Clima
Seca e calor no primeiro semestre aumentam riscos para a produção agrícola
Período foi marcado por chuvas abaixo da média e temperaturas mais altas em boa parte do Brasil, segundo análise da Nottus

Paloma Santos | Brasília | paloma.santos@estadao.com
24/08/2025 - 05:00

O primeiro semestre de 2025 foi marcado por chuvas abaixo da média e temperaturas mais altas em boa parte do Brasil, segundo análise da Nottus. O quadro não comprometeu o abastecimento imediato das lavouras no Centro-Oeste e no Matopiba (área que abrange Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), mas reduziu as reservas hídricas e elevou o risco de perdas no Nordeste.
“O nível de água no subsolo e em reservatórios ficou abaixo da média histórica, o que pode ter gerado risco de quebra nas lavouras do Nordeste na transição para o segundo semestre”, afirma Alexandre Nascimento, sócio-diretor e meteorologista da Nottus.
Segundo ele, o cenário faz parte de um padrão climático que aponta uma tendência de aumento na frequência de chuvas abaixo da média na região central do país nas últimas duas décadas. A bacia do rio Grande, que se estende entre Minas Gerais e São Paulo, registrou oito anos com precipitação inferior à média entre 2011 e 2023, em contraste com apenas um ano com esse comportamento de 2000 a 2010.
“Entre 2023 e o início de 2024, essa mudança no regime de chuvas foi acentuada pelo El Niño, que reduziu ainda mais as precipitações e elevou as temperaturas em um período crítico para o agronegócio”, explica Nascimento. Os efeitos deste contexto foram percebidos em alguns setores do agronegócio.

Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra 2023/2024 de soja sofreu uma quebra de mais de 15 milhões de toneladas em relação ao potencial estimado inicialmente. Estados como Mato Grosso, Bahia e Tocantins registraram perdas expressivas de produtividade.
A tendência reforça os alertas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) que prevê aumento da frequência e intensidade das secas em regiões tropicais e subtropicais como consequência do aquecimento global. “As estiagens deixaram de ser eventos excepcionais e passaram a ser parte do novo padrão climático na região Centro-Sul”, afirma o meteorologista.
O novo regime climático também trouxe extremos opostos. Enquanto o Sul do país enfrentou temporais e enchentes históricas, regiões como o Matopiba e o Paraná lidaram com estresse hídrico, atrasos no calendário agrícola e aumento da exposição a pragas e doenças nas lavouras.
Contrastes regionais
De acordo com o levantamento elaborado pela Nottus, os desvios de chuva não foram isolados, mas se repetiram em diferentes estações do ano, reforçando o caráter estrutural das mudanças em curso. Esse comportamento mostra que tanto a escassez quanto o excesso de chuvas deixaram de ser episódios ocasionais para se consolidarem como parte de um novo padrão climático, exigindo estratégias de adaptação mais robustas no planejamento agrícola.






Nos mapas acima, os tons em azul indicam chuva acima da média histórica de 30 anos (quanto mais escuro, maior o excesso). Já os tons em vermelho representam chuva abaixo da média (quanto mais escuro, maior o déficit).
“Esses eventos compõem um retrato das mudanças climáticas em curso, com reflexos diretos na produtividade agrícola, biodiversidade e economia nacional. Ignorar tal realidade é um risco, tanto do ponto de vista ambiental quanto socioeconômico”, alerta o executivo da Nottus.

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