Economia
Exportação de café bate recorde de receita com R$ 6,86 bi em fevereiro
Apesar do menor volume embarcado, alta nos preços impulsiona faturamento do setor

Redação Agro Estadão
13/03/2025 - 16:01

O Brasil exportou 3,274 milhões de sacas de 60 kg de café em fevereiro de 2025, uma queda de 10,4% em relação ao mesmo mês do ano passado. No entanto, o setor bateu recorde em receitas cambiais com US$ 1,190 bilhão exportados no segundo mês de 2025, um avanço de 55,5%. Na conversão para o real, a receita foi de R$ 6,86 bilhões, registrando um crescimento de 81% na comparação com o mesmo período de 2024. Os dados são do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
O diretor-geral do Cecafé, Marcos Matos, avaliou, em vídeo, que o recorde em receitas foi impulsionado pela alta de 74% no preço médio do café, que alcançou US$ 363,60 por saca. Vale destacar que a queda em volumes e o aumento nas receitas cambiais do grão em fevereiro seguem a mesma tendência observada em janeiro passado, conforme apontado anteriormente pelo Cecafé.
Na análise bimestral, o Brasil embarcou 7,278 milhões de sacas de café, um recuo de 5,4% em relação ao volume exportado no mesmo período do ano passado. A receita, no entanto, cresceu 58,4% no agregado de janeiro a fevereiro, chegando a US$ 2,516 bilhão.
Em nota, o presidente do Cecafé, Márcio Ferreira, explica que, “embora as bolsas internacionais tenham recuado das recentes máximas, os preços atuais e as cotações médias dos últimos meses são significativamente maiores do que aqueles praticados no mesmo período do ano anterior, o que justifica os recordes em receita”.
No entanto, ele ressalta que o Brasil está em período de entressafra, tornando os diferenciais de preço dos cafés conilon e robusta menos competitivos em relação à bolsa de Londres. Esse cenário favorece outras origens produtoras, como o Vietnã, cujos grãos apresentam cotação consideravelmente mais atrativs do que a dos cafés canéforas brasileiros.
Ferreira completa que, da mesma forma, os arábicas nacionais estão mais caros frente aos diferenciais do produto de países da América Central na bolsa de Nova York. “Esses fatores devem seguir impactando o desempenho das exportações do Brasil, que podem seguir em menores volumes nos meses seguintes”, relata.
Redução do consumo global
O presidente do Cecafé destaca ainda que a redução no volume das exportações de café também pode ser atribuída a uma possível, e temporária, diminuição no consumo global da bebida, causada pelo impacto dos preços mais altos ao consumidor final. “Ainda que vejamos mais retrações nas bolsas, novas altas nos preços ao consumidor não devem ser descartadas, haja vista essa grande defasagem. Esses potenciais aumentos terão impacto direto na inflação das economias nos países consumidores, produtores ou não, e gerarão uma redução no consumo”, analisa.
Segundo Ferreira, a dificuldade de acesso ao crédito para os produtores tem se tornado um fator de grande impacto na redução do fluxo de comércio. “Essas alterações bruscas no preço, tanto interna, quanto externamente, têm gerado demandas recordes de recursos em dólares para a cobertura de margens de variação jamais vistas nos mercados de [contratos] futuros, o que pode ter impacto negativo nos preços”, avalia.
Tipos de café
Em fevereiro, as exportações de café arábica registraram uma leve queda de 2%, totalizando 2,77 milhões de sacas embarcadas. Já os cafés canéforas (conilon + robusta) sofreram uma redução significativa de 60% em relação ao mesmo mês de 2024, com 226 mil sacas exportadas. Por outro lado, o café solúvel apresentou crescimento de 7%, com embarque de 275 mil sacas.
Na avaliação bimestral, o café arábica continua liderando as vendas externas, com o envio de 6,069 milhões de sacas ao exterior. Esse montante equivale a 83,4% do total embarcado pelo setor, mas uma queda de 0,7% frente ao primeiro bimestre de 2024.
Na sequência, com 640.996 sacas remetidas para fora do país, estão os segmentos de café solúvel, com um incremento de 16,5% na comparação com janeiro e fevereiro de 2024. Esse tipo de produto foi responsável por 8,8% das exportações totais do setor no período atual.
Os cafés canéforas, com 559.928 sacas, foram responsáveis por 7,7% do total das exportações e registraram um recuo de 45,5% no bimestre. Já o produto torrado e o torrado moído, com 7.993 sacas, completam a pauta exportadora com 0,1% de representatividade e aumento de 63,9% nos embarques no período.

Safra 2024/25 mantém recordes
No acumulado de julho de 2024 a fevereiro de 2025, o Brasil exportou 33,452 milhões de sacas de café, um aumento de 8,8% em relação aos oito primeiros meses da safra anterior. O volume foi responsável por gerar US$ 9,723 bilhões em receitas para o país, um avanço de 59,8%. Segundo Marcos Matos, ambos desempenhos são os maiores da história registrada pelo Cecafé para esse intervalo de safra no Brasil.
Principais destinos
Os Estados Unidos foram o principal destino dos cafés do Brasil no primeiro bimestre de 2025, com a importação de 1,206 milhão de sacas, equivalendo a 16,6% do total. No entanto, o volume representa um declínio de 12,3% em comparação com janeiro e fevereiro de 2024.
A Alemanha ocupa a segunda posição, com 12,1% de participação, recebendo 878.350 sacas de café do Brasil — uma queda de 29,4% em relação ao mesmo período do ano anterior. Na sequência, destacam-se a Itália, com 531.260 sacas importadas (+9,1%); o Japão, com 478.844 sacas (+3,9%); e a Turquia, que registrou um expressivo aumento de 88,7%, totalizando 354.904 sacas.
Segundo o Cecafé, embora os cafés vietnamita e indonésio tenham se mostrado mais competitivos que os brasileiros no primeiro bimestre, Vietnã e Indonésia — respectivamente o segundo e o quarto maiores produtores globais — seguem ampliando suas importações de café verde (in natura) do Brasil. Nos dois primeiros meses do ano, o Vietnã adquiriu 72.836 sacas, um aumento de 297,3%, enquanto a Indonésia importou 47.471 sacas, registrando um crescimento de 29,2%.
O relatório completo das exportações dos cafés do Brasil está disponível no site do Cecafé.
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