas para a semeadura das culturas de verão.
Demanda fora de Minas Gerais
Além das 60 toneladas de sementes produzidas no ano passado em Minas Gerais, a Epamig observou uma crescente demanda pela cultivar MGS Brilhante por pecuaristas de outros estados. Segundo o pesquisador Maurício Coelho, os resultados das pesquisas com gado de corte, apresentados em vários eventos técnicos e científicos, mostraram a viabilidade do uso da silagem de trigo como opção para ganho de peso animal, seja isoladamente ou misturada em diferentes proporções com a silagem de milho.
“As Unidades Demonstrativas implantadas em todas as regiões do estado de Minas Gerais, com o apoio da Emater-MG, permitiram levar ao conhecimento dos produtores de todas as regiões mineiras a utilização do trigo como opção de produzir forragem na safrinha”, destaca.
Outro ponto que chamou a atenção dos pecuaristas de fora de Minas Gerais é a adaptabilidade da cultivar MGS-Brilhante em diversos ambientes, especialmente regiões mais quentes — como norte de Minas e Jequitinhonha — e regiões mais frias — como sul de Minas —, o que abre possibilidades para seu cultivo em outros estados do país.
“A Epamig já multiplica sementes genéticas, básicas e certificadas, o que permite que a empresa possa comercializar diretamente suas sementes com produtores de Minas Gerais e fora do estado. A Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais também busca parcerias com empresas especializadas em multiplicar e comercializar sementes para atender as demandas desse mercado”, ressalta Coelho.

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