Economia

Receita líquida do produtor de soja pode cair 130% nesta safra, diz pesquisa

Segundo instituições de pesquisa, produtor deve carregar prejuízos da atual safra por alguns anos

4 minutos de leitura

02/04/2024

Por: Daumildo Júnior | daumildo.junior@estadão.com

Soja
Foto: Adobe Stock

Os dados de uma pesquisa feita pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) em parceria com o Sistema Senar e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) indicam que a receita líquida operacional do produtor de soja pode ter uma queda de 130% na atual safra em relação à anterior. 

As informações foram apresentadas nesta terça, 02, na sede da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) e da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), em Brasília (DF). Foram considerados dados de cinco polos produtores de soja e milho: Sorriso (MT), Rio Verde (GO), Dourados (MS), Cascavel (PR) e Carazinho (RS). A região que apresentou a maior queda (130%) na receita líquida operacional da produção de soja foi a de Sorriso (MT). 

O levantamento considerou uma média de produção de 50 sacas por hectare. Nessas condições, os produtores de Sorriso (MT) precisariam vender a saca por no mínimo R$ 105 para conseguir pagar as despesas de produção, sendo que o preço do grão chegou a ser negociado a R$ 80 a saca. Ainda assim, os dados de produtividade são uma média e há relatos de produtores que colheram abaixo de 30 sacas por hectare, o que exigiria um preço da saca acima de R$ 150 somente para pagar os custos.  

Em Rio Verde (GO), Dourados (MS), Cascavel (PR) também se prevêem quedas respectivamente de 86%, 89% e 87,2%. Carazinho (RS) tem projeção positiva de aumento da receita de 171,2%, justificada pela boa produtividade no Rio Grande do Sul, já que as últimas duas safras foram de prejuízo para os produtores gaúchos. 

Por que a safra 23/24 é considerada o “pior cenário”

A explicação do pesquisador do Cepea, Mauro Osaki, é de que houve uma combinação de fatores que causaram “o maior prejuízo em 25 anos” para Sorriso (MT). Além dos efeitos do El Niño na produtividade, com estiagens mais prolongadas no Centro-Oeste, o preço das commodities atingiu patamares bem abaixo dos observados na safra 22/23. 

Outro ponto foi que os insumos agrícolas (sementes, defensivos, fertilizantes) tiveram uma queda em relação ao plantio anterior, porém se mantiveram em níveis elevados. Isso fez com que as margens dos produtores fossem achatadas.

“Eu considero a safra 23/24, dentro de um modelo de simulação, dentro da academia, o pior cenário que nós podemos passar: custos elevados, com um cenário de queda de preços e queda de produtividade. Dentro da probabilidade de acontecer, seria pequena, mas existiria, e ela configura este ano”, disse Osaki.

No caso do milho, a situação é um pouco melhor, mas ainda requer cuidado, já que a segunda safra ainda está em fase de desenvolvimento e os cálculos de produtividade levam em conta as chuvas nesse período. Para Sorriso (MT), o produtor de soja que conseguir ter uma produtividade de 120 sacas por hectare e vender a saca a R$ 40, já consegue pagar os custos da produção, mas não paga as contas da soja. 

Prejuízo de arrendatários pode ser maior

Os dados apresentados só levam em consideração os custos efetivos de produção e não incluem despesas com arrendamento de áreas e investimentos, como compra de máquinas agrícolas. Por isso, na visão do superintendente do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (IMEA), Cleiton Guer, a produtividade baixa no Mato Grosso, cerca de 52,81 sacas por hectare, a menor desde a safra 15/16, pode ter mais aspectos negativos.

“Se for colocar em uma conta simples, o produtor tem de 2 a 3 sacas de custo de compromissos de investimentos todos os anos. O cenário do arrendatário é ainda pior, porque ainda tem o compromisso que ele tem com a área”, afirmou Gauer. 

Carregamento da dívida

As pendências financeiras da safra 23/24 ainda não serão pagas na próxima safra, segundo as projeções do Cepea. Mantendo condições de preço e elevando a produtividade, ainda assim algumas regiões precisariam ter uma produtividade de 75 sacas por hectare para conseguir zerar todas as dívidas que serão carregadas da safra 23/24 e quitar os novos custos da safra 24/25. 

“Nós não temos ainda nenhum grande sinal de que o produtor vai conseguir saldar rapidamente pelo menos esse efeito negativo dessa safra 23/24”, indicou o pesquisador Mauro Osaki. 

Mesmo com a prorrogação das dívidas anunciada na semana passada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), o entendimento das entidades do setor é de que não será suficiente para todo o prejuízo. 

“É uma medida que ajuda, que é importante, para que o produtor consiga passar por esse momento de dificuldade. O ponto é que ele não resolve todos os problemas, porque esses produtores que vão ser mais impactados vão carregar essa dívida para a próxima temporada e em um cenário inicial com rentabilidade muito pior do que a gente projetou na atual temporada”, ponderou o superintendente do IMEA, Cleiton Gauer.

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