Economia
Clima adverso em 2024 provocou quebra de 6% na safra de grãos; confira o balanço
Safra 2024/25 promete recuperação; produção pode crescer 8,2% com clima favorável e expansão da área cultivada
Paloma Custódio | Brasília
31/12/2024 - 15:00
A safra de grãos 2023/24 sofreu fortes impactos pelas condições climáticas desfavoráveis nas principais regiões produtoras do país. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a quebra foi de 6% em relação ao esperado no começo da safra, quando as estimativas apontavam para uma produção de 317,5 milhões de toneladas. O volume colhido foi de cerca de 298 milhões de toneladas, um recuo de aproximadamente 7% em comparação com o recorde do ciclo 2022/23 (320 milhões de toneladas).
A área cultivada na safra 2023/24 foi de 79,8 milhões de hectares, um acréscimo de 1,6% sobre o ciclo anterior. Apesar do aumento da área, houve queda na produtividade das lavouras. De acordo com Boletim da Safra de Grãos da Conab, essa redução se deve, principalmente, “à demora na regularização de chuvas no início da janela de plantio, que gerou atraso da semeadura da soja, aliada às baixas precipitações durante parte do ciclo das lavouras nos estados da Região Centro-Oeste, Matopiba, em São Paulo e no Paraná, sobretudo nas lavouras de milho segunda safra e na soja”.
Safra de soja foi a mais prejudicada
A soja foi uma das culturas mais prejudicadas pela escassez de chuvas. Segundo o boletim da Conab, apesar do aumento de 4,4% da área plantada, houve uma queda de 4,7% do volume colhido em relação ao ciclo anterior. Ao todo, foram produzidos 147,38 milhões de toneladas da oleaginosa na safra 2023/24. “O produtor, a nível de Brasil, não teve lucro nessa safra de soja”, afirmou o consultor de mercado Vlamir Brandalizze em entrevista ao Agro Estadão.
Brandalizze explica que, além do clima, o preço da soja operou em baixa, principalmente no primeiro semestre. “O mercado começou a melhorar só do meio do ano em diante, mas a maior parte da safra já tinha sido negociada. Como houve quebra da produtividade por causa do clima, sobrou pouco para negociar no segundo semestre”, detalha.
Maior estado produtor de soja no Brasil, responsável por 27% da produção nacional, o Mato Grosso colheu cerca de 39 milhões de toneladas na safra, mas a estimativa dos produtores era colher até 44 milhões de toneladas. Segundo a Conab, “as instabilidades climáticas durante o plantio, com chuvas irregulares e altas temperaturas, resultaram em replantios em diversas áreas do estado. A regularização climática só ocorreu a partir de meados de dezembro [de 2023], trazendo alívio para os produtores e boa recuperação das lavouras, principalmente as semeadas tardiamente”.
A quebra de safra da soja também refletiu nas exportações. De acordo com o Boletim Logístico da Conab, a oleaginosa registrou 2,55 milhões de toneladas embarcadas em novembro de 2024, uma queda de 45,8% em relação ao mês anterior. No acumulado de janeiro a novembro, o país exportou 96,8 milhões de toneladas de soja, contra 101,8 milhões no mesmo período do ano anterior.
Mesmo com o dólar em alta, a Conab estima que as exportações da soja não devem passar de 99 milhões de toneladas neste ano.
Milho
A primeira safra de milho foi finalizada em agosto, com recuo de 10,7% na área plantada e de 16,1% na produção. Na primeira temporada, foram produzidos 22,96 milhões de toneladas do grão. Segundo a Conab, o excesso de precipitações na Região Sul, em outubro de 2023, e as chuvas mal distribuídas no Centro-Oeste e no Sudeste, em novembro do mesmo ano, prejudicaram a germinação e o desenvolvimento inicial da cultura.
Apesar do impacto do clima, Brandalizze destaca que a recuperação das cotações do milho ao longo de 2024 compensaram a situação de perdas de produtividade.
A safrinha também teve perdas de produtividade. Em setembro de 2024, com quase 100% da safra colhida, a Conab registrou um volume de 90,25 milhões de toneladas de milho. Na safrinha de 2023, foram colhidos 102,18 milhões de toneladas.
O coordenador de Inteligência de Mercado na Hedgepoint Global Markets, Luiz Fernando Roque, disse à reportagem que a safrinha de milho em 2024 também sofreu com a escassez de chuvas nas principais regiões produtoras. Apesar disso, “o Brasil está cada vez mais produzindo milho. Estamos com uma safra de milho que se aproxima, em termos de números, de uma safra de soja. Houve aumento do consumo para etanol e isso tem sido muito importante para tirar o excesso de milho que temos”. Mesmo com o aumento da demanda interna e a queda da produtividade, Roque afirma que “não houve desabastecimento [em 2024]”.
Em relação às exportações, o milho registrou 4,73 milhões de toneladas embarcadas em novembro de 2024, contra 6,41 milhões, observadas no mês anterior. Segundo a Conab, a queda nas exportações se deve aos elevados estoques que ainda estão nas mãos das empresas. A estimativa é exportar 36 milhões de toneladas do grão em toda a temporada 2023/24.
Outras culturas
Outra cultura que também foi impactada pelas adversidades climáticas foi o arroz. Apesar do aumento de 8,6% na área plantada (1,6 milhão de hectares) e do crescimento de 5,5% do volume produzido (10,58 milhões de toneladas), a Conab registrou uma queda de 2,8% na produtividade (6.587 kg/ha) na safra 2023/24.
O algodão também teve um recuo de 1,5% na produtividade (1.879 kg/ha), “devido a fatores climáticos menos favoráveis”, detalha o boletim da Conab. Apesar disso, houve um aumento de 16,9% na área plantada (1,94 milhão de hectares) e de 15,1% no volume produzido de pluma (3,65 milhões de toneladas).
Já o trigo e o feijão tiveram bons resultados na safra 2023/24. A área plantada de feijão aumentou 5,8% (2,8 milhões de hectares) e a produtividade melhorou em 1,1% (1.138 kg/ha), o que resultou em um volume de 3,25 milhões de toneladas de feijão, 7% acima da colheita em 2022/2023.
O trigo, apesar de ter tido uma queda de 11,6% na área cultivada (3,06 milhões de hectares), registrou um aumento de 8,8% no volume colhido (8,8 milhões de toneladas), puxado pela melhoria de 23,1% na produtividade (2.870 kg/ha) na safra passada.
Perspectivas para a safra 2024/25
O mais recente Boletim da Safra de Grãos da Conab, divulgado em dezembro, estima que a produção de grãos no país deve chegar aos 322,4 milhões de toneladas, 8,2% superior ao colhido em 2023/24. A área cultivada também deve aumentar 1,8% em relação ao ciclo anterior, atingindo 81,39 milhões de hectares.
De acordo com o informe, os plantios das principais culturas de primeira safra — como o arroz, feijão, milho e soja — apresentam melhores resultados que os patamares observados no mesmo período da safra anterior.
O consultor de mercado Vlamir Brandalizze afirma que o cenário climatológico da temporada atual é outro. “A safra 2024/25 vem dentro de um dos melhores momentos climáticos históricos. Se fizermos uma avaliação de 30, 40 anos, talvez seja a melhor safra até aqui. As condições de clima, desde o Rio Grande do Sul até o Norte do Brasil, estão dentro do regular ou muito boas acima do regular”, avalia.
A estimativa da Conab para a soja é alcançar uma produção de 166,21 milhões de toneladas, 12,5% superior ao volume colhido em 2023/24. Brandalizze destaca que o preço da soja já “caiu o que tinha que cair” e vem se recuperando na bolsa de Chicago desde maio. Além disso, a alta do dólar também favorece a comercialização da oleaginosa.
O consultor estima que as cotações do milho também devem ser favoráveis em 2025. “Mas o milho vai depender muito do clima e [dos resultados da] segunda safra, que é a safrinha, a mais importante”, pondera. A previsão da Conab para o milho é de uma produção total de 119,63 milhões de toneladas, 3,4% acima da safra anterior.
Com o aumento da produção de grãos na safra 2024/25, o consultor destaca que um dos grandes problemas para 2025 é a questão logística. “A maior parte desse volume de grãos terá como destino o mercado de exportação. Então, ele vai enfrentar portos lotados, as mesmas ferrovias de 50 anos atrás, alta dos fretes dos caminhões para levar para o porto, principalmente nos primeiros três meses depois da colheita”, ressalta.
Alta do dólar vai pressionar preço dos insumos
O analista Luiz Fernando Roque afirma que o preço dos insumos não pesou nos custos de produção da safra 2023/24. Mas, depois de sucessivos aumentos do dólar — com recorde de R$ 6,29 em dezembro — os insumos vão encarecer a produção, principalmente, da safrinha do milho e da safra 2025/26.
“Devemos ter problema para a temporada 2025/26; são as compras de insumos que os produtores vão fazer agora, a partir de fevereiro, março. No meio do ano, em maio e junho, devemos ter um aumento importante de custos, se o câmbio continuar subindo, porque 60% a 70% dos custos de fertilizantes são dolarizados”, explica.
A recomendação do analista é “diminuir o risco no mercado, tanto na compra de insumos, como na venda do produto. Diante desse dólar que não para de subir, sem vislumbre de queda ali na frente, por exemplo, eu entendo que o produtor deveria diminuir o seu risco e avançar um pouco mais nas compras de insumos [agora]”, orienta.
O consultor Vlamir Brandalizze sustenta a recomendação: “o ano de 2025 vai ser mais difícil em função da valorização do dólar. O produtor tem que se preparar para comprar antes, não deixar para a última hora”, afirma.
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