Tiago Fischer
Engenheiro Agrônomo, professor do Insper e diretor da Stracta Consultoria
Esse texto trata de uma opinião do colunista e não necessariamente reflete a posição do Agro Estadão
Opinião
O perfil do produtor rural 2024 impulsionando a profissionalização das cadeias agropecuárias
Colunista Tiago Fischer debate como os produtores devem estar preparados para as demandas do mercado atual
Atualmente, muito se discute em meios acadêmicos, técnicos e práticos do agronegócio sobre a introdução de práticas e tecnologias, que possam proporcionar os novos ciclos de evolução para a produção e a gestão das fazendas. O foco é dar um novo passo para o desenvolvimento do agronegócio brasileiro, rumo ao seu papel (em muitos casos já alcançado) de protagonista tanto em volume produzido de commodities agropecuárias, como também na utilização de técnicas, ferramentas e indicadores modernos de produção.
O mantra de “entregar o que o cliente quer” sempre foi a tônica da agenda desenvolvimentista do agro brasileiro, principalmente, após o final da década de 80 e início da década de 90. Tempo em que a real expressividade da produção nacional no cenário internacional começou, de maneira profissional, a mostrar sua cara.
Os desafios dos anos atuais não têm origem diferente! Somos e seremos por muitos anos a máquina propulsora do fornecimento de matérias primas alimentícias para os mais diferentes mercados mundiais em escala e multiplicidade de produtos e cadeias produtivas, o que nos torna imprescindíveis ao crescimento populacional e a elevação do consumo do mundo moderno. Ainda assim, “entregar ao cliente o que ele quer” se mantém mais válido do que nunca e nós, como fornecedores profissionais, devemos, antes de qualquer outra discussão, entender tais demandas e adaptá-las as nossas práticas de produção.
Entregar ao mercado comprador as principais demandas “do passado” como elevação dos índices de produção, melhoria da performance produtiva, elevação na qualidade do produto – desde a origem, atendimento a diferentes agendas de compliance (em principal ao código florestal), entre outros, continuam sendo desafios presentes no dia a dia das fazendas. Contudo, o comprador moderno quer mais. O que coloca o agro brasileiro em cheque novamente.
Atualmente, a produção brasileira é instigada a produzir em novos patamares de gestão e compliance, tendo que acelerar sua curva de aprendizado introduzindo novas tecnologias de produção, de gestão, de impactos (ambientais, sociais, produtivos e de governança), controles de indicadores de produção de ponta a ponta (bem-estar animal, rastreabilidade, métricas de uso e performance talhão a talhão, entre outras). Além de garantir que os volumes e a qualidade se mantenham crescentes.
Na vanguarda do processo de aceleração dessas inovações, as grandes empresas fornecedoras do agro (antes da porteira), assim como as compradoras da produção das fazendas (depois da porteira), em conjunto com o célebre trabalho das universidades e entidades de pesquisa técnica, vêm há décadas promovendo novos patamares de transformação e oferta de tecnologias ao campo. Contudo, o real catalisador dos processos
de introdução tecnológico e desenvolvimento profissional do agro é, sem dúvida, a mudança de perfil do produtor rural brasileiro!
O produtor nacional é um mutante por natureza. Sua capacidade de adaptação às variações climáticas, às novas técnicas de produção, ao aparecimento de novas pragas e doenças e às mudanças de demanda de mercados compradores sempre foram o grande propulsor do posicionamento globalizado da produção brasileira em 2024.
O produtor moderno é uma entidade a ser estudada pelos mais brilhantes sociólogos do nosso mercado. E que, o próprio Agro, conhece muito pouco. É um profissional atingido e questionado por preconcepções de simplicidade, tradicionalismo, preso ao passado e com dificuldades de aprendizado e adaptação às novas tecnologias, mas que, na verdade, é um gestor de um empreendimento complexo sem, na maioria dos casos, ter o mínimo de formação técnica de administração de empresas. É um histórico usuário de tecnologias que faria outros setores da nossa economia reconhecidamente fortes nesse tema, como o automotivo e o financeiro, ficarem com inveja. É um gestor de gestor de pessoas e processos sem formação em engenharia de produção ou mesmo em desenvolvimento humano e faz tudo isso garantindo que o centro do seu negócio, a produção agropecuária, tenha elevações constantes.
Nas últimas duas décadas, prioritariamente, esse perfil vem ganhando tecnicalidade. Com a profissionalização dos negócios de produção ocasionada pelo crescimento das empresas produtivas e suas contratações de profissionais técnicos/ especialistas terceirizados. Além do retorno e/ou manutenção no negócio das novas gerações, que tiveram a oportunidade de estudo que seus pais não tiveram. Tudo isso aliado ao acesso fluido à informação e aprendizado, ocasionados pela transformação tecnológica moderna. Os negócios rurais passaram, então, a evoluir de maneira muito mais acelerada, se transformando, afinal, em um termo muito utilizado pelos estudiosos dos agronegócios desde a década de 1990: “uma indústria a céu aberto”.
Mas estes novos patamares de profissionalização deixam um questionamento para o futuro:
Se o produtor brasileiro, sem formação técnica na maioria dos processos de produção modernos, nos colocou entre os líderes de fornecimento de alimentos em escala global, o que fará essa nova geração de produtores detentores de conhecimentos que vão muito além das técnicas de produção passando por finanças, processos, economia, sustentabilidade, digitalização e outros?
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