Economia
Às cegas: produtores exportam manga aos EUA sem preço definido
Fruticultores do Vale do São Francisco respeitam contratos sem saber quem vai pagar a tarifa de 50% ou se vão ter lucro
Sabrina Nascimento | São Paulo | sabrina.nascimento@estadao.com
19/08/2025 - 05:00

A colheita da manga no Vale do São Francisco começou. E, apesar da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos, os embarques ao país continuam, ao menos nesta última semana de tarifaço.
Segundo informação do Sindicato Rural de Petrolina (PE), sete contêineres de manga foram enviados ao mercado norte-americano semana passada. E há mais 50 cargas estão programadas até o fim desta semana.
Mas, diferentemente de anos anteriores, em que os produtores enviaram a fruta aos EUA com boas perspectivas de lucro, desta vez a incerteza predomina. Isso ocorre porque a maioria dos contratos negociados com os importadores norte-americanos segue o modelo consignado. Nesse modelo, o produtor ou fornecedor envia a mercadoria ao comprador ou a um intermediário sem receber o pagamento imediatamente. Esse pagamento só chega depois que o produto é comercializado e o vendedor retira a comissão dele. “Até agora, ninguém sabe quem vai pagar a tarifa de 50%. Não sabemos de nenhum importador que queira pagar a diferença”, disse Jailson Lira, presidente do Sindicato Rural de Petrolina (PE).
Assim, diante da tarifa, os fruticultores relatam um cenário de incerteza. “Às vezes, você coloca um preço mínimo, pré-determinado. Mas o preço final só com a venda e com as avaliações da chegada. Então, só depois de 30 a 45 dias da fruta entregue, é que o produtor sabe o quanto vai receber”, disse Jailson Lira, presidente do Sindicato Rural de Petrolina (PE).
Segundo ele, é muito provável que a colheita, embalagem e envio da manga continuem até meados de setembro, quando a demanda segue aquecida. Nesse período, os preços podem ser interessantes, “sem prejuízo”. Porém, quando os volumes aumentarem e o mercado se estabilizar, algumas mangas podem apodrecer no pomar, conforme Lira relatou ao Agro Estadão no fim de julho. “Tem esse risco ainda, de não colher a fruta e apodrecer no pé. E o risco é grande”, ressaltou.
Buscando alternativas à venda de uvas
Além da manga, a colheita da uva no Vale do São Francisco também se aproxima. Por isso, os produtores já estão avaliando redirecionar parte da produção para outros mercados, pois a janela da uva é mais tardia — com os embarques ocorrendo entre a metade de setembro e início de outubro. Além disso, os EUA ainda estão abastecidos da safra da Califórnia.
Nesse contexto, o mercado interno, a Europa e o Reino Unido surgem como alternativas para escoar a produção e minimizar perdas financeiras. “No caso da uva, os produtores já estão tentando redirecionar para outros mercados porque já visualizam que não terão preços bons”, relata.
Diante desse cenário, os produtores estudam alternativas como o mercado interno e a Europa, incluindo o Reino Unido, para escoar a produção e minimizar perdas financeiras. Segundo Lira, o objetivo é encontrar destinos que garantam melhores preços, já que a demanda nos EUA, nesse período, tende a ser menor devido à safra californiana.
Pacote do governo
Apesar de o governo federal ter anunciado um pacote de medidas de socorro aos exportadores, o temor no Vale do São Francisco é de que alguns agricultores possam não ter acesso a linhas de crédito.
De acordo com o presidente do Sindicato de Petrolina (PE), a melhor solução seria que o governo buscasse negociar com os EUA, assim como outros países fizeram, para tirar ou reduzir as tarifas. “De qualquer maneira, já íamos ser taxados em 10%. Retirar essa sobretaxa de 40%, podendo ir para 15%, já ajudaria bastante”, disse.
Ele ressalta que a tarifa atual gera uma situação muito grave para produtores e trabalhadores. E, mesmo que neste momento não se fale em demissão, a medida não é descartada caso a tarifa elevada permaneça por um longo período. “Os produtores estão muitíssimo preocupados”, salientou.
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