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Silvia Massruhá: "Agradecemos as flores, mas queremos respeito"

Queremos falar a todas as mulheres, mas especialmente àquelas que atuam na ciência, na agricultura e no extrativismo.

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Silvia Massruhá - Presidente da Embrapa

08/03/2024 - 08:30

Presidente e diretoras da Embrapa. Foto: Larissa Morais/Embrapa
Presidente e diretoras da Embrapa. Foto: Larissa Morais/Embrapa

Pelo reconhecimento às mulheres na ciência e na agricultura, precisamos que este Dia Internacional da Mulher seja mais do que flores e cartões. Queremos falar a todas as mulheres, mas especialmente àquelas que atuam na Ciência, na agricultura e no extrativismo. Mulheres do campo, das águas e das florestas: lugar de mulher é onde ela quiser. 

A força maior deste slogan que, erroneamente, pode parecer só mais um clichê, está em evidenciar a capacidade das mulheres de ocuparem espaços e terem atuação de destaque em áreas onde, historicamente, o protagonismo é dos homens. Ou são atribuídos e reconhecidos culturalmente como sendo apenas deles. O ambiente rural e o meio científico são exemplos em que essa visão ainda perdura em nossa sociedade. E isto apesar de as mulheres já terem tido e seguir tendo protagonismo e atuação de destaque, tanto no campo científico em geral quanto na pesquisa agropecuária em particular. 

Marie Curie descobriu elementos químicos e a radioatividade, que redefiniram o curso de medicina diagnóstica mundial – para citar apenas um campo de aplicação dos achados resultantes do seu trabalho em parceria com o marido, Pierre Curie. Por mais de 50 anos, ela manteve-se como única pessoa laureada com o Prêmio Nobel em duas categorias distintas: Física (1906, premiação compartilhada com Pierre) e Química (em 1911). Apenas em 1962, o ativista e químico norte-americano Linus Carl Pauling equiparou-se à cientista de origem polonesa nesta distinção, ao receber o Nobel da Paz, que somou-se ao de Química recebido por ele em 1954. 

No Brasil, a pesquisadora da Embrapa Johanna Döbereiner, que completaria 100 anos em 2024, se dedicou incansavelmente à compreensão da Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN). As inovações que conduziu foram fundamentais para a competitividade da soja brasileira e para o destaque do país na adoção de bioinsumos na agricultura. Os impactos da incorporação desta inovação impressionam ano a ano. Os dados mais recentes, do último Balanço Social da Embrapa, indicam que, somente no ano de 2022, no Brasil, os agricultores economizaram R$ 72 bilhões em fertilizantes com a adoção de FBN. 

Foto: Saulo Coelho/Embrapa

Avançamos como sociedade, sem dúvida. As mulheres já ocupam mais espaços e têm seu protagonismo visto e reconhecido em diferentes setores. Embora retrocessos sempre possam ocorrer, no panorama geral, estamos num ponto em que há mudanças inegavelmente consolidadas. Na Embrapa, pela primeira vez, temos uma presidente, duas diretoras e 38% das mulheres pesquisadoras com o nível de doutoramento. E foram necessários 50 anos para chegarmos a essa composição. Ainda na esfera científica nacional, podemos citar a Academia Brasileira de Ciência (ABC), em que esse período foi mais que o dobro: somente aos 106 anos de existência uma mulher chegou ao topo da hierarquia na principal instituição de Ciência no Brasil. Em 2022, a biomédica Helena Nader assumiu o cargo na mesma ABC onde, em 1995, Johanna Döbereiner foi a primeira mulher a ser vice-presidente. E depois de cem anos, a socióloga e pecuarista Teresa Vendramini se tornou a primeira mulher a presidir a Sociedade Rural Brasileira, em 2020.

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É preciso alcançar um patamar em que Marie Curie e Johanna Döbereiner deixem de ser lembradas como provas da competência e capacidade femininas, seja como excepcionalidades, seja como reforço para argumentos falaciosos. E quando chegaremos a tal patamar? Quando a frase “lugar de mulher é onde ela quiser” for tão naturalizada que não será mais um slogan, clichê ou palavra de ordem. Simplesmente porque expressará a realidade.  

É preciso, sobretudo, que Curie e Döbereiner deixem de ser lembradas por mero casuísmo, quando suas trajetórias e conquistas são apontadas para reforçar o argumento de quem acredita e propaga que já há igualdade entre homens e mulheres. Porque o estágio que almejamos alcançar como sociedade é o de plena equidade entre os gêneros, em que homens e mulheres tenham as mesmas oportunidades e disputem em igualdade de condições. 

Para alcançarmos esse estágio, é indispensável a adoção de medidas que corrijam distorções, causas primárias da desigualdade de oportunidades e condições que fazem com que mulheres progridam mais lentamente do que homens, além de se depararem com mais empecilhos do que eles quando almejam atingir o topo de suas carreiras. Em âmbito nacional, tais medidas têm como pilares Políticas Públicas e Programas de Governo. No âmbito de empresas e instituições de pesquisa como a Embrapa, se concretizam a partir de normas internas e decisões institucionais que, idealmente, possam repercutir nas outras esferas da vida de empregados e empregadas, para além da estritamente profissional. 

Temos o compromisso de discutir, propor e implementar novas medidas que responsabilizem, impliquem e conscientizem todos e todas. Nesse sentido é que reforçamos a (ainda) palavra de ordem “lugar de mulher é onde ela quiser” como um chamamento para a prática: ocupemos novos e mais lugares. Homens: nos deem flores, sim. Mas antes de tudo, respeitem, considerem e reconheçam os conhecimentos e habilidades profissionais das mulheres. O dia 8 de março deve ser todos os dias.

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