Levantamento projeta que, mesmo com crescimento médio de 2,5% ao ano no PIB agropecuário, o Brasil pode chegar perto do desmatamento zero em 2040
O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da Agropecuária no chamado ‘Arco do Desmatamento’ — região que concentra cerca de 75% do desflorestamento da Amazônia Legal — não está vinculado ao desmatamento. A análise foi divulgada em levantamento inédito do Instituto Esfera de Estudos e Inovação, frente acadêmica do think tank Esfera Brasil.
O estudo mostra que, entre 2000 e 2024, enquanto o PIB agropecuário da região cresceu em média 8,7% ao ano, o desmatamento caiu 5,29% ao ano. A área analisada abrange aproximadamente 256 municípios nos estados do Pará, Mato Grosso, Maranhão, Rondônia, Tocantins e Acre.
Área desmatada X Evolução do PIB agropecuário nos estados do Arco do Desmatamento (entre 2000 e 2024)
A região, conforme o documento, apresentou uma trajetória marcada por transformações significativas tanto no uso do solo quanto na dinâmica econômica regional. Esse cenário de menor desmatamento e maior valor adicionado pelo setor agropecuário reflete mudanças estruturais relevantes:
Porém, o estudo indica que a persistência do desmatamento em alguns polos críticos demonstra que os avanços não foram uniformes. O Pará, por exemplo, continua sendo o estado que mais contribui em volume absoluto para a supressão florestal, embora também tenha reduzido sua taxa média de desmatamento entre 2000 e 2024.
No período, as taxas geométricas de redução anual do desmatamento por estado do ‘Arco do Desmatamento’ foram:
Estado | Redução do desmatamento (por ano) |
Acre | -1,10% |
Maranhão | -3,88% |
Mato Grosso | -7,50% |
Pará | -4,15% |
Rondônia | -9,65% |
Tocantins | -5,39 |
Os dados revelam que o Arco do Desmatamento não é uma realidade homogênea. Cada estado apresenta variações na eficácia das políticas ambientais, no perfil da estrutura fundiária, nas características dos imóveis rurais e na capacidade de fiscalização. “Por fim, a comparação entre a curva decrescente do desmatamento e a ascendente do PIB agropecuário serve como evidência empírica de que é possível dissociar o crescimento econômico da destruição florestal”, aponta o levantamento.
Para Camila Funaro Camargo Dantas, CEO do Instituto Esfera de Estudo e Inovação, o papel da instituição, às vésperas da COP30 em Belém, é oferecer subsídios empíricos para embasar políticas públicas de alto nível e reforçar a presença do Brasil nas discussões climáticas globais. “O estudo confirma que a preservação da Amazônia e do Cerrado depende sobretudo da qualidade da governança. O futuro das nossas florestas está ligado à força das instituições e à consistência das políticas públicas”, afirma.
A pesquisa também apresenta projeções para o futuro sobre o desmatamento no Brasil até 2050, considerando como pano de fundo a trajetória do PIB agropecuário com crescimento médio estimado de 2,5% ao ano.
As projeções foram formuladas a partir de variáveis institucionais e geopolíticas que influenciam o grau de pressão internacional e o fortalecimento de mecanismos nacionais de controle ambiental, como fiscalização, monitoramento e crédito orientado. Enquanto a metodologia do estudo considerou um modelo teórico e estatístico partindo da definição clara da variável dependente: a área total desmatada por ano (em hectares), representando a intensidade anual do processo de supressão vegetal nos territórios analisados.