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Economia

Tarifa dos EUA começa a valer nesta quarta; veja os itens afetados

Nova alíquota, de 50%, atinge setores como café, carnes e frutas; governo prepara reação na OMC e plano de contingência

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Paloma Santos | Brasília | paloma.santos@agroestadao.com

06/08/2025 - 05:00

Cerca de 35,9% das exportações brasileiras ao mercado norte-americano serão afetadas | Foto: Adobe Stock
Cerca de 35,9% das exportações brasileiras ao mercado norte-americano serão afetadas | Foto: Adobe Stock

Começa a valer nesta quarta-feira, 6, a tarifa de 50% para produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos. Enquanto os setores de laranja e castanhas ficaram de fora do tarifaço, produtos como café, carnes, ovos, açúcar, mel, pescados, frutas tropicais e madeira florestal já lidam com os impactos e buscam caminhos para reverter a situação.

De acordo com vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, cerca de 35,9% das exportações brasileiras ao mercado norte-americano serão afetadas.

“Dos produtos exportados para os EUA, 45% foram excluídos da taxação, 20% estão sujeitos à Seção 232, que trata todos os países de forma igual, e 35% ainda são o desafio que temos pela frente, para buscar a redução das alíquotas ou a exclusão completa, como os demais setores”, afirmou após reunião com representantes do governo e do agronegócio.

Nesta segunda-feira, 4, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) aprovou uma consulta à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra a tarifa proposta pelo governo dos Estados Unidos. O ato representaria uma possível contestação da medida do governo de Donald Trump no órgão internacional.

O governo federal planeja um plano de contingência, que ainda não foi anunciado e nem detalhado. Porém, além de crédito, uma iniciativa ventilada é a de aquisição, por parte do governo, dos alimentos — especialmente os perecíveis — que não forem comercializados com os Estados Unidos. 

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Impactos da tarifa

Sete estados brasileiros concentraram, no ano passado, mais de 80% de toda a exportação para os EUA: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

Enquanto ainda tentam negociar, alguns setores já calcularam o impacto da tarifa em suas vendas externas aos Estados Unidos. 

Café

Entre os setores mais impactados, está o café, um dos principais itens da pauta exportadora do agro do Brasil para os EUA, que lideram a compra do produto. Só nos primeiros seis meses deste ano, os norte-americanos adquiriram 3,3 milhões de sacas de café brasileira — volume 38,7% superior ao do segundo maior comprador, a Alemanha (2,4 milhões de sacas). 

Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (ABICS), o café solúvel brasileiro responde por mais de 25% do volume importado pelos EUA — sendo o segundo maior fornecedor a esse mercado. 

Carne bovina

A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) estima que o país deixe de exportar, neste ano, 200 mil toneladas de carne bovina aos EUA, o que representa cerca de US$ 1 bilhão em perdas.

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No caso das carnes, a alíquota será ainda maior do que outros produtos. Hoje, o setor já é taxado em cerca de 36% e terá a incidência de 40% adicionais. Mesmo assim, frigoríficos já haviam interrompido a produção voltada aos Estados Unidos.

Pescados

Vislumbrando um impacto irreversível na cadeia de pescados, cerca de dez dias antes da oficialização da tarifa, a Associação Brasileira das Indústrias de Pescado (Abipesca) se antecipou e solicitou uma linha emergencial de crédito de R$ 900 milhões ao governo federal. O valor é para o capital de giro das empresas.

A análise da entidade é de que, sem uma resposta rápida, cerca de 35 indústrias e 20 mil trabalhadores devem ser impactados com cortes de pessoal e paralisações das operações fabris.

Frutas

Temendo o efeito das tarifas sobre o setor de frutas, em especial a manga e a uva — com a colheita concentrada entre setembro e outubro para atender os EUA —, a Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) entende que não há possibilidade de redirecionar essa produção para outros mercados, gerando uma perda total aos produtores. 

Esse é o temor dos agricultores no Vale do São Francisco, que consideram não colher a produção de manga este ano. Caso isso ocorra, as frutas podem apodrecer no pomar, precisando ser enterradas posteriormente. 

Cacau

A estimativa da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC) é que, caso a tarifa seja mantida, o setor possa perder pelo menos US$ 36 milhões apenas em 2025. As indústrias moageiras têm os EUA como o segundo maior comprador de manteiga de cacau. Cerca de 20% das exportações totais do setor — que inclui outros derivados da amêndoa, como o licor, o cacau em pó e a pasta de cacau — são destinadas ao mercado norte-americano.

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Madeiras

Empresas brasileiras da cadeia florestal exportadora já sofrem forte impacto, mesmo antes da tarifa entrar em vigor. As mais atingidas são indústrias que operam com florestas plantadas e madeira processada, com destaque para fabricantes de pisos, painéis e molduras.

Há relatos de demissões em massa, férias coletivas e cancelamentos de contratos. No Paraná, de acordo com a Federação da Agricultura do Estado (Faep), o setor florestal deve ser o mais impactado pela nova alíquota, em razão forte da dependência do mercado norte-americano. 

Ovos

Devido à gripe aviária que atinge a produção norte-americana, o país elevou exponencialmente a importação de ovos do Brasil — mais de 15 mil toneladas embarcadas e uma receita de US$ 33 milhões no primeiro semestre de 2025. Com isso, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o setor de ovos também deve sofrer com as tarifas, mesmo que os embarques totais ao exterior representem menos de 1% da produção nacional. 

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