Economia
China desacelera e Filipinas sustentam exportações de carne suína
Inversão de mercado ocorre devido à recuperação do plantel de suínos chinês, após quase ser dizimado pela Peste Suína Africana

Sabrina Nascimento | São Paulo | sabrina.nascimento@estadao.com
09/09/2025 - 07:00

Para a suinocultura brasileira, as Filipinas vêm se consolidando como a nova China. A comparação não se deve ao tamanho da população, visto que o arquipélago soma cerca de 116 milhões de habitantes, contra 1,4 bilhão de chineses — número, aproximadamente, 12 vezes maior, segundo a Organização das Nações Unidas. A relação, contudo, é feita pelo papel estratégico que os filipenses têm assumido como destino da carne suína do Brasil.
Dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), mostram que no último ano, os embarques do produto ao mercado filipense cresceram 101,84%, enquanto que para a China recuaram 37,99%. O mesmo movimento foi observado nos primeiros oito meses deste ano, com as exportações às Filipinas crescendo 62,4%, ante a queda de 27,8% para Pequim.
Essa inversão de mercado ocorre devido à recuperação do plantel de suínos chinês, após quase ser dizimado pela Peste Suína Africana. O primeiro caso da doença no maior país produtor de carne suína do mundo ocorreu em agosto de 2018. Nos anos seguintes, a produção chinesa recuou, enquanto as exportações foram elevadas.
Oportunidade X risco
Observando as oportunidades da época, criadores brasileiros de suínos investiram em suas produções. Porém, com a recuperação gradual do plantel chinês, em um ritmo mais acelerado do que o esperado, a demanda externa caiu, provocando excesso de oferta no mercado interno. Com isso, em meados de 2022, o setor no Brasil viveu uma crise.
Hoje, entretanto, o cenário se mostra mais promissor. “As Filipinas vêm impulsionando bastante o setor. Temos plantas aprovadas, e essa situação vem acompanhada de aumento na oferta e demanda por parte deles, o que tem ajudado bastante”, disse Marcelo Lopes, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos. “É um país com população elevada, não chega a ser a China, mas representa uma situação bastante favorável para nós”, acrescentou.
Lopes destaca ainda que, além das Filipinas, a diversificação de mercado foi conquistada pelo setor. Segundo ele, problemas sanitários na Europa têm impulsionado os embarques do produto para lá, apesar de nenhum país do continente aparecer entre os principais destinos das exportações de carne suína do Brasil, em volume. Essa lista é composta majoritariamente por países da Ásia e Américas. “O Brasil tem se posicionado de uma forma bastante agressiva e competitiva para fazer essas exportações e abrir novos mercados mais exigentes a nível sanitário”, destacou.
O Brasil ocupa, atualmente, a quarta posição no ranking mundial de produção e exportação de carne suína.
Exportações em agosto
As exportações brasileiras de carne suína, considerando produtos in natura e processados, em agosto, totalizaram 121,4 mil toneladas, volume 2,8% maior que o total embarcado no mesmo período do ano passado, com 118,1 mil toneladas. A receita registrada no período chegou a US$ 294,9 milhões, saldo 6,7% maior que em agosto de 2024.
As Filipinas seguem como principais destinos, com 33,4 mil toneladas registradas em agosto, saldo 19,5% superior ao registrado no mesmo mês do ano passado. Em seguida estão o Chile, com 13,3 mil toneladas (+8,3%), China, com 10,3 mil toneladas (-36,3%) e Japão, com 8,5 mil toneladas (+5,4%).
No acumulado do ano as remessas somaram 970,3 mil toneladas, saldo 11,5% maior que o total embarcado no período de janeiro a agosto do ano passado, informou a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) nessa segunda-feira, 8. Em receita, a alta chega a 23,8%, com US$ 2,334 bilhões nos oito primeiros meses de 2025.

Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Economia
1
Tarifa: enquanto Brasil espera, café do Vietnã e Indonésia pode ser isento
2
COP 30, em Belém, proíbe açaí e prevê pouca carne vermelha
3
A céu aberto: produtores de MT não têm onde guardar o milho
4
Fazendas e usinas de álcool estavam sob controle do crime organizado
5
Exportações de café caem em julho, mas receita é recorde apesar de tarifaço dos EUA
6
Rios brasileiros podem ser ‘Mississipis’ do agro, dizem especialistas

PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas

Economia
NovaBio critica discussões para importação de etanol dos EUA
Associação diz que tarifas sobre açúcar já prejudicam o Nordeste em mais de R$ 1 bilhão e pede equilíbrio nas negociações

Economia
Conab: colheita de milho safrinha 2024/25 atinge 98% da área
Milho supera média de cinco anos, enquanto algodão segue atrás do ritmo da temporada anterior

Economia
Café: comercialização segue travada em meio ao cenário climático
Apesar da alta nos preços ofertados e da demanda aquecida, o ritmo de comercialização continua lento; algo incomum para essa época do ano

Economia
Ceará prorroga edital para exportadores afetados por tarifa dos EUA
Inscrições seguem até 20 de setembro para exportadores de mel, castanha, filé de peixe, água de coco e cajuína
Economia
Preços dos CBios caem para menor preço desde 2021, indica Itaú BBA
Excesso de crédito e pessimismo no mercado são apontados como os motivos para a queda nos preços
Economia
Exportações de MS crescem 3,26% até agosto; carne bovina tem alta de 43,7%
Apesar da tarifa de 50% dos EUA, Estado conseguiu redirecionar e produção e diversificar os destinos para a carne
Economia
Desbloqueio de tarifaço do Agro passa por mercado de etanol; entenda
Especialistas ouvidos nesta segunda-feira, 8, pelo Conselho do Agronegócio da Fiesp indicam que impasse com os EUA pode se intensificar
Economia
Oferta robusta e demanda retraída pressionam soja, milho e trigo
Mercados futuros e domésticos das commodities registram recuos e oscilações exigindo cautelas dos agricultores