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Silvia Massruhá: Os desafios da Embrapa para os próximos 50 anos
A Embrapa comemora 51 anos em 26 de abril e orienta esforços para os próximos 50 anos, com claras diretrizes, sustentadas em três pilares: Sustentabilidade ambiental, econômica e social; Inclusão digital e socioprodutiva; Vanguarda científica e institucional
Silvia Massruhá - Presidente da Embrapa
25/04/2024 - 05:00

A Ciência é um dos pilares da pujança do setor agroalimentar brasileiro. Somos líderes mundiais na produção de alimentos, com destaque na geração de conhecimento científico para a agricultura tropical. Cinco grandes transições globais marcam o contexto atual: a revolução digital, a emergência climática, a pressão sobre sistemas produtivos agroalimentares, a transição alimentar e a necessária transição energética. Realidades que demandam abrir novas frentes e ampliar aquelas que a pesquisa agropecuária brasileira percorreu até aqui. Estamos cientes de que o futuro é agora.
Reflexos da mudança do clima e eventos extremos são uma realidade que ameaça culturas essenciais para a segurança alimentar, com graves consequências econômicas e sociais para o mundo. Segundo a FAO, até 2050, será preciso incrementar em 60% a produção mundial de alimentos para atender 9,3 bilhões de pessoas. É inadiável a substituição célere de combustíveis fósseis por fontes renováveis de energia. E no Brasil, a biomassa responde por apenas 8,55% da matriz energética. Apesar da revolução digital ser real, inclusive na agricultura, ainda temos muito trabalho pela frente: o estudo “Conectividade Significativa” divulgado este mês pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil revela que 54% da nossa população rural não têm condições mínimas para acessar a internet.

Diante deste cenário desafiador, o avanço científico tem potencial para aumentar a produção de alimentos e a oferta de matérias-primas para a geração de energia limpa, impulsionar a conservação de recursos naturais e tornar os sistemas agroalimentares e florestais mais resilientes e adaptados às mudanças do clima. O Brasil é líder na adoção de insumos de base biológica, o que reduz o uso de fertilizantes químicos e agrotóxicos, com impacto positivo no ambiente e na saúde humana, além de potencializar o ganho econômico. Apenas na cultura dasoja, bioinsumos são aplicados em 21% das áreas cultivadas no país. Em 2023, a Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN) adotada em 43 milhões de hectares, gerou uma economia de R$ 9,5 bilhões para os produtores.
Inspirados por inovações que contribuíram para revoluções no campo, a Embrapa comemora 51 anos em 26 de abril e orienta esforços para os próximos 50 anos, com claras diretrizes, sustentadas em três pilares: Sustentabilidade ambiental, econômica e social; Inclusão digital e socioprodutiva; Vanguarda científica e institucional.
A sustentabilidade orienta todos os nossos projetos de pesquisa e inovação. Temos soluções para aumentar a produção de alimentos, fibras e energia sem avançar sobre áreas de vegetação nativa, reduzindo a pressão sobre todos os biomas. A iniciativa Integra Carbono, fruto de um esforço da ciência agropecuária, une a expertise em pesquisas e soluções para medir a emissão e a remoção de gases do efeito estufa pelas atividades rurais no Brasil. O foco é criar métricas e indicadores confiáveis, com base em ciência, adequados às condições da agricultura tropical brasileira. Vamos gerar protocolos alinhados a padrões internacionais para ajudar o país a comprovar os impactos positivos de tecnologias e práticas sustentáveis.
No quesito inclusão, é prioridade para a Embrapa prover acesso ao melhor da ciência e da tecnologia a produtores rurais de todos os portes. Mais do que tecnificar médias e pequenas propriedades rurais, é preciso incluir produtiva, social e digitalmente estabelecimentos e comunidades inteiras, e, também, abarcar nesta equação a valorização das comunidades locais, além do respeito às preferências alimentares e às especificidades culturais das populações e dos territórios que habitam.
Incluir é uma tática para combater a fome, promover a bioeconomia, conservar a biodiversidade e ainda manter as pessoas no ambiente rural com qualidade de vida e respeito ao ambiente. A Denominação de Origem do café das Matas de Rondônia é um exemplo do que precisa ser feito para incluir comunidades rurais no mercado. Ampliar a inclusão é, ainda, uma forma de garantir um futuro solidamente digital para a agropecuária brasileira.

Apostamos na convergência de átomos, genes, bits e neurônios, agregando mais valor aos nossos sistemas de produção. Exemplos vão do consolidado zoneamento agrícola de risco climático até nossa mais recente iniciativa: o Centro de Inteligência (Agro i), que nasce com a missão de integrar dados e consolidar uma visão uníssona da agricultura sustentável brasileira para todo o planeta.
A Embrapa atua na fronteira do conhecimento científico em pesquisa agropecuária, na vanguarda mundial. Nossos pesquisadores integram redes globais de excelência. Dominam técnicas de ponta em edição genômica, fenotipagem digital, biologia sintética, engenharia genética, bioinformática, inteligência artificial, machine learning, física e computação quântica, robótica, big data, internet das coisas, agricultura digital e de precisão. Se parecem distantes da nossa realidade, fato é que esses termos integram nossos experimentos em campo e laboratório. Mas nada disso é possível sem cérebros e ferramentas. O grande desafio de uma instituição como a Embrapa é se manter nessa posição, o que só é viável com financiamento robusto e constante. Recursos aplicados em pesquisa e inovação para o setor agroalimentar são investimentos que asseguram a produção sustentável de alimentos e energia. São uma garantia mínima para o enfrentamento à fome, garantir a soberania nacional e assegurar a relevância do Brasil em um mundo cada vez mais competitivo.

Ao projetarmos o meio século que temos pela frente, estamos seguros do papel estratégico da Embrapa como empresa estatal de pesquisa. E reafirmamos a importância do financiamento público da Ciência. Mais do que nunca, somos instados a pensar nos desafios e oportunidades para a produção agrícola mundialmente e no papel determinante da ciência e tecnologia brasileiras no cenário atual e das próximas décadas.
Proposições para enfrentar esses desafios e refletir sobre as oportunidades para a ciência agrícola tropical estarão no centro das discussões organizadas pela Embrapa durante o Meeting of Agricultural Chief Scientists, G20-MACS. O encontro anual das organizações de pesquisa agropecuária dos países do G20 ocorre em Brasília, de 15 a 17 de maio, quando, em alinhamento com a agenda global, vamos contribuir para a construção de um caminho mais justo e sustentável para os próximos 50 anos. O futuro é agora!
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