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Economia

Desafios no cacau: produtores cobram políticas de apoio e incentivo 

Preço do fruto já superou US$ 10 mil; especialista diz que produção de cacau
será o melhor negócio para o agro nos próximos anos

4 minutos de leitura

27/03/2024

Por: Fernanda Farias | fernanda.farias@estadao.com

cacau secando
Foto: Adilson José Almeida/Arquivo Pessoal

Quando a vassoura de bruxa dizimou lavouras de cacau no final dos anos 1980 e na década de 1990, o Adilson José Almeida era um menino, mas viu a luta do pai contra a praga. Hoje, ele diz que a produção de cacau aprendeu a conviver com o problema. “Naturalmente, a vassoura de bruxa perdeu força pelo nosso manejo, podando, tirando os frutos ruins… deu uma amenizada. Mas ela ainda provoca perda de 30% sempre”, conta o produtor da Bahia.

A ação da praga nas lavouras de cacau é uma das principais reclamações dos produtores. “Estamos deixados de lado há muito tempo, sem apoio. E o cacau preserva!” , desabafa Adilson. “Você consegue produzir, você consegue preservar. Mas não existe política pública”, completa.

Hoje, a média de produtividade nas lavouras do Adilson é de 60 arrobas por hectares. Ele conta que os baianos colhem até 25 arrobas/ha, mas alguns produtores conseguem alcançar 150. “A gente não aumenta a produtividade por falta de uma política exclusiva de financiamento, de crédito”, reclama.

produtor de cacau com fruto na mão
Adilson na lavoura de cacau em Jitaúna, sul da Bahia.

A Associação Nacional dos Produtores de Cacau (ANPC) denuncia que o órgão criado para desenvolver a cultura está abandonado. É a Ceplac – Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira, ligada ao Ministério da Agricultura e Pecuária e criada em 1951. “Não temos assistência técnica, extensão rural, tecnologia. Qual cultura sobrevive?” questiona a presidente, Vanuza Barroso.

Vanuza alerta para o perigo da importação de cacau de países africanos, sem nenhum controle fitossanitário. “A África tem várias doenças seríssimas que estão dizimando a produção de lá; é muita irresponsabilidade permitir a entrada sem controle fitossanitário”, afirma. Ela conta que a associação entrou com uma denúncia no Ministério Público Federal em Brasília (DF). “Já estivemos em audiência pública com o atual ministro Fávaro , e até agora não obtivemos nenhum retorno”.

A presidente da ANPC adiciona o endividamento, a falta de crédito e a falta de uma projeção de safra como outros problemas importantes na cadeia de produção de cacau. “Já pensou a hora que o produtor de cacau desanimar? O meio ambiente só vai perder. É urgente que o governo e os políticos olhem para a gente”.

Respostas para a cadeia do cacau

O Agro Estadão pediu uma entrevista para o Ministério da Agricultura. A resposta não foi enviada até a publicação desta reportagem. 

A Conab respondeu, em nota, sobre a ausência do cacau na projeção de safra. Disse que há uma demanda da Ceplac para que haja a realização de levantamento do cacau. 

“A Conab tem disposição e interesse em incluir o cacau entre os produtos levantados. No entanto, estamos na fase de desenvolvimento da metodologia, algo de grande complexidade devido às características da cultura”, disse a nota. “Dada a relevância do produto, está na meta para o próximo triênio da Companhia desenvolvê-la”, completa. 

“A produção de cacau será o melhor negócio do agro nos próximos anos”

O pesquisador, técnico e produtor de cacau, Hilton Leal, tem uma história de vida que se mistura com o o fruto. Aos 73 anos, ele conta, orgulhoso, a trajetória. “Nascido em Ilhéus (BA), neto e filho de produtor de cacau. São 51 anos de Amazônia”, resumiu ao Agro Estadão. 

Com conhecimento prático da lavoura, ele faz uma previsão ousada. “O cacau vai ser o melhor negócio do agro dos próximos anos, com destaque em quem investir na produtividade”. Ele lembra que o consumo do chocolate, que usa o cacau como matéria-prima, cresce 5% ao ano no mundo, e que a crise enfrentada pelos produtores africanos pode ser benéfica para os produtores brasileiros.

pesquisador e produtor de cacau, Hilton Leal
Hilton Leal, produtor de cacau e pesquisador

“O Brasil deveria aproveitar a oportunidade para ocupar espaços, aumentando a participação na produção mundial. Temos áreas disponíveis – áreas antropizadas que já foram desmatadas na Bahia, e com isso, evitamos as restrições da União Europeia sobre o uso das florestas”, argumenta. 

Para Adilson, o produtor da Bahia que se considera “teimoso” por não abandonar a cultura, o cacau representa futuro. Dele, do negócio, da economia da região e do país e, com certeza, o futuro do meio ambiente. “Um alimento rico, muito especial. Não tem lavoura mais adaptada à sustentabilidade que a de cacau. É uma coisa linda você ver as nascentes correndo dentro do jequitibá, do cedro”.

Confira nas reportagens anteriores se o Brasil já é autossuficiente no cacau ; e por que os preços do cacau dispararam.

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