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Economia

Após oscilações, para onde vai o dólar e qual o impacto sobre as commodities agrícolas?

Entre “falsa ilusão” com aumento da moeda norte-americana e oportunidade de negócios, confira as opiniões de especialistas

7 minutos de leitura 07/07/2024 - 10:01

Por: Rafael Bruno

Foto: Adobe Stock
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Depois de uma semana de muita oscilação, com o dólar chegando a R$ 5,70 na máxima da última terça-feira, 2, não seria errado dizer que a escalada da moeda norte-americana foi interrompida após o anúncio do Plano Safra 2024/2025.

Na quarta-feira, 3, durante o lançamento do programa agrícola voltado aos pequenos produtores rurais, além de dizer que irá cuidar para que agricultores não tenham prejuízos no Brasil e que aumentar a produção de alimentos é um caminho para se combater a inflação, o presidente Luiz Inácio Lula Da Silva afirmou que seu governo não joga dinheiro fora, e que o executivo tem como compromisso a responsabilidade fiscal. As declarações agradaram o mercado financeiro, fazendo com que a moeda recuasse 1,7% no dia ante o real. 

No decorrer dos dias, também contribuiu para a queda semanal do dólar (-2,29%) o anúncio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de que foram identificados R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias que deverão ser cortadas do Orçamento de 2025.

No entanto, a dúvida do mercado agora é quanto ao destino desses cortes, onde serão aplicados, incerteza que deve predominar no debate econômico no início desta semana. 

“Ele [Fernando Haddad] precisa localizar os pontos que respondem pelo maior dispêndio do governo e, nesses pontos mais relevantes nas despesas públicas, mostrar onde e quanto ele vai cortar em cada um desses lugares”, comenta Celso Grisi, professor da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo (FEA-USP). Para o economista, esses esclarecimentos são essenciais para que o dólar mantenha a trajetória de baixa. “Ainda que a queda não vá ser muito grande, ela pode surpreender e nos deixar muito mais animados para esta semana,” diz Grisi.

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Mercado interno não acompanha Chicago; milho e soja têm semana apática

A queda no dólar pressionou os preços internos dos grãos e o mercado encerrou a semana com negócios pontuais.

A soja teve uma sexta-feira, 5, de negócios praticamente estáveis no Brasil, com indicações de compras para julho variando entre R$ 140 (saca de 60 kg) no Paraná, R$ 142 no Rio Grande do Sul e São Paulo e R$ 143 em Santa Catarina. Preços menores foram praticados em Goiás, com a saca negociada entre R$ 123 e R$ 124. Em Mato Grosso, as indicações fecharam a sexta em torno de R$ 125 e R$ 127 por saca. Valores semelhantes são observados em Minas Gerais, Bahia e Pará. Conforme análise da Safras Consultoria, os preços da oleaginosa nos portos foram enfraquecidos pela queda da moeda norte-americana, resultando no movimento baixista, apesar da quarta sessão positiva dos futuros em Chicago.

Na CBOT (Chicago Board of Trade), o contrato da soja para novembro fechou a semana negociado a US$ 11,29 por bushel, alta de 0,89% na comparação diária e de 2,21% frente à semana anterior. 

O milho também encerrou a primeira semana de julho com valorização na bolsa internacional, com o contrato para dezembro de 2024 em US$ 4,24, alta de 1,7% frente ao dia anterior e 0,94% na comparação semanal. 

Já no mercado físico, o milho terminou a sexta-feira com poucos negócios reportados, com valores médios de R$ 54,23 em São Paulo e R$ 40,00 em Mato Grosso. Conforme os analistas consultados pelo Agro Estadão, a procura segue fraca por parte dos compradores, que por sua vez esperam preços menores à medida que avança a colheita do milho safrinha. Além disso, o ritmo de exportação do cereal está aquém do ideal. Em junho, o Brasil embarcou 850,89 mil toneladas de milho, uma queda de 17,7% em relação a igual mês de 2023. Em receita, com US$ 170,69 milhões obtidos, a baixa foi ainda maior, de 36,9%, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior do ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). 

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Além das questões internas, o diretor da Consultoria Agrinvest, Eduardo Vanin, alerta para a concorrência internacional e o apetite da China. “Há um risco de um programa muito pequeno de exportação [do Brasil], o ritmo de crescimento do nosso programa de milho é muito devagar, temos uma concorrência bem maior que no ano passado e ausência total da China”, explica Vian.

A falsa impressão do dólar e as oportunidades para aquisição de insumos

Apesar do recuo do dólar na semana passada, a desvalorização do real ante a moeda estrangeira segue elevada, fato que pode reverter o baixo interesse chinês pelos grãos brasileiros observado em junho. “Como o real está depreciado, as commodities ficaram baratas, então, apesar de no mês de julho [tradicionalmente] as importações chinesas não serem altas, tudo indica que a China vai aumentar muito a compra aqui no Brasil, de grãos, aproveitando a desvalorização da moeda”, prevê ao Agro Estadão o sócio-diretor da Markestrat, José Carlos de Lima Júnior.

Para o especialista em mercado agrícola, é importante ficar de olho na rentabilidade ante os investimentos. “Aumento de dólar é uma falsa ilusão de que o produtor está ganhando mais dinheiro, porque quando você aumenta o dólar, você aumenta o valor unitário da saca, mas em contrapartida o retorno por investimento, por área plantada, diminui porque você tem vários insumos que são importados”, contextualiza Lima Júnior. 

pessoas trabalhando na lavoura
Foto: Adobe Stock

Já para o professor da USP, Celso Grisi, o momento pode ser propício para o produtor que pretende fazer a aquisição de insumos como fertilizantes e defensivos. Segundo Grisi, as compras neste ano estão inferiores ao verificado em igual período do ano passado, além de terem começado tardiamente. Assim sendo, o professor diz que há espaço para negociação e diz que o produtor deve “se aproveitar de um dólar em redução neste momento.”

Para o analista Eduardo Vanin, a perspectiva é de um segundo semestre aquecido para as vendas de soja do Brasil. Apesar da entrada da nova safra norte-americana da oleaginosa, a soja brasileira segue no radar da China, uma vez que o grão nacional está mais barato que o dos Estados Unidos. 

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Também refletindo o cenário internacional, Raphael Mandarino, da AgResource, destaca que o câmbio ainda favorece a busca por produtos brasileiros e que nos próximos meses um aumento da demanda externa deverá ser observado.  Entre os pontos de atenção, Mandarino faz questão de ressaltar o clima no hemisfério norte, derrubando a produtividade americana, e as eleições nos Estados Unidos. Segundo o analista, após o atual presidente dos EUA ter tido um desempenho ruim no debate contra Donald Trump, o mercado já faz cálculos caso o ex-presidente Trump retorne à Casa Branca. “Se for o Trump, como vai agir em relação à China, será que vai taxar mesmo?”, questiona Raphael. A avaliação de tradders e analistas é de que o país asiático deve aumentar o volume de importação de soja e milho com receio de uma possível volta de Donald Trump, fato que pode reanimar a tensão entre Pequim e Washington.

Beneficiado pelo câmbio, boi gordo reage e demonstra sustentação 

Gado de corte da pecuária brasileira / Cattle grazing in Brazil
Foto: Adobe Stock

Na semana passada, o mercado pecuário seguiu a tendência de recuperação dos preços, com negociações acima da referência média, de acordo com o analista de pecuária da Safras & Mercado, Fernando Iglesias.

Em São Paulo, animais ‘padrão china’ foram negociados na sexta-feira entre R$225/@ e R$230/@ a prazo. Valores semelhantes foram observados no Paraná e em Mato Grosso do Sul.

De acordo com Iglesias, entre as principais praças pecuárias do país, a expectativa é de continuidade do movimento de alta no curto prazo, especialmente em São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. 

O especialista explica que o câmbio tem sido muito importante para esse movimento, tornando os embarques brasileiros mais interessantes. “Nós vemos um forte ritmo de exportações previsto para esta temporada, uma dinâmica muito legal, então, este ano o Brasil deve bater recorde de exportação com alguma tranquilidade” avalia Fernando.

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De acordo com dados do MDIC, compilados pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), no acumulado do primeiro semestre de 2024, as exportações de carne bovina somaram 1,29 milhão de toneladas, 27,3% a mais do que o mesmo período de 2023, o que resultou em um faturamento de US$ 5,69 bilhões, aumento de 17% ante o primeiro semestre do ano passado.

Segundo Iglesias, mesmo com o real se valorizando nos últimos dias, a movimentação cambial segue relevante. 

Especificamente sobre este mês, Fernando diz que o cenário aponta para maior otimismo em torno dos preços da arroba bovina, com uma quantidade menos representativa de animais para abate, resultando em escalas de abates menos confortáveis, desta forma, pressionando os preços.

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