Mapeamento orientará recuperação das regiões produtivas com terreno degradado
Um ano após as enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul, pesquisadores e técnicos de diferentes instituições iniciaram um amplo trabalho de mapeamento e análise da capacidade de infiltração de água no solo. As primeiras atividades ocorreram nos municípios de Estrela e Lajeado — dois dos mais afetados em 2024 e que voltaram a registrar um alto volume de chuvas em 2025.
A iniciativa envolve a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), por meio do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária (DDPA), em parceria com a Emater/RS-Ascar, o Departamento de Solos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Embrapa Trigo.
As equipes têm como meta avaliar áreas atingidas pelas enchentes, identificar práticas de manejo adequadas e fornecer subsídios técnicos aos produtores, especialmente no contexto do sistema plantio direto, além de fornecer subsídios para políticas públicas.
O trabalho utiliza infiltrômetros — equipamentos que medem a taxa de penetração da água no solo mostrados no vídeo abaixo — permitindo avaliar a capacidade de infiltração em diferentes condições de manejo. Segundo o pesquisador André Amaral, da Embrapa Trigo, “quanto maior a capacidade de infiltração, melhor é a qualidade do solo e maior a sua capacidade de reter nutrientes”.
O professor Michael Mazurana, da UFRGS, destaca que o objetivo da ação vai além do diagnóstico. “A proposta inclui a identificação de áreas agrícolas que atuarão como unidades de referência técnica para capacitação de produtores e técnicos, visando torná-los agentes de difusão de práticas agrícolas voltadas à recuperação do ambiente produtivo”, explica.
Conforme o pesquisador Altamir Mateus Bertollo, do DDPA, o projeto está sendo construído progressivamente e com foco na realidade de cada propriedade visitada. “Nossa intenção é realizar medições em diversas regiões do estado e em diferentes sistemas de manejo, sempre buscando representar a diversidade de condições encontradas nos solos gaúchos”, afirma.
Os primeiros testes foram realizados em duas propriedades de Estrela (RS) com condições distintas. Em uma área de várzea, os técnicos identificaram cerca de 40 cm de sedimentos depositados por enxurradas — o que alterou a composição e a infiltração do solo local. Já em uma propriedade vizinha, onde o produtor adotou práticas recentes com uso de plantas de cobertura, os índices de infiltração foram significativamente mais elevados.
“Plantas com sistema radicular agressivo, como o milheto, formam poros e galerias no solo que facilitam a entrada da água e ajudam a reestruturar solos compactados”, explica Bertollo. Ele também alerta que intervenções mecânicas, como a escarificação, nem sempre são eficazes por tenderem a desestruturar a agregação natural do solo.
A retenção de água no solo é estratégica para mitigar os efeitos das enchentes e reduzir os impactos da estiagem. “Solos bem manejados absorvem mais água e reduzem o escoamento superficial — que é uma das principais causas de erosão e inundações — ao mesmo tempo em que armazenam umidade para períodos de seca”, ressalta o pesquisador.
Segundo Bertollo, o projeto também tem como diferencial o retorno às propriedades após alguns meses para novos testes. “Queremos que o produtor perceba, na prática, como suas ações influenciam na infiltração da água. É um processo contínuo de acompanhamento e conscientização”, diz.
Produtores interessados em receber a visita das equipes técnicas podem procurar o escritório municipal da Emater. A partir desse contato, a demanda é encaminhada às instituições envolvidas, que avaliarão a viabilidade de atendimento no cronograma do projeto.
Com recursos do programa Recupera Rural RS, a Seapi adquiriu 10 infiltrômetros, enquanto a Embrapa investiu em mais cinco. A expectativa é ampliar o número de propriedades atendidas nos próximos meses, com ênfase em regiões recentemente afetadas por novos temporais, como a Serra Gaúcha, a Fronteira Oeste e o Centro do Estado.
*Com informações da Embrapa.