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A dona da cabanha

Conheça Mariana Tellechea, a primeira mulher a comandar a Associação Brasileira de Angus

4 minutos de leitura

08/03/2024

Por: Fernanda Farias | fernanda.farias@estadao.com

Mariana Tellechea em meio a rebanho
Foto: Arquivo Pessoal

Calmo e pausado, o tom de voz conduz o interlocutor a uma conversa em que ela é a protagonista. Assim, Mariana Tellechea atrai e mantém a atenção enquanto fala sobre uma verdadeira paixão: a pecuária. 

Na infância, Mariana viu o avô e o pai criarem bovinos angus e brangus, além de cavalos crioulos. Aos 12 anos, ela começou a sua criação oficialmente. Num leilão que acontecia bem no dia do aniversário, a menina teve o pedido atendido pelo pai. 

“Ele perguntou o que eu queria. Quero ganhar uma vaca vermelha! Foi a minha primeira Red Angus de pedigree e, com ela, comecei o meu plantel”, contou Mariana ao Agro Estadão

Era início de tarde de uma segunda-feira e ela estava no escritório de uma das fazendas em Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, na fronteira do Brasil com Argentina e Uruguai. Em alguns momentos, a filha Lila comentava algum assunto da entrevista e as duas riam – mesmo sem ver as duas juntas, dava para perceber a relação de cumplicidade e parceria entre mãe e filha. 

Formada em Medicina Veterinária (e na formatura, o presente foi uma égua crioula!), Mariana conta que nunca teve dúvidas sobre o que queria fazer e com o que queria trabalhar. “Faz parte da minha vida”, resume a mulher que, aos 27 anos, assumiu os negócios da família.

Sempre gostei de trabalhar no campo com grandes animais. E hoje sigo com ajuda da minha filha e do meu genro, mantendo os valores de preservação da natureza, de respeito aos animais, de respeito aos nossos ancestrais que trabalharam muito para ter o que nós recebemos”, afirma Mariana.

Lila e Mariana Tellechea
Mariana Tellechea (com a cuia de chimarrão) e a filha, Lila. Foto: Arquivo Pessoal.

Mariana Tellechea é a primeira mulher a comandar a ABA, associação de bovinos angus criada pelo pai, Flávio Tellechea, há 60 anos 

A raça bovina Angus é reconhecida no mundo inteiro pelo sabor e maciez da carne. Em 2023, a Associação Brasileira de Angus completou 60 anos e, coincidência ou não, ganhou a primeira presidente mulher da história. 

Mariana Tellechea ocupa o cargo que já foi do irmão, do cunhado e do pai – Flávio Tellechea, o fundador da ABA. Antes de ser eleita presidente, ela havia participado de duas diretorias e diz que, independentemente do cargo, o carinho pela associação é muito grande.

“Eu estou muito feliz de estar nessa oportunidade, de poder aprender um pouco mais e doar um pouco da experiência de trabalho”, diz a pecuarista. “Quero sempre colaborar para que a associação continue a evoluir. Vejo um horizonte muito bom para a ABA e para a raça”, completa.

Os desafios da pecuária no Brasil

As exportações de carne angus cresceram 68% em 2023, diante do ano anterior, segundo a ABA. A presidente da entidade conta que a China segue sendo o principal mercado (47%), seguida de Emirados Árabes (21%) e Estados Unidos (13%). Mas outros mercados também compram a carne angus brasileira, como República do Congo, Espanha, e Ilhas Maldivas, cujo primeiro carregamento aconteceu no dia 5 de março. 

“O diferencial da carne angus, esse marmoreio, gordura, faz dela um produto top, com excelente sabor e qualidade, que o mercado reconhece”, avalia Mariana. Ela afirma que o uso das tecnologias é fundamental para  produzir melhor com as mesmas áreas, usando tecnologias.  “A pecuária tem muito menos risco que a agricultura e quando trabalha com genética melhorada, as garantias são maiores. 

Para Mariana, o principal desafio para a pecuária no Brasil é conseguir trabalhar com boa rentabilidade, boa produção e bom manejo de solo. Temos ferramentas para produção de pastagem, melhoramento genético, para ter mais rentabilidade nas fazendas e escolher as raças que possam entregar o melhor resultado. No nosso caso, é angus e brangus”, completa. 

Selo Sustentabilidade e eficiência alimentar na raça angus 

Como presidente da Associação Brasileira de Angus, Mariana tem projetos prioritários até o fim da gestão, em dezembro de 2024. Um deles é o Selo de Sustentabilidade, desenvolvido em conjunto com a Embrapa e uma certificadora alemã. Dez propriedades já conquistaram o selo e outras estão na fila de espera.

Nos projetos da gestão, Mariana destaca, ainda, testes de eficiência alimentar, em que testes são feitos para identificar os animais que ganham mais peso com menor ingestão de alimentos; testes de emissões de carbono, para ver se existe alguma linhagem que emite mais ou menos carbono; além da pesquisa para resistência ao carrapato.

A dona da cabanha que também é vovó

Apaixonada pelo trabalho, a presidente da ABA faz a gestão de três fazendas e quase 30 funcionários. Apesar de morar na cidade, passa a maior parte do tempo no campo. “Minhas três netinhas também vêm pra cá!”, conta a “vovó” Mariana. 

Com a trajetória de uma mulher forte e líder, Mariana diz que as mulheres já consolidaram o seu espaço em um meio onde a maioria é de homens. “Não é mais por acaso que viramos líderes – as mulheres querem, se preparam, estudam e tornam-se profissionais muito qualificadas”, diz. 

Como exemplo para a família e para as mulheres que caminham junto com ela, Mariana deixa o recado. “Procuro passar os valores de humildade, de trabalho, de respeito às pessoas e respeito às equipes, dando respaldo, estando ao lado da equipe solucionando crises se for preciso. Cada vez mais, a gente não faz nada sozinho”, conclui.

mariana tellechea
Mariana e a filha, Lila. Arquivo Pessoal.

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