Produção do biocombustível é mais afetada pela ação da broca-da-cana, segundo levantamento do Pecege e do Centro de Tecnologia Canavieira
Um estudo realizado pelo Pecege Consultoria e Projetos e pelo Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), ambos de Piracicaba (SP), no interior paulista, levantou o impacto da broca da cana-de-açúcar, uma das principais pragas que atingem os canaviais brasileiros, sobre os custos de produção do açúcar branco e do etanol. O levantamento foi dividido em duas partes, com dados da safra 2023/24.
A primeira parte avaliou o processamento industrial em 94 usinas sucroenergéticas na região Centro-Sul do país. Já a segunda observou, em 115 usinas, sendo 85 no Centro-Sul, o mercado de inseticidas usados no combate à broca – que provoca, segundo estimativas de especialistas, prejuízos que variam de R$ 4 bilhões a R$ 5 bilhões por ano ao segmento canavieiro.
As maiores perdas acontecem quando a praga está no estágio larval, porque as lagartas são capazes de abrir galerias nos colmos da cana, reduzindo o teor de Açúcar Total Recuperável (ATR).
Na pesquisa sobre o processamento industrial, os pesquisadores compararam os custos para açúcar e etanol quando não existe infestação com vários cenários de incidência do inseto – a partir de 1,7% dos canaviais acometidos até 8,5%.
Conforme o índice de pragas aumenta, foi observado que os impactos na produção de etanol vão se distanciando em relação ao açúcar. Por exemplo: para uma infestação de 1,7%, o impacto nos custos do açúcar é de 1%, enquanto nos do etanol, de 3,7%.
Já com 8,5% de infestação, o incremento nas despesas é de 5,9% para o açúcar (média de R$ 231 contra R$ 218 por tonelada de cana) e de 21% para o etanol (média de R$ 285 contra R$ 235 por tonelada de cana). Esses índices podem sofrer variações conforme a quantidade de produto gerado.
Quando é avaliado o mercado de inseticidas, o estudo aponta que, embora o ataque da broca tenha efeitos semelhantes ao das cigarrinhas-das-raízes e do bicudo da cana (Sphenophorus levis), o gasto com produtos para o combate à praga no período avaliado correspondeu a mais da metade da área tratada pelas usinas.
Com isso, o Clorantraniliprole, cujo espectro de ação inclui a broca, foi o princípio ativo de inseticida mais comercializado no Brasil em valor total. O Estado de São Paulo, que, na safra 2023/24 respondeu por 54% da cana colhida no país, lidera a lista de compras.
De acordo com Haroldo Torres, pesquisador do Pecege Projetos, o levantamento reforça a importância de compreender os danos causados pela broca ao setor sucroenergético. “Os dados obtidos não apenas quantificam as perdas, mas evidenciam a necessidade de estratégias mais eficazes de controle e mitigação”.
Ricardo Neme, gerente de marketing do CTC, destaca a importância da tecnologia Bt na cana-de-açúcar, que consiste na disponibilização, pelo próprio CTC, de variedades transgênicas a partir da inserção da bactéria Bacillus thuringiensis, que produz proteínas com efeito inseticida.
“Com isso, a eficácia de controle da broca da cana é superior a 95%, praticamente zerando os danos causados pela praga, tanto na área agrícola quanto no processamento industrial. Oferecer ao setor uma solução que elimina o problema da broca-da-cana foi apenas a primeira entrega do CTC e da biotecnologia ao nosso setor”.
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