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Tirso Meirelles

Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp)

Esse texto trata de uma opinião do colunista e não necessariamente reflete a posição do Agro Estadão

Opinião

O agronegócio nacional na geopolítica global

O agronegócio brasileiro ocupa uma posição estratégica no cenário global, sendo responsável por grande parte do superávit da balança comercial do país 

11/05/2025 - 08:00

Foto: Adobe Stock
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Com destaque na produção de grãos, carnes, frutas e biocombustíveis, o setor agro é altamente competitivo, sustentado por uma combinação de tecnologia de ponta, clima favorável e grandes extensões de terra agricultável. Contudo, o cenário geopolítico atual, em constante transformação, impõe novos desafios e oportunidades ao agro nacional, exigindo atenção às transformações nos fluxos de comércio, nas cadeias produtivas e na segurança alimentar global.

A guerra entre Rússia e Ucrânia, iniciada em 2022, ainda tem efeitos significativos sobre os mercados globais de fertilizantes, grãos e energia. O Brasil, grande importador de fertilizantes nitrogenados, potássicos e fosfatados, viu-se exposto à volatilidade de preços e à instabilidade no fornecimento desses insumos, o que acentuou a necessidade de diversificar origens e investir em produção interna. Acabamos perdendo a oportunidade de investir em nossas reservas de insumos e sermos independentes dessas importações. Em contrapartida, o conflito também abriu espaço para o Brasil ampliar sua presença como fornecedor confiável de alimentos, especialmente milho e trigo, para países que tradicionalmente dependiam do Leste Europeu.

Outro fator é o reposicionamento da China no comércio agrícola. O país asiático tem buscado aumentar sua segurança alimentar por meio da diversificação de parceiros comerciais e do estímulo à autossuficiência. Embora o Brasil continue sendo o principal fornecedor de soja e carne para os chineses, há sinais de que Pequim pretende reduzir sua dependência externa a médio prazo. Isso impõe ao agro brasileiro o desafio de ampliar sua inserção em outros mercados asiáticos, africanos e no Oriente Médio, reforçando estratégias de diplomacia comercial e adequação a exigências sanitárias e ambientais.

No contexto da transição energética e das discussões climáticas globais, o agronegócio também está cada vez mais inserido nas agendas de sustentabilidade. Pressões internacionais por descarbonização das cadeias produtivas, combate ao desmatamento e rastreabilidade de produtos agrícolas têm levado o Brasil a reavaliar práticas e políticas públicas. A aprovação de legislações como a Lei Europeia Antidesmatamento (EUDR) pode afetar exportações nacionais de commodities como soja e carne, exigindo maior transparência e controle sobre a origem dos produtos.

Nesse novo ambiente, a diplomacia agrícola ganha protagonismo. A participação brasileira em fóruns multilaterais como a Organização Mundial do Comércio (OMC), o G20 e a FAO tem sido crucial para defender interesses do setor diante de barreiras técnicas e sanitárias, muitas vezes utilizadas como instrumentos protecionistas. Além disso, o Brasil tem buscado firmar novos acordos comerciais bilaterais e regionais para reduzir a dependência de mercados concentrados. A ampliação do Acordo Mercosul-União Europeia e as negociações com países do Indo-Pacífico são exemplos desse esforço de inserção estratégica.

É imprescindível que o agro nacional se adapte às novas exigências tecnológicas e geopolíticas sem perder sua competitividade. Investimentos em inovação, bioinsumos, agricultura regenerativa e digitalização são caminhos promissores para manter a produtividade e atender aos critérios socioambientais crescentes. O fortalecimento das instituições do setor, a estabilidade regulatória e a coordenação entre setor público e privado serão determinantes para que o Brasil continue sendo um protagonista no abastecimento alimentar global em um mundo cada vez mais instável e multipolar.

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