Agropolítica
Plano Safra da Agricultura Familiar: “o objetivo é que não haja aumento de juros”, diz MDA
Políticas públicas para agricultores familiares somam R$ 19,2 bilhões; Desenrola Rural já atingiu 20 mil renegociações de dívidas rurais

Daumildo Junior | Brasilia | daumildo.junior@estadao.com | Atualizada às 19h35
15/04/2025 - 18:00

A expectativa da secretária executiva do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), Fernanda Machiaveli, é de que os juros do Plano Safra da Agricultura Familiar não tenham aumento. Na avaliação dela, o valor previsto no Orçamento da União é capaz de manter as atuais taxas, mesmo com os juros básicos (Selic) devendo chegar a 15% ao ano na metade do ano.
“Nosso desafio é conseguir manter um Plano Safra com a mesma qualidade num contexto onde as taxas de juros estão mais elevadas. A perspectiva é que a gente consiga priorizar os agricultores familiares. Nosso objetivo é que não haja aumento das taxas de juros, especialmente para que nós consigamos proteger o financiamento dos alimentos e dos maquinários agrícolas”, disse Machiaveli a jornalistas durante entrevista coletiva nesta terça-feira, 15.
De acordo com a secretária, o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) tem R$ 8,3 bilhões para a equalização dos juros, e o Pronaf A tem mais R$ 500 milhões. Na comparação com o Plano Safra da Agricultura Familiar 2024/2025, foram necessários 7,7 bilhões para a subvenção dos juros.
Atualmente, o Pronaf tem juros que variam de 0,5% a 6% ao ano. Somando as diferentes linhas de financiamento dentro do programa, os agricultores têm R$ 76 bilhões de crédito rural disponíveis no atual Plano Safra da Agricultura Familiar.
R$ 19,2 bilhões para políticas da agricultura familiar
O ministério também apresentou a previsão orçamentária deste ano para políticas públicas envolvendo a agricultura familiar. Em 2025, serão cerca de R$ 19,2 bilhões. Esse valor é dividido em:
- Administração direta do MDA: R$ 531,7 milhões;
- Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra): R$ 781,9 milhões;
- Companhia Nacional de Abastecimento (Conab): 709,8 milhões;
- Fundo de Terras e da Reforma Agrária: R$ 411,7 milhões;
- Garantia-Safra: R$ 468 milhões;
- Crédito-Instalação: R$ 503,2 milhões;
- Programa de Aquisição de Alimentos (PAA): R$ 1,18 bilhões;
- Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro): R$ 5,78 bilhões;
- Pronaf: R$ 8,8 bilhões.
Em relação ao ano passado, o valor é 17,5 % maior. Segundo dados do MDA, foram empenhados R$ 16,3 bilhões em 2024. Em relação a 2023, o número não é muito diferente, já que naquele ano foram executados R$ 19 bilhões para essas políticas, porém, boa parte desse montante foi devido às despesas do Proagro, que passaram o que estava previsto e chegaram a R$ 9,4 bilhões.
Mudanças no Proagro estão sendo reavaliadas
As mudanças no Proagro feitas nos últimos dois anos estão em processo de reavaliação, segundo a secretária do MDA. Isso porque algumas dessas alterações acabaram excluindo produtores rurais que não deveriam ser afetados. Uma dessas medidas em discussão entre a pasta e o Banco Central é a resolução 5.085 do Conselho Monetário Nacional. Essa normativa estabelece que a partir de julho de 2025 propriedades que registrarem mais de cinco perdas nos últimos cinco anos não se enquadrarão no Proagro.
“Por exemplo, o agricultor familiar que tem na sua propriedade quatro culturas e, portanto, quatro contratos, se ele tivesse uma perda, não poderia mais acessar o Proagro nas próximas safras porque o limite são cinco perdas. Isso estava criando uma penalização injusta, porque foi a mesma seca que o atingiu. Essa negociação foi na segunda-feira [14] com o Banco Central. O Proagro vai ter uma revisão na última portaria e isso deve acontecer nas próximas três semanas”, pontuou Machiaveli.
Sobre os valores para o cumprimento do programa – R$ 5,78 bilhões, o entendimento da pasta é que são suficientes. “Com as previsões climáticas para este ano, com as alterações que já foram feitas, nós conseguimos prever que esse orçamento será suficiente. O que acontece é que o Proagro tem uma agenda de pagamentos e boa parte desses ajustes que nós fizemos não tem incidência agora, não deu para sentir o efeito [agora]”, ressaltou.
Desenrola Rural já teve mais de 20 mil renegociações de dívidas
O Programa de Regularização de Dívidas e Facilitação de Acesso ao Crédito Rural da Agricultura Familiar (Desenrola Rural) já teve mais de 20 mil agricultores familiares beneficiados. A meta da pasta é que ao menos 250 mil produtores tenham as dívidas regularizadas e voltem a acessar o crédito rural.
A secretária executiva do MDA destacou que o número é positivo, mas também está abaixo da necessidade para bater o objetivo colocado pelo governo. Ações conjuntas com bancos e outros órgãos estão sendo construídas para impulsionar o acesso ao programa.
“O que a gente vai fazer para acelerar isso é a realização de mutirões. Já começam a acontecer mutirões em que os próprios bancos, a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, o Incra se transferem, fazem um momento de recepção das demandas de forma coletiva, emitem CAF [Cadastro Nacional da Agricultura Familiar], resolvem problemas de documentação, ajudam esse agricultor a encontrar onde está a dívida dele, porque isso é uma dificuldade que a gente tem observado”, comentou Machiaveli. “Além dos mutirões, o Banco do Nordeste está organizando um dia D, que é um dia onde os sindicatos rurais vão se organizar para receber os agricultores e auxiliarem no processo de renegociação. Na região Centro-Sul, o Banco do Brasil também está organizando caravanas do Desenrola Rural com o MDA”.

Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Agropolítica
1
Renegociação de dívidas rurais não está esgotada, diz Haddad
2
Trump corta tarifa da celulose; carne e café podem ser os próximos
3
Acordo Mercosul-EFTA zera tarifas de 99% das vendas brasileiras ao bloco europeu
4
Novo imposto de renda: o que muda para o produtor rural?
5
Alesp vota PL que corta benefícios de pesquisadores e ameaça autonomia científica
6
RS: aula inaugural contra o agronegócio em Pelotas gera reação do setor

PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas

Agropolítica
Mais cidades do RS são incluídas em renegociação de dívidas rurais
Medida é vista como reparo a exclusões anteriores e resultado de pressão de entidades do agro e do governo gaúcho

Agropolítica
Antes de aposentadoria, Barroso muda rumo da Moratória da Soja no STF
Pedido do ministro leva ao plenário presencial a análise da lei de MT que proíbe benefícios a empresas envolvidas em acordos comerciais

Agropolítica
Itamaraty confirma conversa de Vieira com Rubio e diz que delegação vai aos EUA
Reunião entre comitiva brasileira e equipe norte-americana para debater tarifaço deverá ser em Washington, mas ainda sem data definida

Agropolítica
MP que altera impostos sobre investimentos caduca e agro comemora
Líder da bancada ruralista fala em “ameaças” ao setor para que a medida fosse aprovada
Agropolítica
Isenção de IPI para máquinas agrícolas avança na Câmara
Projeto de Lei 1853/24 foi aprovado na Comissão de Agricultura e segue para análise em outras comissões
Agropolítica
Flávio Dino pede vista e julgamento da Ferrogrão é suspenso
Dois ministros já manifestaram votos favoráveis à lei que suprime área de parque para acomodar traçado da linha férrea
Agropolítica
Ruralistas pedem urgência em lei que autoriza Estados a controlar javalis
FPA quer garantir competência estadual no manejo de fauna antes de decisão do STF sobre constitucionalidade da prática
Agropolítica
CNA reelege João Martins como presidente da entidade
Há mais de 10 anos à frente da confederação, Martins mira em futuro com acesso à capacitação