Sustentabilidade
Moratória da Soja deve mudar após pressões políticas
Empresas signatárias da moratória da soja devem votar, na próxima semana, nova metodologia de monitoramento por área individual ou talhão
Sabrina Nascimento | São Paulo | Atualizado às 14h48
06/12/2024 - 07:02

Tradings multinacionais de grãos, que controlam cerca de 95% do mercado de exportação, devem votar mudanças na moratória da soja, informou ao Agro Estadão uma fonte ligada ao setor. A reavaliação do acordo foi antecipada na terça-feira, 03, pelo The Guardian. A ação das empresas ocorre meses após uma crescente ofensiva estadual e federal contra a moratória.
Conforme a publicação do jornal britânico, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) irá propor aos signatários do acordo, na próxima semana, uma votação para alterar a metodologia de monitoramento. Atualmente, a análise das fazendas produtoras é feita por meio de imagens de satélite e considera todo o perímetro da fazenda.
A ideia, no entanto, é fragmentar as propriedades em campos individuais ou talhão, com isso, os agricultores poderiam escolher a área de suas terras que estaria em conformidade com o pilar principal da moratória: não adquirir soja de fazendas com lavouras em desmatamentos realizados após 22 de julho de 2008, no bioma Amazônia.
Em posicionamento enviado ao Agro Estadão, a Abiove reitera que ela e seus membros “continuam comprometidos com o desmatamento zero na cadeia de produção de soja no bioma Amazônico, bem como com o avanço econômico e social das regiões produtoras de soja.” Segundo a entidade, o grupo está “determinado a avançar com ferramentas modernas, parcerias estratégicas e inovações tecnológicas para garantir que o Brasil permaneça como líder global em produção agrícola sustentável”.
A Abiove diz que, juntamente com seus associados, “continuarão a tomar medidas em direção a um futuro onde a soja brasileira seja produzida de forma responsável, com inovação e compromisso com as futuras gerações, alinhando o desenvolvimento socioeconômico com a preservação ambiental.”
O diretor geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Sergio Mendes, afirmou em nota que, “a associação signatária da Moratória da Soja, tem participado de todas as audiências públicas realizadas com o propósito de adequar as regras de não desmatamento de modo que satisfaça o produtor do Estado do Mato Grosso, sem perder sua credibilidade no mercado internacional.”
O Agro Estadão entrou em contato com as principais tradings signatárias da Moratória da Soja. ADM, Amaggi, Cargill, Cofco, Bunge, LDC e Caramuru disseram que o assunto é tratado por meio da Abiove e Anec.
O que é a moratória da soja?
A Moratória da Soja é um acordo voluntário firmado em 2006 entre a Abiove, a Anec, o governo e a sociedade civil, com a participação de ONGs como o Greenpeace, que proíbe a compra de soja cultivada em áreas desmatadas no bioma Amazônia após 22 de julho de 2008 — data de referência do Código Florestal Brasileiro. Este compromisso estabelece que as empresas signatárias não podem adquirir soja de fazendas com lavouras em áreas de desmatamento posterior a essa data.
Pressão contra a moratória da soja
Há anos, produtores de soja se posicionam contra a moratória e a pressão ganhou novos capítulos nos últimos meses. Segundo a Abiove, “a partir de 2023, os poderes executivo e legislativo de Mato Grosso, juntamente com representantes dos produtores rurais, iniciaram discussões sobre a moratória da soja. Esses debates se estenderam a outros estados da federação, culminando na aprovação de legislações estaduais que prejudicam significativamente os signatários da moratória.”
Em Mato Grosso, maior estado produtor de soja no Brasil, o governador Mauro Mendes sancionou, em outubro deste ano, uma lei que impede benefícios fiscais estaduais às empresas que aderirem à moratória. A medida terá vigência a partir de 1º de janeiro de 2025. Uma legislação semelhante já está em vigor em Rondônia, estado pertencente ao bioma Amazônia e que produz 2,3 milhões de toneladas de soja.
Além disso, debates semelhantes têm acontecido no âmbito federal. Atualmente, a moratória está sendo investigada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE). O órgão abriu inquérito para apurar uma possível manipulação de mercado relacionado às multinacionais que fazem parte do acordo.
O Tribunal de Contas da União (TCU) também está conduzindo uma investigação sobre o Banco do Brasil, que faz parte do grupo de trabalho da moratória desde 2011. O TCU quer descobrir se o banco está promovendo incentivos que favorecem as empresas signatárias do acordo.
O Agro Estadão apurou que o ministro Aroldo Cedraz, relator do caso, já está com o parecer pronto para apresentar a abertura de investigação aos demais ministros do Tribunal, mas ainda sem data prevista.
Aprosoja-MT planeja nova rodada de ações pelo fim da moratória
Mais de 250 agricultores da Associação dos produtores de soja e milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT) defenderam na quinta-feira, 06, uma nova rodada de ações estratégicas visando a extinção da moratória da soja. A decisão considera que, caso até janeiro de 2025 não ocorra uma alteração satisfatória na conduta das empresas signatárias, serão implementadas medidas mais incisivas em defesa dos produtores rurais.
A principal deliberação é a elaboração de uma estratégia legislativa municipal para mobilizar prefeitos e vereadores dos municípios produtores do grão em Mato Grosso. O objetivo é aprovar leis municipais que proíbam a concessão de alvarás de funcionamento para empresas que desrespeitem o princípio da livre iniciativa dos agricultores.
Segundo o presidente da Aprosoja-MT, Lucas Costa Beber, a moratória tem se mostrado um instrumento que desrespeita a legislação brasileira e prejudica a competitividade dos nossos produtores. “Não vamos aceitar que empresas atuem nos nossos municípios impondo regras externas que ignoram a realidade local. É hora de defender o Mato Grosso e a liberdade econômica do nosso setor”, afirmou em nota.
A entidade reforçou que continuará monitorando as negociações envolvendo a moratória da soja.
Siga o Agro Estadão no Google News e fique bem informado sobre as notícias do campo.
Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Sustentabilidade
1
Em 5 anos, mais de 90% da soja no Centro-Oeste avançou sem desmatamento
2
Dona do café Pilão firma parceria para descarbonizar conilon no Brasil
3
STF suspende processos sobre a Moratória da Soja em todo o País
4
STF forma maioria para manter lei de MT contra a Moratória da Soja
5
MG lança certificação para produtores que adotam agricultura regenerativa
6
STF dá 30 dias para SP apresentar plano de contratação de pesquisadores ambientais
PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas
Sustentabilidade
Exigência de rastreabilidade ganha força com lei antidematamento da UE
No Estadão Summit Agro 2025, especialistas apontaram movimento semelhante de outros países, como a China
Sustentabilidade
“Agro tropical brasileiro será patrocinador da paz mundial”, diz Roberto Rodrigues
Ex-ministro da agricultura destacou o legado do agro pós-COP 30 durante palestra magna no Estadão Summit Agro 2025
Sustentabilidade
MT regulamenta regularização ambiental e compensação de reserva
Normas automatizam o CAR nos projetos de reforma agrária e padronizam a compensação ambiental
Sustentabilidade
STF dá 30 dias para SP apresentar plano de contratação de pesquisadores ambientais
Suprema Corte também pede projeções para implantação do CAR e do PRA; Estado diz que cumpre metas e que moderniza carreira científica
Sustentabilidade
Após recuo do governo na COP 30, Plano Clima deve ser revisado
Grupo de trabalho terá participação do agro e discutirá ajustes em desmatamento, emissões e créditos de carbono
Sustentabilidade
Em 5 anos, mais de 90% da soja no Centro-Oeste avançou sem desmatamento
Estudo da Serasa Experian, com base nas regras ambientais do crédito rural, mapeou 74 milhões de hectares em dois biomas do Centro-Oeste
Sustentabilidade
Conselho Europeu abre caminho para adiar lei antidesmatamento por um ano
Proposta será negociada com o Parlamento Europeu e busca simplificar a lei antidesmatamento e adiar sua aplicação para que todos se preparem
Sustentabilidade
Julgamento da Moratória da Soja é interrompido no STF
Pedido de vista de Toffoli adia definição sobre suspensão de ações e mantém medida em vigor