
Marcello Brito
Engenheiro de alimentos, professor e diretor do FDC Agroambiental.
Esse texto trata de uma opinião do colunista e não necessariamente reflete a posição do Agro Estadão
Opinião
Agropecuária e restauração florestal: aliança estratégica para o futuro do campo brasileiro
Modelos produtivos que integram conservação e produção mostram que é possível gerar renda sem destruir o meio ambiente
09/05/2025 - 08:00

O Brasil ocupa posição de destaque na produção agropecuária mundial, mas também enfrenta o desafio de equilibrar esse papel com a conservação de seus ecossistemas. Em meio às pressões por maior produtividade e às exigências por sustentabilidade, começa a ganhar força uma abordagem que alia a produção rural à restauração florestal comercial e para fins de conservação e carbono — uma integração que se revela cada vez mais estratégica.
A restauração ecológica, historicamente tratada como um custo ou obrigação legal, hoje é reconhecida como aliada do produtor. Isso se evidencia em sistemas como a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), que associa diferentes atividades produtivas em uma mesma área, promovendo ganhos econômicos e ambientais. Nesses sistemas, árvores plantadas junto ao pasto fornecem sombra e conforto térmico para o gado, o que melhora seu bem-estar e desempenho, ao mesmo tempo que contribuem para a recuperação do solo e a conservação da biodiversidade.
Experiências como a da Fazenda Santa Cruz, em Minas Gerais, demonstram que práticas restaurativas podem beneficiar diretamente a produção, ao proteger nascentes e garantir maior estabilidade hídrica. No Vale do Paraíba (SP), assentados utilizam sistemas agroflorestais com café e árvores nativas, promovendo restauração ambiental e geração de renda. Em Planaltina (DF), agricultores familiares apostam em corredores agroecológicos que recuperam o cerrado e fortalecem a soberania alimentar.
Esses exemplos mostram que restauração florestal e agropecuária não são atividades opostas, mas complementares. Quando bem planejadas, podem garantir produtividade no presente e resiliência no futuro. Além disso, permitem diversificar a renda do produtor com produtos como frutas nativas, sementes, madeira de manejo sustentável e serviços ambientais, como o crédito de carbono e ativos da biodiversidade.
O caminho para ampliar essa integração passa por políticas públicas de incentivo, crédito rural verde, assistência técnica especializada e valorização dos produtos oriundos de sistemas sustentáveis. Fator essencial para que tudo isso aconteça será a canalização de recursos financeiros que viabilizem as ações de transição. Passamos por um momento de construção de novas estruturas de atração de capital e cabe aqui destacar uma nova frente de financiamento de políticas públicas que podem ser desenhadas especialmente para o incremento de uma produção que alia aumento de performance e preservação.
Trata-se dos modernos programas jurisdicionais que, organizados a nível estatal, observam as particularidades de cada região e são desenhados para trazer os ganhos dos mercados de carbono para o financiamento de políticas públicas específicas.
O capital gerado por esses programas permite ao poder público melhorar as suas performances, através do capital vindo do setor privado. É uma nova dinâmica público-privada. Trata-se de um investimento estratégico para um campo mais produtivo, resiliente e em harmonia com os biomas brasileiros. Que os diálogos propiciados pela realização da COP30 no Brasil acelerem nossa evolução nessa parceria de tantos ganhos econômicos, sociais e ambientais

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