Agricultura
Brasil tem 28% da área irrigada com conectividade, aponta estudo
Minas Gerais lidera o ranking nacional de área irrigada, mas registra 26,54% de conectividade nos pivôs centrais

Sabrina Nascimento | São Paulo | sabrina.nascimento@estadao.com
30/09/2025 - 05:00

Apesar de os pivôs centrais de irrigação estarem entre as tecnologias mais modernas do agronegócio, a conectividade nas regiões onde são instalados ainda é bastante limitada. No Brasil, apenas 28,26% da área total irrigada por pivô conta com cobertura móvel de internet 4G ou 5G, aponta o estudo ‘Conectividade na Irrigação’. O levantamento foi realizado pela Conectar Agro em parceria com a Universidade Federal de Viçosa.
Da área total irrigada, apenas 13,55% dos pivôs possuem 100% de sua área coberta por sinal, o que significa que a maioria das áreas irrigadas ainda opera sem suporte adequado de tecnologias digitais. Para Paola Campiello, presidente da Conectar Agro, os números reforçam a disparidade entre o avanço da mecanização agrícola e a infraestrutura digital disponível no campo. “O grande produtor já conecta o campo. Mas o pequeno produtor, que representa 80% do que nos alimenta, não têm conectividade porque não consegue infraestrutura de telecomunicações”, afirmou em conversa com o Agro Estadão.
A pesquisa mostra grande desigualdade regional. Minas Gerais, que lidera o ranking nacional de área irrigada, registra 26,54% de cobertura nos pivôs centrais. Enquanto isso, São Paulo — com mais de 247 mil hectares irrigados — apresenta um índice superior: 53,45%. Já em Mato Grosso, Estado líder na produção nacional de grãos, a cobertura é de 25,15%.
Em contraste, Rondônia, com 656 mil hectares de área com pivôs, não tem nenhuma área irrigada com conexão, e Santa Catarina aparece com apenas 1%. (Confira a tabela completa abaixo).
Municípios
No nível municipal, o contraste se acentua. Paracatu (MG), que possui a maior área irrigada do Brasil, tem somente 1,58% da área com cobertura de internet móvel. Já Luís Eduardo Magalhães (BA), importante polo da região do MATOPIBA, registra 51,7%. Outros municípios de destaque, como Cristalina (GO) e Sorriso (MT), ficam no meio do caminho, com 37,57% e 28,80% de cobertura, respectivamente.
De acordo com Paola, o principal gargalo em todos os casos é a infraestrutura de telecomunicações em regiões rurais e remotas, muitas vezes sem acesso sequer à energia elétrica. “O primeiro ponto é que precisamos de infraestrutura. O nosso país é gigante e existem áreas que nem têm energia elétrica. Tem regiões em Mato Grosso, por exemplo, onde as pessoas dependem de geradores a diesel. Então, esse é o primeiro ponto: infraestrutura”, sinaliza.
Caminhos
Para Campiello, a ampliação da conectividade em áreas irrigadas pode trazer ganhos imediatos em sustentabilidade e eficiência. “Imagina se eu tivesse conectividade para fazer monitoramento em tempo real da irrigação e cruzar com análise climática. O produtor só vai irrigar quando houver necessidade, gerando economia de água e maior controle no uso dos recursos”, disse.
Uma das saídas apontadas por ela é tornar o Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações, conhecido como Fust, mais efetivo no meio rural. Criado em 2000, o fundo visa destinar recursos para cobrir custos de implantação de serviços de telecomunicações e promover a universalização do acesso à internet e outros serviços digitais.
Mas, segundo a presidente do Conectar Agro, hoje, os recursos do Fust estão concentrados em conectar escolas. “É preciso ir além da sala de aula. O estudante sai da escola e volta para uma casa sem internet. E o pequeno produtor também precisa de dados básicos para decidir o momento de irrigar, plantar ou pulverizar”, destacou.
Modelo de sucesso
Além disso, modelos estaduais têm chamado a atenção como possíveis soluções para acelerar a conectividade no campo. Um dos exemplos citados por Campiello vem do Paraná. Por lá, recentemente, houve a aprovação de um projeto de Lei (PL) que permite o repasse de créditos de ICMS para operadoras investirem em infraestrutura de conectividade no campo.
Em Minas Gerais, tramita um projeto semelhante. O PL 3755/2025, que aguarda a votação da redação final em plenário da Assembleia, visa instituir a política de fomento à conectividade e telefonia celular no Estado. Se aprovado, seguirá para sanção do governador Romeu Zema. “Se aplicado, pode transformar um estado que concentra a maior área irrigada do país, mas que ainda tem municípios como Paracatu com menos de 2% de cobertura”, afirmou Campiello.
A executiva lembra ainda que ampliar a rede digital no campo é também um fator de inclusão social e de sucessão familiar. “Na Alemanha, 90% da área rural é conectada, enquanto no Brasil não chegamos a 33%. Mais conectividade significa maior produtividade, mas também oportunidade de fixar jovens no campo e reduzir o êxodo rural. Isso é tão estratégico quanto a irrigação”, pontua.
Confira a tabela dos estados com área irrigada e cobertura de conectividade no Brasil:
Estados Irrigantes | |||
Estado | Área dos pivôs (ha) | Área conectada (ha) | Percentual da área conectada |
Minas Gerais | 559.693,11 | 148.559,04 | 26,54% |
Goiás | 313.446,31 | 76.742,02 | 24,48% |
Bahia | 294.324,75 | 51.053,91 | 17,35% |
São Paulo | 247.009,36 | 132.020,04 | 53,45% |
Rio Grande do Sul | 195.267,84 | 47.728,41 | 24,44% |
Mato Grosso | 166.131,51 | 41.789,40 | 25,15% |
Mato Grosso do Sul | 39.945,82 | 7.360,80 | 18,43% |
Paraná | 17.333,92 | 8.524,97 | 49,18% |
Tocantins | 15.501,12 | 6.176,70 | 39,85% |
Distrito Federal | 15.239,17 | 5.265,27 | 34,55% |
Espírito Santo | 12.643,58 | 6.365,19 | 50,34% |
Maranhão | 11.731,59 | 3.407,10 | 29,04% |
Ceará | 8.212,78 | 5.949,52 | 72,44% |
Pará | 7.467,79 | 2.784,51 | 37,29% |
Rio Grande do Norte | 3.256,24 | 1.026,18 | 31,51% |
Paraíba | 3.101,00 | 2.400,13 | 77,40% |
Piauí | 2.905,63 | 858,68 | 29,55% |
Roraima | 2.521,25 | 377,14 | 14,96% |
Alagoas | 1.103,89 | 444,24 | 0,08% |
Pernambuco | 810,11 | 395,80 | 48,86% |
Rondônia | 656,13 | 0,00 | 0,00% |
Santa Catarina | 533,62 | 5,34 | 1,00% |
Sergipe | 506,09 | 256,14 | 50,61% |

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