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Conciliadora: quem é a mulher no comando do Instituto Pensar Agro
Tânia Zanella assume a presidência do IPA com a missão de conciliar o setor e elegeu a segurança jurídica no campo entre as principais pautas
Fernanda Farias | Porto Alegre | fernanda.farias@estadao.com
21/12/2024 - 08:00
Ser a única presença feminina na foto da diretoria eleita para o comando do Instituto Pensar Agro chamou a atenção da filha adolescente. “Só tem você de mulher, mãe! Sim, filha, mas eu sou a presidente”, conta Tânia Zanella, resumindo o orgulho do desafio de assumir como primeira presidente mulher da entidade. Ela assume o lugar de Nilson Leitão, que ficou no cargo por dois mandatos (2021/2023 e 2023/2025).
A advogada de formação e política de sangue – o pai está no quinto mandato como prefeito em Ipumirim (SC) – tem o agronegócio no coração, já que cresceu com a família trabalhando na lavoura. Tânia Zanella vive em Brasília há mais de 20 anos, período em que foi assessora parlamentar, analista e gerente da Organização das Cooperativas Brasileiras, onde ocupa a Superintendência desde 2021.
A segurança e a confiança no próprio trabalho a levou até a presidência do IPA, com o apoio quase unânime de autoridades políticas e técnicas das entidades do agro. A principal missão, segundo ela, será a busca pelo consenso e a experiência no cooperativismo deve ajudar.
“O cooperativismo é um movimento de consenso. E no IPA, somos 59 entidades do setor. Naturalmente vão ter momentos e demandas com divergência. Acho que meu papel principal vai ser de escuta e tentar buscar o consenso, o alinhamento cada vez melhor de entendimento nas principais pautas”, reflete.
Em cerca de 1 hora de conversa, direto do escritório da OCB, em Brasília, Zanella falou sobre diversos temas, como as principais pautas do setor, como será a gestão do IPA nos próximos dois anos, e como enxerga a relação do agronegócio com o governo federal: “estável”, avalia. Cuidadosa com as palavras, Zanella considera que falta uma proximidade maior e que é preciso que os Poderes atuem dentro dos seus espaços.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista.
Agro Estadão – Você está há alguns anos no agronegócio e já ocupou funções importantes. Quem é a Tânia Zanella que hoje assume o IPA?
Tânia Zanella – A Tânia de hoje é mãe de dois filhos, casada. E uma Tânia mais madura, mais consciente, mais certa do que do que é o meu desafio, do que é a minha missão, não só aqui frente à OCB, mas da minha missão enquanto agora presidente do IPA. Então eu me considero uma privilegiada hoje, não só por ser a única mulher no conselho, mas também pelo fato de eu poder contribuir para esse setor que eu sou apaixonada, que que vivi na minha infância, né? Meus pais são agricultores, então eu vim do meio rural e sei da importância do que é um produtor rural e o quanto existe de necessidade que alguém os represente à altura, né?
Agro Estadão – E qual é o principal desafio como presidente do IPA, avaliando o momento que o agronegócio brasileiro vive?
Tânia Zanella – Talvez o meu principal e grande desafio seja conciliar para a gente poder ganhar em termos de resultado para o nosso produtor rural. E aí vem a minha experiência no cooperativismo, que é um movimento de consenso, não é do dissenso, né? O cooperativismo tem sete ramos de atividade. Então você imagina aqui na OCB, tem que conciliar todos esses interesses, né? No IPA, nós somos 59 entidades do setor e, naturalmente, vão ter momentos e demandas onde, com certeza, terá divergências entre os setores. Eu acho que o meu papel principal vai ser de tentar o consenso, tentar buscar um alinhamento cada vez melhor de entendimentos nas nossas grandes pautas. E o papel central do IPA é conciliar essas pautas, tentar buscar consenso onde obviamente, a gente consiga avançar para uma atuação política da Frente Parlamentar da Agropecuária. A principal função do IPA é essa discussão técnica. Então, acho que o desafio principal é a gente capitalizar, capitanear todos esses interesses, as necessidades e formatar processos e demandas as mais.
Agro Estadão – E as demais pautas do agro?
Tânia Zanella – A gente tem uma pauta que já foi encaminhada para o futuro presidente da Câmara, Hugo Motta, para o futuro presidente do Senado, Davi Alcolumbre, que – pelo menos parece que vai acontecer. São as prioridades para o setor: tanto na segurança fundiária quanto na política agrícola, na sustentabilidade. O Brasil vai sediar uma COP no ano que vem, então, qual vai ser o papel, o protagonismo do setor agrícola? A questão da transição energética, a própria questão tributária.
Agro Estadão – Nas últimas semanas, a questão fundiária esteve em alta com invasões de terras. Como você vê o papel do IPA na busca pela solução dessa questão? Lembrando que existe o pacote anti-invasão com diversos projetos tramitando no Congresso Nacional.
Tânia Zanella – Eu acho que os papéis são distintos da FPA e do IPA, mas o que nos une é a preocupação com a segurança jurídica, principalmente a segurança do campo, né? E aí eu posso te dizer que a preocupação maior, para além de se avançar hoje nessas pautas, é também essa confusão, essa incompreensão da competência dos Poderes da República, né? O Congresso votou o Marco temporal e tá aí ainda com uma instabilidade imensa, porque tem uma questão ideológica também, muito, muito forte nesse sentido. Mas a gente precisa ir para o enfrentamento dessa solução, buscar de fato uma solução para isso. Temos avançado em marcos regulatórios, em legislações que poderiam amenizar tudo isso. Mas, por outro lado, há uma instabilidade jurídica ainda por conta das decisões que aconteceram no Supremo. E o que a gente tem escutado como um posicionamento tanto do Hugo Mota quanto do Davi Alcolumbre, é que eles vão lutar por essa Independência entre os poderes, essa limitação do que é a função de cada um, né? Para que não haja sobreposição dessas atribuições como a gente costumeiramente consegue ver que acontece. E temos pedido que isso aconteça rapidamente, porque tem momentos que se intensificam, como o Abril Vermelho. E aí, vamos repetir tudo isso novamente, dando essa insegurança aí pro nosso produtor?
“A questão fundiária é um tema prioritário, mas a gente vê um pouco de dificuldade em avançar por essa falta de limite das atribuições entre os Poderes da República”.
Tânia Zanella, presidente do IPA e Superintendente da OCB
Agro Estadão – Quem inspira você como líder?
Tânia Zanella – Sem sombra de dúvida é o meu pai. Eu tenho outras pessoas que eu me espelho muito, mas meu pai é um exemplo do ser humano, de propósito. A gente sabe que nesse mundo político que às vezes é muito mal compreendido – e já digo de antemão que eu confio muito, sim, ainda no meio político – o meu pai é essa referência de homem, de pessoa, de político. Mas sem sombra de dúvida, olhando para o setor, a Tereza Cristina – eu sou muito fã dela. E não só por ela ser mulher, mas ela é referência em agregação, e também uma grande liderança.
Agro Estadão – Como você avalia a relação do setor do agronegócio com o governo federal? É um relacionamento que pode encontrar estabilidade?
Tânia Zanella – Acho que está estável. Eu acredito que essa proximidade precisa ser encaminhada, trabalhada, com certeza muito mais pela Frente Parlamentar. Mas sem sombra de dúvida, nós, enquanto entidades, a gente pode ajudar a encontrar esses espaços. Mas teve um tema que aproximou muito o setor do governo, que foi a questão do Carrefour. O governo teve uma atuação brilhante, o ministro Fávaro deu uma resposta à altura. No momento certo, o presidente Lula deu uma sinalização muito forte ao governo francês do que ele entende que é a agricultura brasileira. Então eu acho que são sinais de que há, sim, espaço para diálogo; há, sim, espaço para construção de pontes. Mas eu nunca vou me furtar em defender e ser convicta aos meus princípios, aos meus valores do cooperativismo, mas especialmente do agro. Nós temos um setor e a gente defende esse setor, não pode estar em cima do muro. Então, esse foi um tema que nos aproximou, deu condição de dizer que sim, nós temos convergência quando o assunto afeta um setor tão importante e tão e tão necessário quanto o setor agrícola, né?
Agro Estadão – Como será a gestão nesses dois anos no IPA?
Tânia Zanella – A minha intenção é descentralizar mesmo, usar da experiência, da capacidade dos meus colegas que compuseram comigo. A gente não conversou sobre isso ainda. A minha intenção também é trazer o grupo dos ex-presidentes, porque eu acho que tudo que foi construído, as pessoas que já passaram pelo IPA, podem ter muito a contribuir, como um fórum ou uma comissão.
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