Cotações
Crise no Oriente Médio: estratégias de proteção para o agro brasileiro
Diante dos riscos logísticos e da volatilidade global, consultoria indica como proteger margens, planejar vendas e mitigar custos

Redação Agro Estadão
24/06/2025 - 08:00

O mercado de commodities agrícolas deve sentir as consequências do agravamento das tensões no Oriente Médio. Mais do que um efeito colateral, os impactos sobre os custos logísticos, energéticos e de insumos tendem a ser cumulativos, sobrecarregando um sistema que já operava no limite antes mesmo da escalada do conflito, segundo avaliação da Markestrat.
Nesse cenário, especialistas da consultoria apontam que os produtores brasileiros devem adotar estratégias mais cautelosas e bem planejadas, com foco na proteção de margens, no monitoramento dos custos e em decisões comerciais escalonadas.
Soja
Na soja, mesmo com uma leve recuperação dos contratos futuros na última semana, o mercado continua pressionado por uma demanda internacional enfraquecida. “A recomendação é que o produtor busque fixações escalonadas, aproveitando picos de mercado, e mantenha atenção total sobre câmbio, fretes e riscos logísticos”, destacam os especialistas, em relatório.
Além disso, o comportamento do óleo de soja merece atenção redobrada. Com alta de mais de 15% no mercado internacional, o óleo tornou-se um dos principais vetores de valorização no complexo soja — em meio a uma trajetória oposta do farelo, que vem acumulando quedas. Essa inversão reforça o papel estratégico do óleo na composição do valor do grão, especialmente em um ambiente de demanda energética aquecida e gargalos logísticos crescentes.
Milho
No milho, os impactos da tensão geopolítica também são relevantes. “O produtor brasileiro, que entra no segundo semestre com a safra de inverno avançando de forma favorável, precisa avaliar com cautela a janela de comercialização”, pontuam. Isso porque, de acordo com os especialistas, o período coincide com o pico da oferta nacional e com a possibilidade de aumento nos custos de transporte marítimo, caso a crise no Oriente escale ainda mais.
Apesar de um leve alívio nos contratos futuros no curto prazo, o mercado segue pressionado pela safra norte-americana, que avança em bom ritmo, com clima positivo nos Estados Unidos.
Trigo
O trigo não foge do cenário de atenção. Embora os contratos futuros tenham registrado uma leve recuperação, o mercado físico segue pressionado. “As exportações russas e norte-americanas mantêm o mercado global bem abastecido, o que limita reações mais fortes nos preços. Ainda assim, os riscos logísticos no Oriente Médio adicionam volatilidade ao custo de transporte”, explica a consultoria.
Diante desse quadro, conforme os especialistas, o produtor deve ficar atento às oscilações cambiais e às oportunidades de venda futura, sem perder de vista os riscos climáticos na fase inicial da safra brasileira.
Algodão
O mercado de algodão vive uma combinação delicada: colheita se aproximando, expectativa de safra recorde, mas preços pressionados no mercado físico e nos contratos de curto prazo. A escalada do conflito entre Irã, Israel e Estados Unidos (EUA), somada à possibilidade de gargalos logísticos no segundo semestre — tradicionalmente o pico do fluxo marítimo global —, torna prudente que os produtores avaliem com seriedade a antecipação de fixações futuras. “Isso é ainda mais relevante para quem depende de insumos importados ou de mercados sensíveis aos custos de frete”, afirmam.
Cana-de-açúcar
No caso da cana-de-açúcar, o cenário é de margens apertadas, com o mercado de açúcar pressionado pela oferta global elevada e custos de produção firmes. Por outro lado, há sinais positivos no mercado de etanol, impulsionado pela proposta dos EUA de ampliar a mistura de biocombustíveis. “Nesse contexto, o produtor precisa reforçar seu planejamento financeiro e considerar instrumentos de hedge para mitigar os riscos de volatilidade nos preços e nos custos logísticos”, recomendam.
Laranja
O setor de laranja, que já vinha enfrentando uma forte correção nos preços dos contratos futuros de suco — com quedas superiores a 14% na semana —, vê o desafio de rentabilidade se agravar. A cotação da caixa no cenário doméstico também recua, embora de forma mais moderada (-0,36% na última semana).
Diante dos gargalos logísticos crescentes e da incerteza sobre a oferta global, os especialistas acreditam que o setor precisa apostar na qualidade do produto e no posicionamento em nichos diferenciados. Essa estratégia protege contra a possibilidade de queda na demanda internacional em função do aumento dos custos de exportação.
Café
O cenário também é de pressão no café. As expectativas de uma boa safra em 2025 derrubaram os preços futuros, especialmente do arábica, que acumulou quedas superiores a 11% na semana. O robusta segue na mesma direção (-12,44%), ampliando os desafios para os produtores.
“Com custos elevados e clima instável, o setor cafeeiro precisa focar na preservação de margem e de liquidez, ajustando o planejamento comercial e buscando proteção contra riscos, sobretudo em um ambiente global de fretes marítimos pressionados e gargalos logísticos latentes”, alerta a Markestrat.
Pecuária
A pecuária, por sua vez, vive um momento mais estável. Apesar de uma leve oscilação negativa nos contratos futuros do boi gordo — recuo mensal de 0,20% para julho —, o mercado físico permanece sustentado — +2,61% no acumulado do mês —, apoiado em bons índices zootécnicos e em uma demanda interna consistente.
No entanto, conforme os especialistas, os riscos logísticos internacionais, especialmente no segundo semestre, exigem que os pecuaristas acompanhem de perto os possíveis impactos indiretos sobre os custos e sobre as exportações de carne.

Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Cotações
1
Preços do café seguem em queda, aponta Cepea
2
Fertilizantes: preço pode retornar ao patamar de 2023 com conflito Israel x Irã
3
Oferta curta e demanda aquecida puxam alta do boi gordo
4
Café arábica opera abaixo de R$ 2 mil
5
Excesso de oferta derruba preço do frango no mercado interno
6
Óleo de soja: valorização externa passa de 15%

PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas

Cotações
Café arábica valoriza após o anúncio do tarifaço do Trump
Mesmo com a tarifa elevando os preços, norte-americanos não devem deixar de consumir café, aponta especialista

Cotações
Café despenca e soja reage: veja como se comportou o mercado em junho
Com oferta em alta, preço do milho segue viés de baixa no mercado físico e nos contratos futuros

Cotações
Vendas de etanol atingem menor nível da safra
Foram quase 20 milhões de litros a menos deste combustível frente ao período anterior, redução de 40,4%

Cotações
Importação de trigo argentino avança no Brasil
Volume importado no 1º semestre de 2025 supera em 6,3% o mesmo período de 2024
Cotações
Preços do milho atingem os menores níveis do ano
Início de julho tem oferta elevada e baixa paridade de exportação pressionando cotações
Cotações
Soja sobe com aumento de imposto na Argentina
Cepea aponta que exportadores dos Eua e Brasil podem ser beneficiados após elevação das retenciones
Cotações
Cessar-fogo no Oriente Médio traz alívio para os preços da soja
Com excesso de oferta e baixa demanda internacional, mercado futuro do farelo segue pressionado
Cotações
Preços do café caem mais de 20% em junho
Geadas em regiões cafeeiras importantes devem impactar a safra a ser colhida em 2026