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Seringueira: para que serve essa planta?
As seringueiras movimentaram uma verdadeira indústria na Região Amazônica e foram responsáveis pelo crescimento de diversas cidades na área

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24/05/2023 - 16:56

A seringueira, cientificamente conhecida como Hevea brasiliensis, é uma árvore de grande importância econômica e histórica, cujo principal produto, o látex (borracha natural), é matéria-prima para a fabricação de inúmeros produtos essenciais em diversas indústrias ao redor do mundo.
Entender a trajetória da indústria do látex nacional, que já dominou o mercado global, mas acabou perdendo o seu protagonismo, é fundamental para compreender a dinâmica desse mercado e a relevância contínua da seringueira.
O que é a seringueira?
A seringueira é uma árvore originária da vasta Floresta Amazônica, presente naturalmente nos países que abrigam este rico ecossistema, como Brasil, Peru, Colômbia, Bolívia e Equador.
A planta é mundialmente conhecida e apelidada pelo seu principal produto, o látex, uma substância leitosa e pegajosa que é extraída de seu caule através de incisões controladas, em um processo conhecido como sangria.
O látex é a base da borracha natural, matéria-prima indispensável para a fabricação de uma vasta gama de mercadorias, desde produtos do dia a dia como borrachas escolares e pneus para veículos de todos os tipos, até materiais cirúrgicos de alta precisão, luvas, preservativos, peças industriais e muito mais.
Existem 11 espécies reconhecidas do gênero Hevea, todas naturais da bacia hidrográfica do Rio Amazonas. No entanto, a Hevea brasiliensis se destaca como a mais procurada e reproduzida em plantios comerciais devido à qualidade superior de seu látex e ao seu potencial produtivo, tornando-se a base da heveicultura (cultivo da seringueira) em escala global.

Para que serve a seringueira?
A seringueira é uma planta com uma longa história de uso pelos povos indígenas da Amazônia. Antes mesmo da colonização europeia, a planta já era valorizada, e seu látex era utilizado pelos índios para fazer objetos impermeáveis e bolas de borracha para fins recreativos e rituais.
O fruto da seringueira contém uma semente rica em óleos naturais, que também eram aproveitados pelos povos tradicionais.
Com a chegada dos colonizadores, o potencial da borracha natural começou a ser explorado em maior escala. Inicialmente, o látex era utilizado de forma mais rudimentar, por exemplo, na fabricação de sapatos impermeáveis.
A partir do século 18, o produto também começou a ser usado como apagador de grafite em ambientes escolares e de escritório, demonstrando suas propriedades únicas.
O momento de grande transformação na importância global da seringueira ocorreu no século 19, com a Revolução Industrial e, crucialmente, quando o cientista Charles Goodyear desenvolveu a técnica de vulcanização em 1839.
Esse processo, que envolve o aquecimento da borracha com enxofre, aumentou drasticamente a resistência, a elasticidade e a durabilidade da borracha natural, permitindo multiplicar as finalidades do seu uso e abrindo caminho para uma vasta gama de aplicações industriais.
Em 1888, John Boyd Dunlop inventou os pneus infláveis para bicicletas, e posteriormente para automóveis, utilizando borracha vulcanizada. A partir daí, a indústria da borracha natural tornou-se fundamental para o desenvolvimento da indústria automobilística e para o mundo moderno.
A popularização dos carros e o avanço dos transportes não teriam sido possíveis sem o produto, que, por um longo período, era retirado quase que exclusivamente das vastas florestas de seringueiras nativas da Região Amazônica, conferindo ao Brasil um monopólio natural e um período de grande prosperidade econômica conhecido como Ciclo da Borracha.
Onde é mais comum de ser cultivada?
As seringueiras eram originalmente exclusivas da flora amazônica. Com o aumento exponencial da demanda mundial por borracha natural no final do século XIX e início do século XX, a Região Amazônica brasileira experimentou um enorme desenvolvimento populacional e econômico.
Cidades como Belém e Manaus viram sua população crescer rapidamente e foram palco de obras suntuosas, como o imponente Teatro Amazonas, financiadas com os lucros provenientes da exploração do látex, atraindo migrantes de diversas partes do Brasil e do mundo.
No entanto, durante a década de 1870, sementes da seringueira foram coletadas ilegalmente por ingleses e levadas para a Inglaterra, e posteriormente para colônias britânicas na Ásia.
Após anos de pesquisa e adaptação, eles obtiveram sucesso em estabelecer plantações comerciais de seringueiras em regiões com climas tropical e subtropical na Malásia, Ceilão (atual Sri Lanka) e Singapura.
Com o tempo, o sucesso e a eficiência das plantações no Sudeste Asiático e, posteriormente, na África Ocidental, que utilizavam técnicas de cultivo e extração mais avançadas e organizadas do que o extrativismo na Amazônia, levaram à queda das exportações de borracha natural do Brasil e ao fim do Ciclo da Borracha amazônico.
A situação mudou temporariamente durante a Segunda Guerra Mundial, quando o Japão dominou vários dos territórios produtores de borracha natural na Ásia, criando uma escassez do produto para os países aliados.
Com a necessidade urgente de obter borracha, iniciou-se um novo, porém curto, ciclo da borracha na Região Amazônica, com incentivos para aumentar a produção. Com o fim da Guerra e a retomada da produção asiática, a demanda pela borracha amazônica voltou a diminuir.
Atualmente, os maiores produtores de borracha natural do mundo são os países asiáticos, com destaque para Tailândia, Indonésia e Vietnã.
O Brasil, apesar de ser o centro de origem da seringueira, produz apenas cerca de 35% do total de borracha natural que utiliza, importando o restante para suprir a demanda interna da indústria, principalmente a de pneus.

Qual é a importância para a região em que é mais encontrada?
As seringueiras são encontradas em todos os Estados da Região Amazônica, tanto em florestas nativas quanto em plantios, e também em outras regiões do Brasil com clima adequado para o seu cultivo.
Atualmente, o maior produtor de látex no Brasil é o Estado de São Paulo, e isso deve-se ao desenvolvimento da heveicultura em plantios comerciais, especialmente no noroeste do Estado, na região de São José do Rio Preto, que se tornou um polo de produção de borracha natural no país.
Apesar da diminuição da importância global da seringueira amazônica em comparação com o auge do Ciclo da Borracha, muitos pequenos produtores rurais na Amazônia e em outras regiões do Brasil ainda vivem do extrativismo tradicional do látex ou de pequenos plantios.
As árvores de seringueira têm um ciclo produtivo de látex que pode durar de 25 a 30 anos ou mais, sendo importantes para a economia e a subsistência de diversas comunidades rurais.
Quando chega ao fim do ciclo produtivo de látex, as árvores de seringueira, que nessa fase geralmente apresentam uma circunferência média de tronco superior a 110 centímetros, ainda possuem valor econômico.
Sua madeira, conhecida como madeira de seringueira ou rubberwood, é utilizada na confecção de móveis de alta qualidade, pisos, painéis e diversos outros produtos, sendo valorizada por sua coloração clara e facilidade de trabalho.
O óleo extraído das sementes da seringueira é muito utilizado pela indústria de tintas, vernizes e resinas, e na Ásia já é empregado como substituto do óleo de linhaça em algumas aplicações.
A torta obtida após a extração do óleo da semente da seringueira pode ser utilizada na alimentação de animais, como suplemento proteico. Além disso, os seringais, tanto nativos quanto cultivados, podem ser utilizados como pontos de introdução de colmeias para a produção de mel, agregando mais uma fonte de renda para os produtores.
Assim, as áreas de seringais apresentam diversos usos e potenciais para os pequenos produtores, que vão além da simples extração de látex, contribuindo para a diversificação da produção e a sustentabilidade das propriedades rurais.
O látex natural, por ser um produto renovável e biodegradável, também está voltando a ser valorizado no mercado global como uma alternativa mais sustentável em comparação com a borracha sintética derivada do petróleo, o que pode impulsionar novamente a heveicultura.
Fonte: Embrapa, Instituto Agronômico – Estado de São Paulo, Center for International Forestry Research, CropLife Brasil

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