Sonho de infância faz professor largar magistério para ser produtor de leite
Agricultor familiar começou com três vacas e 11 litros de leite. Hoje ordenha mais de 300 litros de 25 animais
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07/02/2024
Por: Daumildo Júnior | daumildo.junior@estadao.com
Vendo o pai lidar com a produção de leite desde que nasceu, o baiano Jorgevan Menezes, 47, segue os mesmos passos, quando largou a profissão de professor de Educação Física para retornar à roça, em dezembro de 2001.
“A gente nasceu e conviveu vendo ele fazer isso (tirar leite). Aí vai aprendendo aos pouquinhos. E quando eu me formei, logo casei e tinha que arrumar um dinheiro para sustentar a casa e a família, e fui ensinar. Mas não era bem o que eu gostava. Depois de quatro anos desisti e vim cuidar de um terreninho que eu tinha”, conta o produtor de leite.
O que começou como forma de sustentar a família recém-criada, cresceu e se tornou um empreendimento. Hoje, a propriedade localizada em Miguel Calmon (BA) tem 25 vacas ordenhadas e produz uma média mensal de 300 a 350 litros de leite por dia. Jorgevan relembra quando iniciou e foi juntando dinheiro para melhorar a propriedade.
“Quando eu vim embora, meu terreno era pequenininho. Não tinha quase nada. Dinheiro era curto. Tinha três vaquinhas no terreno do meu pai, trouxe para cá e comecei a tirar um leitinho e vender só um pouquinho de leite (cerca de 11 litros por dia). Trabalhava três dias na semana no terreno dos outros para poder inteirar o dinheiro da feira. Fui levando a vida assim. Depois aumentei as vacas, melhorando o gado, e estou aqui até hoje nessa luta”, diz.
Comparando a época do seu pai com os dias de atuais, o produtor baiano diz que “aquele tempo era melhor, chovia mais e não tinha esse tanto de coisa que tem hoje”. Mas também pontua o que avançou de lá para cá, como um gado de melhor qualidade e aumento da produção. Antes, o costume era ordenhar uma vez ao dia sem o auxílio de aparelhos, hoje, são feitos dois ciclos de ordenha e há mais tecnificação.
Aprendendo e colocando em prática
Em 2023, o produtor de leite lembra que passou por uma situação de seis meses de estiagem na região. Segundo o relato, “muitos criadores perderam o rebanho quase todo”, mas a propriedade dele conseguiu passar pelo tempo ruim devido à silagem e à palma forrageira, cactácea que serve como alimento para rebanhos nas regiões semiáridas e áridas nordestinas.
Ele explica que um dos pontos de virada e que o ajudaram a manter o gado e a produção foram os cursos de alimentação para o rebanho oferecidos pelo Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural). “O que foi que melhorou mais a gente foi tomar cursos e aprender, fazendo visita nas fazenda e botando em prática. Aprendendo e aplicando na prática”, lembra.
Além da capacitação sobre novas formas de alimentação, o produtor teve cursos de inseminação e manejo de gado. Toda essa bagagem tem auxiliado a manter a produção.
Mesmo com os desafios, o produtor agradece pelo o que tem conquistado. “Graças a Deus é isso que eu sei fazer, é isso que eu gosto e é o que sustenta a minha família até hoje. E não dá pra gente passar mal não”, ressalta. Ele também deixa um recado: “se você ficar parado e não se atualizar, as coisas não melhoram”.