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Irrigação com vinhaça é alternativa para salvar canaviais em períodos secos
Geralmente usado como fertilizante, resíduo da produção de etanol foi aplicado na safra 2024/25 para aliviar estresse hídrico provocado por estiagem prolongada

Igor Savenhago | Ribeirão Preto (SP)
24/04/2025 - 08:00

O Grupo Tereos começou a usar, na safra 2024/25, a vinhaça, resíduo da produção de etanol, nas operações de salvamento dos canaviais. Das sete unidades sucroenergéticas mantidas pelo grupo, todas no estado de São Paulo, seis já fazem esse tipo de aplicação.
A supervisão de salvamento é, geralmente, realizada por usinas e produtores de cana em anos de clima muito seco, como ocorreu em 2024. Ela pode ser feita apenas com água, o que é mais comum, mas os experimentos da Tereos demonstraram que, com a vinhaça, é possível, além de hidratar a cana, fornecer doses maiores de nutrientes, auxiliando na brotação em períodos críticos.
O diretor de operações industriais da Tereos, Everton Carpanezi, explica que a solução começou a ser testada em 2021, ano que o estado também registrou uma forte seca, mas não precisou ser implementada até o ano passado, quando a produção sofreu novamente os efeitos climáticos.
Levantamentos do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), ligado ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCIT), apontam que a intensidade da estiagem no país em 2024 foi a maior desde 1950, ano em que as medições começaram a ser feitas.
Em São Paulo, a seca extrema ou severa atingiu, pelo menos, 60% das cidades. Foram mais de nove meses sem chuvas ou com precipitações muito abaixo das médias históricas, o que deve ser uma tendência para os próximos anos. O Cemaden chegou a afirmar que, desde 2024 e 2015, quando houve também períodos críticos, não haviam sido registrados patamares tão preocupantes, especialmente no noroeste do estado, onde está boa parte das atividades da Tereos.
“Durante esses anos secos, a prioridade é irrigar canas colhidas entre junho e setembro, onde há maior déficit hídrico para sua brotação. A aplicação deve ser feita nos primeiros 20 dias após a colheita”, explica Carpanezi.
20% para o salvamento

Segundo ele, a vinhaça já era amplamente usada nos canaviais do grupo, mas com foco em melhorar a fertilidade do solo, não como medida para aliviar o estresse hídrico. O diretor de operações industriais conta que, de toda a vinhaça produzida pela Tereos, 80% continuam sendo direcionados para a nutrição das lavouras, de forma localizada. Já os outros 20% são para a segurança de salvamento — percentual que correspondeu, na safra 2024/25, a 1,2 milhão de metros cúbicos, suficientes para cobrir 30 mil hectares.
Para esse tipo de operação, é utilizada a mesma estrutura de aplicação de vinhaça localizada, para aumentar a quantidade de água ofertada ao solo. Na prática, cada propriedade recebe um volume de vinhaça maior, respeitando o limite do Plano de Aplicação da Vinhaça (PAV), já que o resíduo é composto por mais de 90% de água. A dose adicional auxilia na absorção, pela planta, de nutrientes que compõem a vinhaça, como potássio, nitrogênio, cálcio, magnésio, enxofre, entre outros, e na brotação da cana quando as chuvas se tornam escassas. Com isso, a Tereos espera que a perda de produtividade seja menor do que nas áreas tratadas de maneira convencional.
“Reaproveitamos a vinhaça em nossas operações pensando na produtividade, na sustentabilidade e no meio ambiente. Com o investimento na supervisão de salvamento com vinhaça, temos mais opções em anos de seca extrema, além de reduzirmos a utilização de insumos minerais para a nutrição da cana”, avalia Carpanezi.

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