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Queimadas no Pantanal: prejuízos no agro superam R$ 17 milhões

Governo de MS decretou situação de emergência diante do aumento de 2.134% nos focos de fogo no acumulado deste ano frente ao ano passado

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Sabrina Nascimento

24/06/2024 - 19:26

Alunos do corpo de bombeiros de Mato Grosso do Sul passam por treinamento de combate ao fogo | Foto: Saul Schramm/CBMMS
Alunos do corpo de bombeiros de Mato Grosso do Sul passam por treinamento de combate ao fogo | Foto: Saul Schramm/CBMMS

O governo de Mato Grosso do Sul decretou situação de emergência por causa dos incêndios no Pantanal. A medida foi publicada nesta segunda, 24, no Diário Oficial do estado. Conforme o texto, estima-se um prejuízo econômico superior a R$ 17 milhões para a agropecuária pantaneira, considerando os focos detectados por satélite entre 10 de abril e 12 de junho de 2024. Segundo a publicação, há perdas na “vegetação, solo,  fauna, bens materiais e vida humana.”

O decreto vale por 180 dias e contempla as cidades atingidas pelo fogo. O governo não menciona quais ou quantos são os municípios afetados, mas, na prática, a publicação do texto facilita o acesso a recursos extraordinários vindos da União para combate às queimadas. 

Aumento de queimadas deixa interior do país em alerta

O período de queimadas no Brasil foi antecipado este ano. A conjuntura é consequência do longo período de tempo quente e seco predominante na região central do país. Com isso, o total de queimadas nos biomas brasileiros já supera a marca de 33 mil focos entre os dias 1º de janeiro e 23 de junho de 2024. Essa quantidade representa um aumento de 60% na comparação com o mesmo período do ano passado, de acordo com dados de monitoramento por satélite do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). 

Os biomas Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica lideram os focos de queimadas no acumulado deste ano, sendo 12.696, 12.097 e 3.746, respectivamente.

Fonte: Inpe

No entanto, o cenário alarmante está no Pantanal, onde há um crescimento de 2.134% nas ocorrências no acumulado deste ano frente ao mesmo período de 2023.

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Entre 1º de janeiro até 23 de junho, são 3.262 focos de queimadas verificados. Sendo que, somente no acumulado deste mês (de 1º até 23 de junho), 2.363 focos foram confirmados, consolidando o pior junho de queimadas na história do bioma.

Fonte: Inpe

Historicamente, esses números atingem o pico entre os meses de julho a setembro, porém, o fenômeno El Niño foi protagonista nos últimos meses, provocando irregularidade da chuva. 

“Agora temos uma condição de neutralidade climática, mas tivemos os últimos nove meses com chuvas abaixo da média e temperaturas acima da média”, explicou a meteorologista da Nottus, Desirée Brandt, ao Agro Estadão.

Com a chegada do inverno na quinta, 20, não existem perspectivas para uma mudança de cenário. “A expectativa é que seja um inverno seco acima do normal e, em muitos momentos, até mais quente. Vamos ter dias de temperatura alta, praticamente sem chuva em muitas áreas do centro do Brasil o que vai agravar essa condição de focos de incêndio”, destaca Brandt. 

Combate aos incêndios no Pantanal

Segundo o Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul (CBMMS), o aumento significativo das queimadas tem sido atribuído à ação humana. Isso inclui situações como queimas controladas — realizadas para reduzir o material combustível e prevenir incêndios florestais descontrolados — que saem do controle, fogueiras mal apagadas em áreas sensíveis, entre outros. Mas, o clima, segue traduzindo o aumento dos focos. 

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“Nós temos os fenômenos climáticos que estão regendo esse ano, eles colocam a situação no patamar de crise hídrica e seca severa que estamos vivendo. Depois de um ano com chuva relativamente bem espaçada, houve o acúmulo de matéria vegetal, combustível para esses incêndios que estão acontecendo hoje”, afirmou à reportagem o Major Teixeiro. 

O monitoramento desses eventos é feito por meio de tecnologias avançadas, como o uso de radares e sensores para detecção remota, além de drones que auxiliam no acompanhamento em tempo real das áreas afetadas.

Suspensão das queimadas controladas em Mato Grosso do Sul

Diante do risco de elevação no número de incêndios, o Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) suspendeu, no início deste mês, as autorizações ambientais de queima controlada pelo prazo de 180 dias. Geralmente, essa suspensão ocorre no mês de julho. 

Segundo o Instituto a norma não se aplica às práticas de prevenção e combate a incêndios realizadas ou supervisionadas pelas instituições públicas, responsáveis pela prevenção e pelo combate aos incêndios florestais.  

Ações preventivas no campo

No campo, as ações de prevenção também estão sendo adotadas. Segundo Lucas Galvan, superintendente do Sistema Famasul/Senar-MS, o maior interessado para que não haja incêndio é o produtor rural, devido aos danos ambientais e econômicos. “Quando um incêndio ocorre, os impactos são devastadores: perda de biodiversidade, morte de animais, destruição de cercas, casas e currais, além da inutilização temporária de pastagens, o que afeta a produção agrícola e pecuária por vários meses”, afirma Galvan ao Agro Estadão. 

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Para mitigar esses riscos, o Senar-MS oferece cursos de capacitação, onde técnicas preventivas são ensinadas aos produtores. “Na época de seca, recomendamos que os produtores façam aceiros no entorno de suas propriedades para prevenir que o fogo se espalhe”, explica Lucas. A técnica dos aceiros consiste na criação de faixas de terra sem vegetação que impedem a propagação do fogo entre propriedades.

Além disso, a instituição promove cursos de brigadista, preparando os agricultores para combater incêndios de forma eficiente até a chegada de ajuda especializada. Nos últimos seis anos, foram mais de duas mil pessoas capacitadas, sendo 550 no ano passado e 225 este ano.

Boi Bombeiro

Outra medida preventiva de destaque é a teoria do “boi bombeiro”. Essa prática sugere que a presença de gado em áreas de pastagem pode ajudar a prevenir incêndios florestais, pois os animais consomem a vegetação seca, que serve como combustível para o fogo.

O superintendente do Sistema Famasul/Senar-MS, explica que onde há gado, as pastagens nativas são mantidas curtas, reduzindo a quantidade de capim inflamável. Em contrapartida, nas áreas sem gado, o capim cresce sem controle, aumentando o material combustível e o risco de incêndios. “Essa prática é vista como uma forma eficaz de manejo para reduzir a ocorrência e a propagação de queimadas em regiões como o Pantanal”, ressalta o superintendente.

Prevenção além da região central do país

O Paraná também se vê diante de um cenário de alerta em relação aos incêndios, especialmente no meio rural. No acumulado do ano até o dia 18 de junho, foram registrados 573 focos de incêndio, o que representa uma alta de 9% em relação ao mesmo período do último ano. 

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“Não é comum, mas a gente chega em situações severas de ter lavouras de milho pegando fogo”, relata Neder Maciel Corso, técnico do Sistema FAEP/Senar-PR.

Assim como em Mato Grosso do Sul, iniciativas de capacitação e treinamento têm sido oferecidas para produtores rurais, agroindústrias e empresas do setor, com o objetivo de preparar equipes e promover uma cultura de prevenção e combate aos incêndios. “Desde 2020, disponibilizamos cursos voltados especificamente para a prevenção e combate aos incêndios no meio rural, abrangendo temas como comportamento do fogo, tipos de incêndios e medidas preventivas”, destaca o especialista.

Uma das estratégias enfatizadas é a quebra do “triângulo do fogo”, composto por combustível, oxigênio e fonte de ignição. Ao reduzir um desses elementos, é possível diminuir o risco de incêndios. 

“Como a gente tem nas estatísticas de que mais de 95% dos incêndios têm causa humana, seja intencional ou não intencional e por falta de cuidado, a gente trabalha muito as questões da prevenção”, explica Neder. “A gente tem que pensar que o fogo serve a humanidade há muito tempo e existe o uso seguro do fogo”, completa. 

Uma das preocupações ressaltadas pelo especialista é a prática, ainda comum, de soltar balões neste período do ano, por conta das festas juninas. Mesmo que a ação seja proibida por lei, há casos de ilegalidade, elevando o risco de incêndios. “É crucial que todos façam sua parte para proteger nosso patrimônio natural e evitar tragédias”, alerta o técnico do Sistema FAEP/Senar-PR.

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