Inovação
BRS Karajá: conheça a nova cultivar de amora que pode diminuir tempo de colheita em 30%
A BRS Karajá também pode ser uma escolha para o jardim; nova cultivar de amora é a melhor entre as que não têm espinhos
Daumildo Júnior | Brasília | daumildo.junior@estadao.com
27/08/2024 - 05:00

Uma das novidades da Expointer deste ano é o lançamento da cultivar de amoreira-preta BRS Karajá. Desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), a planta promete aumentar a eficiência na colheita em até 30%, já que não possui espinhos nas hastes e folhas. Além disso, ela apresenta parâmetros de doçura e produtividade semelhantes a Tupy, variedade mais plantada comercialmente no país.
A pesquisadora e coordenadora do programa de melhoramento genético em amoreira-preta, Maria do Carmo Bassols Raseira, conta ao Agro Estadão que a espécie de amora preta – também conhecida como blackberry – costuma ter muitos espinhos. Isso dificulta a colheita, que é manual, além de outros tratos, como a poda, pois é necessário segurar as ramas para fazer os cortes.
“Sem espinhos acelera esse processo [de colher]. Não precisa usar luvas. Por isso, ela [colheita da BRS Karajá] é bem mais rápida. Os tratos culturais e a colheita diminuem o tempo [desses tratos] em cerca de 30%”, afirma Raseira, da Embrapa Clima Temperado.
Além disso, ela apresenta algumas outras vantagens para o produtor e é considerada a melhor cultivar de amoreira-preta sem espinhos já desenvolvida pela Embrapa – as outras são BRS Ébano, de 1981, e BRS Xavante, de 2004.
O que a BRS Karajá tem de diferente das outras?
A pesquisadora aponta que além da ausência de espinhos, a outra característica que torna a BRS Karajá única é ter as hastes bem eretas. Isso também ajuda a dar mais agilidade à colheita.
Porém, existem outros benefícios:
- Produtividade comparada à variedade Tupy, mais plantada no Brasil: nos testes realizados, quando a BRS Karajá tem o suporte de espaldeiras e recebe irrigação em tempos de seca, a produção média por hectare é de 18 toneladas. Já a BRS Tupy apresenta uma produtividade de 18 a 20 toneladas por hectare quando tem as melhores condições de plantio.
- Precocidade de ciclo: em comparação a Tupy, a nova cultivar tem um ciclo antecipado de três a quatro dias, o que não é muito. Porém, frente às outras variedades sem espinhos, o ciclo chega a ter dez dias de antecedência.
- Teor de amargor: uma das características observadas nas amoras é o teor de amargor. Na comparação com as cultivares sem espinhos, ela apresenta a menor percepção do amargo. Além disso, a BRS Karajá e a Tupy apresentam níveis de doçura e acidez bem próximos. Isso também ajuda na comercialização da fruta.
- Adaptação ao Sul e Sudeste: os testes conduzidos pela Embrapa aconteceram na Região Sul. Porém, devido a semelhanças com a Tupy, a BRS Karajá também poderá ser implementada em cultivos no Sudeste. A pesquisadora também acredita ser possível explorar a cultivar em outras áreas do país, já que a necessidade de frio da planta é menor.
Com mais eficiência, mas barato fica para colher
Um dos efeitos esperados para os produtores que adotarem a nova cultivar é a diminuição do custo de produção. Segundo Raseira, um dos gastos mais dispendiosos do produtor de amora é a mão-de-obra. A nível de comparação, os produtores das regiões serranas gaúchas costumam pagar R$ 1,50 por quilo colhido. Em um hectare, os agricultores chegam a pagar de R$ 2.700 a R$ 3.375 para cada pessoa.
“O mais caro no cultivo da amora é a mão de obra. […] A colheita diminuindo em 30% o tempo, já dá um lucro maior no final”, acrescenta a pesquisadora da Embrapa. Ela também conta que há casos de produtores não conseguirem o número ideal de pessoas.
“Eu sei de produtores que dizem não conseguir mão de obra, porque normalmente essa colheita é feita por mulheres. E claro, elas não querem se arranhar todas. Então, às vezes é difícil conseguir uma mão de obra em quantidade suficiente, porque um hectare requer de oito a dez pessoas para colher”, comenta.


Nova cultivar de amora também pode ser usada em jardins
Por ser uma planta de arbustos, uma aplicação não convencional da BRS Karajá é como planta ornamental. Ela pertence à mesma família das roseiras, a Rosaceae. “Ela é uma planta bonita. Então, se encaixa para quem quer plantar no jardim, por exemplo, e é da mesma família da roseira e as flores são bem bonitas”, explica Raseira.
O cultivo também não é considerado difícil, mas é recomendado plantar fazer mudas antes de fazer o plantio definitivo da amoreira. Além disso, essa é uma planta que costuma dar frutas um ano após o plantio.
A especialista dá algumas dicas:
- Plantar a muda no inverno;
- Depois da colheita, fazer uma poda rente ao chão no verão e fazer uma poda no inverno deixando apenas os melhores ramos (como ela tem sistema radicular perene, as podas vão ajudar na produção);
- Para os produtores, também é importante fazer um estudo de mercado para saber como será a venda das amoras. A pesquisadora estima que 90% da produção atual é destinada para a indústria de processamento ou para congelamento das frutas. Por isso, é importante ter essas informações antes de começar um pomar comercial.
Onde comprar mudas da BRS Karajá?
As mudas da nova cultivar podem ser adquiridas atualmente em dois viveiros especializados, segundo a Embrapa:
Frutplan Mudas – Pelotas (RS): Telefone: (53) 32777035 | E-mail: frutplan@frutplan.com.br
Guatambu Mudas – Ipuiuna (MG): Telefone: (35) 99992-3501 | E-mail: guatambu.mudas@gmail.com
Siga o Agro Estadão noGoogle News e fique bem informado sobre as notícias do campo.
Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Inovação
1
CONTEÚDO PATROCINADO
Manual do irrigante: conheça o guia para quem quer irrigar com precisão e produtividade
2
Pesquisa descobre fungo com ação superior a herbicidas como glifosato
3
Tecnologia da soja ganha nova função em florestas
4
Pesquisa quer transformar algas marinhas em atum vegetal; entenda
5
Conheça os tratores premiados na Agritechnica, na Alemanha
6
Baldan conclui primeira venda com criptomoedas e inaugura nova fase digital
PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas
Inovação
Sistema antigranizo: prefeitos do RS querem tecnologia para evitar perdas no agro
Após prejuízos milionários, cidades gaúchas se mobilizam para instalar tecnologia usada em Santa Catarina há décadas; veja como funciona
Inovação
Castanha-do-brasil vira farinha “turbinada” e rende proteína texturizada
Pesquisa revela que ingrediente amazônico pode substituir a farinha de trigo em produtos plant-based com boa aceitação do público
Inovação
Pesquisa quer transformar algas marinhas em atum vegetal; entenda
A economia ligada ao mar movimenta cerca de US$ 1,5 trilhão ao ano, com expectativa de dobrar até 2030, aponta a Embrapa
Inovação
Safra de soja 27/28 deve ter nova geração de semente com maior controle de daninhas e lagartas
Testes começam na próxima safra, mas ainda faltam autorizações nos países exportadores, o que empurra a comercialização para mais adiante
CONTEÚDO PATROCINADO
Manual do irrigante: conheça o guia para quem quer irrigar com precisão e produtividade
Desenvolvido pelos especialistas da Netafim, o manual reúne fundamentos essenciais no processo de se tornar um irrigante no Brasil
Inovação
CB Bioenergia recebe licença para operar usina de etanol de trigo no RS
Com 150 mil metros quadrados, usina tem capacidade produtiva mensal de mais de 1,3 milhão de litros de etanol hidratado e 1,14 milhão de álcool neutro
Inovação
Pesquisa descobre fungo com ação superior a herbicidas como glifosato
Substância inédita isolada do fungo Fusarium demonstra potente ação herbicida e antifúngica
Inovação
Cana: IAC lança duas novas variedades para o Centro-Sul
Alta produtividade e resistência são destaques das variedades para cultivo mecanizado