Tirso Meirelles
Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp)
Esse texto trata de uma opinião do colunista e não necessariamente reflete a posição do Agro Estadão
Opinião
Produtor rural paga conta de má política fiscal
Falta de crédito adequado e margens cada vez mais estreitas comprometem a permanência de pequenos produtores na atividade
31/08/2025 - 08:00

O setor agropecuário brasileiro vive um momento delicado, especialmente para os pequenos produtores rurais, que enfrentam sérias dificuldades diante da política de crédito do governo federal. Nos últimos dois anos, as quebras de safra, somadas à queda nos preços das commodities, vêm corroendo a rentabilidade das atividades, o que agrava ainda mais a vulnerabilidade desses agricultores. Embora medidas de financiamento sejam anunciadas, a alta burocracia, os juros elevados e a exigência de garantias tornam o acesso ao crédito formal praticamente inviável para grande parte deles.
Esse cenário leva muitos a recorrerem à rolagem de dívidas e renegociações, além de alternativas informais de financiamento, que acabam por aumentar os custos e prolongar o endividamento. No curto prazo, tais mecanismos funcionam como um alívio, mas, à medida que as condições de mercado não se recuperam, a inadimplência se difunde, afetando não apenas os agricultores, mas também cooperativas, revendas e tradings que dependem da solidez desse setor para sustentar suas operações. O grande problema é que o Banco do Brasil, principal instituição de fomento ao setor, acaba jogando nas costas dos produtores a conta da má política fiscal do governo.
A política de crédito rural, que deveria ser um suporte em períodos de instabilidade, tem mostrado fragilidades. A concentração dos recursos nos grandes produtores e o baixo alcance de linhas efetivas de socorro financeiro aos menores prejudicam ainda mais a competitividade dos pequenos. Além disso, a falta de previsibilidade e de instrumentos de proteção mais eficazes contra oscilações de preços e eventos climáticos intensifica a dependência de renegociações constantes, criando um círculo vicioso de dívidas.
No campo, isso se traduz em dificuldades práticas: redução da capacidade de investir em tecnologia, insumos e maquinário, perda de produtividade e, em muitos casos, abandono da atividade agrícola. A pressão financeira gera também impactos sociais, já que milhares de famílias dependem diretamente da pequena produção para sobreviver e movimentar economias locais. Sem crédito adequado e com margens cada vez mais estreitas, a permanência desses produtores na atividade fica ameaçada.
Diante desse quadro, é urgente que o governo federal repense sua política de crédito rural, com foco em mecanismos mais inclusivos e sustentáveis. É necessário ampliar o acesso às linhas de financiamento com juros compatíveis à realidade do pequeno produtor, além de fortalecer instrumentos de mitigação de risco, como seguros agrícolas mais abrangentes. Sem medidas estruturais, a crise tende a se aprofundar, com efeitos que vão além do campo, comprometendo a segurança alimentar e a economia nacional.
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