Economia
Café solúvel: tarifaço reduz exportações do Brasil aos EUA em 60% em agosto
Apesar do recuo, receita cambial deve bater recorde em 2025, segundo projeções da Abics; mercado interno mantém crescimento
 
                        Redação Agro Estadão
15/09/2025 - 17:42

A imposição da tarifa de 50% pelo governo Donald Trump sobre o café solúvel brasileiro mostra reflexos expressivos no comércio internacional. Em agosto, os embarques para os Estados Unidos caíram 59,9% frente ao mesmo mês de 2024 e 50,1% em relação a julho deste ano, totalizando 26,46 mil sacas de 60 kg.
Segundo o diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics), Aguinaldo Lima, a forte retração comprometeu a expectativa de superar o recorde de exportações de 2024, quando foram vendidas 4,093 milhões de sacas. “O impacto é significativo e coloca em risco a performance do setor neste ano”, afirma, em nota.
Diante do cenário, a Abics, em conjunto com entidades como Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil), BSCA (Brazilian Specialty Coffee Association) e Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café), articula estratégias junto ao governo brasileiro e aos importadores americanos para tentar reverter os efeitos da taxação. “Esse nível de tarifa inviabiliza as operações com os EUA. Precisamos retomar condições equilibradas para a relação comercial entre os dois países”, acrescenta Lima.
Além da barreira imposta pelos norte-americanos, o café solúvel do Brasil enfrenta tarifas em outros mercados, o que, segundo o executivo, evidencia a necessidade de ampliar acordos comerciais. “Sem essas parcerias, nossa competitividade fica comprometida. É essencial que o país avance nessas negociações para garantir crescimento e manutenção da liderança global”, destaca.

Exportações em 2025
Entre janeiro e agosto, as exportações brasileiras de café solúvel somaram 2,508 milhões de sacas para 88 países, volume 3,9% inferior ao registrado no mesmo período de 2024, de acordo com a Abics Data. Apesar da queda em quantidade, a receita cambial cresceu 33%, alcançando US$ 760,8 milhões, impulsionada pela valorização internacional do produto. A projeção da entidade é superar a marca de US$ 1 bilhão ainda este ano, ultrapassando os US$ 950 milhões de 2024.
Os Estados Unidos seguem como principal destino, com 443,1 mil sacas compradas no acumulado até agosto, embora esse total represente redução de 3,7% em relação ao ano anterior. Em seguida, aparecem Argentina, com 236,4 mil sacas (+88,3%), e Rússia, com 188 mil sacas (+16,8%). Colômbia, Vietnã e Malásia — todos também produtores — entraram no grupo dos 15 maiores compradores do produto brasileiro.

Mercado interno em expansão
O consumo doméstico de café solúvel também continua avançando. De janeiro a agosto, os brasileiros consumiram 17,6 mil toneladas (equivalente a 763,6 mil sacas), aumento de 4,7% sobre o mesmo período de 2024. O segmento freeze dried (liofilizado) apresentou crescimento de 11,3%, enquanto o spray dried (em pó) subiu 3,9%. O consumo de produtos importados também registrou alta, de 30,7%.
“O consumidor nacional responde bem às inovações da indústria, que vem ampliando a diversidade e melhorando a qualidade dos produtos. Além da praticidade, o café solúvel segue mais acessível em meio a preços elevados no setor cafeeiro”, explica Lima.
Mudança no comando da Abics
A Abics também passa por mudanças na sua direção. Neste mês, Bruno Giestas, diretor comercial da Realcafé, assumiu interinamente a presidência da entidade, após a aposentadoria de Fabio Sato. Ele ficará no cargo até abril de 2026, quando haverá eleição para a nova diretoria.
“É uma honra dar continuidade ao trabalho realizado pelo Fabio. Nosso foco será enfrentar os desafios impostos pelo novo cenário internacional, especialmente pela tarifa dos EUA, que afeta diretamente nosso principal mercado”, afirma Giestas.
 
    Newsletter
            Acorde
            
                bem informado 
            
            com as
            
                notícias do campo
            
        
Mais lidas de Economia
1
China acelera compras de carne bovina à espera de decisão sobre salvaguardas
2
Governo confirma municípios habilitados para renegociação de dívidas rurais
3
Metanol: como falhas na produção podem causar contaminação
4
Banco do Brasil dá início à renegociação de dívidas rurais com recursos livres
5
Onde nascem os grãos da xícara de café mais cara do mundo?
6
Setor de café pede urgência em negociação das tarifas com os EUA
 
  
PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas
 
        Economia
Inpasa vai investir R$ 2,4 bi em biorrefinaria de etanol de milho em Goiás
Um dos principais polos de produção de milho, Rio Verde sediará a planta com capacidade para processar 2 milhões de toneladas do cereal
 
        Economia
Acordo de 12 milhões de toneladas soja entre EUA e China não representa avanço real; entenda
China deve manter estratégia de diversificação e continuar comprando entre 65% e 70% da soja exportada pelo Brasil
 
        Economia
Estoques de café nos EUA estão perto do limite
O preço médio do café torrado e moído nos supermercados dos EUA subiu 41% em setembro
 
        Economia
China removerá tarifas de soja, milho, trigo, carnes e outros itens, dizem EUA
Anúncio foi feito pela secretária de Agricultura americana, que também confirmou que a China voltará a comprar soja dos EUA
Economia
Indústria de máquinas agrícolas cresce 11,9% em setembro
No acumulado do ano, as exportações de máquinas agrícolas reduzem e vendas internas de tratores e colheitadeiras crescem
Economia
Preço do leite cai 19% em um ano; setor cobra ação contra produto importado
Importação de leite em pó do Mercosul pressiona produtores brasileiros e ameaça a autossuficiência do país em 2026
Economia
Após encontro, Trump reduz tarifas e China retoma compra de soja norte-americana
China deverá comprar 12 milhões de toneladas de soja ainda neste ano e 25 milhões de toneladas por ano pelos próximos três anos
Economia
Custos de produção estão maiores na safra 2025/2026, diz presidente da CNA
Estimativas preliminares da confederação revelam redução de 15% na margem bruta da soja para a temporada
 
       
       
   
       
      