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Agricultura

Produtores de MT desaceleram investimentos: "momento é de cautela"

Aumento do risco e margens menores tem comprometido expansão sobre áreas de pastagens degradadas, principal terreno para crescimento de produção no País

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Daumildo Júnior* | Itaúba (MT) e Paranatinga (MT) | daumido.junior@estadao.com

27/10/2025 - 05:00

Igor Biancon, produtor rural e um dos donos do Grupo Biancon | Foto: Daumildo Júnior/Agro Estadão
Igor Biancon, produtor rural e um dos donos do Grupo Biancon | Foto: Daumildo Júnior/Agro Estadão

Grandes grupos agrícolas de Mato Grosso estão com o pé no freio para novos investimentos e expansão de área. Uma combinação de margens apertadas, juros elevados e o temor da inadimplência ajuda a explicar o quadro. 

Com mais de 24 mil hectares de áreas agricultáveis em cinco locais diferentes, o Grupo Biancon é um dos maiores na região de Sinop (MT). Na safra passada, teve bom resultado nas colheitas, com uma produção de 90 mil toneladas de soja, 78 mil de milho, 18 mil de pluma de algodão, além de 7 mil cabeças de gado no plantel atual. Mesmo assim, não há perspectiva de investimentos. 

CONTEÚDO PATROCINADO

“Nesse momento, a grande maioria dos produtores vai adotar uma postura de cautela. Pelo menos, é o que eu tenho visto nas conversas que a gente tem. Não é momento de expandir a área”, disse ao Agro Estadão um dos donos do Grupo, Igor Biancon.

Há cerca de 500 quilômetros dali, outro conglomerado de fazendas tem pensamento parecido. O Grupo JCN tem a maior de suas propriedades em Paranatinga (MT), com cerca de 22,7 mil hectares em uso na Fazenda Reunidas. A maior parte do faturamento, entre 45% e 50%, vem do algodão, que, na última safra, teve uma produção na casa de 33 mil toneladas da pluma. 

O diretor geral do grupo, Elson Aparecido Esteves, comenta que, mesmo para essa cultura, os preços praticados têm espremido o lucro. “Esse ano, como o nosso faturamento é muito forte na cultura do algodão, e o algodão está muito baixo, o preço está muito ruim, vai afetar as margens da empresa”, afirmou à reportagem. 

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Por lá, tomar crédito para novos investimentos também não está na agenda. Esteves contou que, por enquanto, os investimentos em andamento são em áreas de pastagens degradadas cujo financiamento foi feito em 2023, através do programa Reverte, e não tem recursos adicionais.

Elson Esteves, do Grupo JCN: preços têm espremido os lucros. Foto: JCN/Divulgação

Bancos mais cautelosos

Uma das consequência desse cenário é a restrição no crédito. Essa é a leitura que o produtor Biancon faz com relação às instituições financeiras. “Você vê que os bancos hoje estão com um cuidado muito mais abrangente na hora de conceder crédito, fazendo uma análise muito mais criteriosa. Então, aquele financiamento abundante, vamos dizer assim, que todo mundo queria financiar o agronegócio, que aconteceu cinco anos atrás, ele não existe mais”, reforçou. 

A elevação das exigências na liberação do crédito é reconhecida pelas financeiras. O head de ESG Agro do Itaú BBA, João Adrien, vê o cenário como “um momento de muita atenção” e diz que todo o setor está “cauteloso”. Segundo ele, além do preço das commodities, há uma valorização do real frente ao dólar, o que pressiona ainda mais a margem desses grandes produtores que comercializam na moeda estrangeira.

“É um cenário desafiador porque você tem um começo de safra com juros altos, custo de produção mais alto, e, evidentemente que vai depender da conjuntura, mas um dólar mais baixo. Então, a margem ficou ainda mais apertada. Eu acho que todo o setor está muito cauteloso. E a gente tem visto as RJs [Recuperações Judiciais] aumentarem bastante em certas regiões, o que traz ainda mais insegurança”, acrescentou. 

Expansão sobre pastagens degradadas em ritmo lento

Nesse quadro, não só as aplicações em renovação do maquinário são afetados, mas também investimentos de forma geral, como construção de armazéns e a conversão de áreas degradadas. “Investimento a curto prazo a gente não vê possibilidade. O cenário, no total, não dá para ver nenhuma perspectiva de investimento, nem de aumentar a área, nem de construir silo, nem de construir armazém. Não tem como”, indicou o diretor geral do Grupo JCN. 

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Com isso, mesmo programas com condições mais favoráveis para conversão de pastagens degradadas, como o Reverte, têm visto o fôlego de expansão diminuir. No caso da iniciativa promovida pela Syngenta e pelo Itaú BBA, a área recuperada em 2024 foi de aproximadamente 77 mil hectares. Já para este ano, a perspectiva é de que chegue aos 60 mil hectares.

“Este ano, a gente precisa ser muito responsável com o agricultor, de entender um projeto [de recuperação de áreas degradadas]. Nesse momento que a margem da soja é desafiadora, o produtor tem menos apetite para investimento em razão desse cenário de dificuldade de crédito, uma taxa de juros mais alta”, comentou o gerente do Reverte e de projetos de Sustentabilidade da Syngenta, Jonas Oliveira.   

*Jornalista viajou a convite da Syngenta e do Itaú BBA 

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