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Economia

Relação Brasil-China na soja exige estratégia para garantir segurança econômica

Especialistas apontam riscos da concentração de mercado e oportunidades de investimento chinês no agro brasileiro

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Redação Agro Estadão*

25/07/2025 - 11:48

Em 2024, 69% da soja comprada pelos chineses passou a ser do Brasil - Foto: Adobe Stock
Em 2024, 69% da soja comprada pelos chineses passou a ser do Brasil - Foto: Adobe Stock

Nos últimos anos, o setor agropecuário brasileiro tem sido favorecido pela relação comercial entre Brasil e China, sobretudo na cadeia da soja. Em 2015, 17,5% das importações chinesas do agro eram provenientes do Brasil, e 21,7% eram originadas nos Estados Unidos. Com a guerra comercial iniciada no primeiro governo de Donald Trump, houve uma mudança no cenário, e o Brasil tornou-se o principal fornecedor para a China, com 24,4% das importações, enquanto a participação dos EUA recuou para 12,8%.

No caso da soja, em 2016 o Brasil era a origem de 45,7% da oleaginosa comprada pelos asiáticos, enquanto os EUA forneciam 40,5%. Em 2024, a participação brasileira saltou para 69%, enquanto a dos norte-americanos recuou para 22,8%.

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Porém, essa interdependência entre os dois países demanda planejamento para garantia de uma segurança econômica futura. Essa foi a análise de especialistas que participaram do painel “O que esperar da relação com a China na agricultura?”, realizado durante o 10º Congresso Brasileiro de Soja e Mercosoja, em Campinas (SP).

A diplomata Letícia Frazão Leme, do Ministério das Relações Exteriores, explicou que o cenário de aumento das exportações agropecuárias é resultado de uma decisão do governo chinês. Como o país tem limitação em áreas agricultáveis e em disponibilidade de água para irrigação, priorizou a produção local de arroz, trigo e milho.

Por outro lado, a sojicultura se resumiu à produção de materiais convencionais, destinados à alimentação humana. Dessa forma, desde 2013 os chineses passaram a importar cada vez mais soja. “Para produzir internamente o volume de soja que demanda, a China precisaria de 40 milhões de hectares, um terço do total de área agricultável do país”, disse.

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Ela ressaltou ainda que, apesar de ser um cenário planejado, o governo chinês não se sente confortável e trabalha publicamente para reduzir essa dependência. Entre as ações em andamento, está o investimento em genética própria, em estruturas logísticas na África e na América do Sul, e em diferentes setores da cadeia produtiva da soja, inclusive no Brasil. Além disso, um plano visa aumentar a produção local para de 15 a 30% do consumo até 2030.

10º Congresso Brasileiro de Soja (CBSoja) e o Mercosoja 2025 reuniram representantes de diferentes regiões do Brasil – Foto: Embrapa Soja/Divulgação

Riscos para o Brasil

Se, por um lado, a balança comercial da soja é muito favorável ao Brasil, por outro, é possível ver que o país depende muito de seu principal comprador. Em 2024, 73% das exportações brasileiras de soja foram para a China. Dessa forma, uma mudança na demanda do país asiático poderia trazer complicações para todo o setor produtivo.

Conforme os especialistas, além da menor demanda devido ao aumento na produção local, há riscos de que novos acordos comerciais impliquem em maior compra da soja dos Estados Unidos, que surjam novos fornecedores de soja ou até mesmo que a China encontre substitutos para a soja na ração animal.

“Nosso cliente se coloca abertamente sobre sua posição de reduzir a dependência da soja importada. Então, nós, brasileiros, precisamos pensar de forma estratégica sobre como queremos estar em 15-20 anos e trabalhar para isso, inclusive com parceiros chineses”, destacou Larissa Wachholz, da Vallya Agro.

Para ela, os investimentos chineses no Brasil — seja em logística, comercialização ou no próprio sistema produtivo — são uma forma de ampliar a dinâmica política do relacionamento e a confiança na relação comercial. “A atração de investimentos diretos da China é um instrumento de mitigação de riscos de eventual rompimento na relação comercial”, disse, durante o painel.

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As especialistas ainda apontam outras oportunidades para o Brasil na captação de investimento chinês, como:

  • plano nacional de recuperação de pastagens degradadas, que possibilitará ampliar as áreas produtivas no país;
  • desenvolvimento tecnológico de combustíveis renováveis para transporte marítimo (bunker fuel) e aviação (SAF), que permitirá a agregação de valor às exportações;
  • ampliação da estrutura de armazenagem e logística, podendo tornar a soja brasileira mais competitiva e ainda ser aproveitada por outros produtos agropecuários e não agropecuários.

Panorama da soja em debate

Com um público aproximado de 2 mil congressistas, entre 21 e 24 de julho, em Campinas (SP), o 10º Congresso Brasileiro de Soja (CBSoja) e o Mercosoja 2025 reuniram representantes de diferentes regiões do Brasil, da Argentina, do Paraguai e até mesmo três delegações de pesquisadores e empresários chineses. Com o compromisso de rememorar a história da soja no Brasil — nesses 100 anos de introdução comercial do grão —, os eventos, promovidos pela Embrapa Soja, discutiram os desafios técnicos futuros, os gargalos de infraestrutura e de logística, as oportunidades de mercado, desenhando o panorama da soja no contexto global.

A programação técnica contou com 4 conferências e 15 painéis, em que foram realizadas mais de 50 palestras com especialistas nacionais e internacionais de vários segmentos ligados ao complexo soja. “O retorno do público foi muito positivo a respeito de todas as temáticas em discussão, desde a parte de fitossanidade, a questão de geopolítica da cultura, a relação Brasil-China, a relevância da sustentabilidade para todo o setor — enfim, uma programação que agregou muita informação e promoveu a reflexão para estimular a tomada de decisão”, afirma o presidente do CBSoja, Fernando Henning, pesquisador da Embrapa.

Para o chefe-geral da Embrapa Soja, Alexandre Nepomuceno, em ano de realização da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30) no Brasil, é ainda mais relevante debater a sustentabilidade da soja, cadeia responsável por 6,4% do PIB brasileiro e que gera cerca de 2 milhões de empregos. “Discutimos como lidar com as mudanças climáticas, como a agricultura digital vai ajudar o produtor nas tomadas de decisão e como as questões de sustentabilidade irão pautar ainda mais a agenda da soja”, disse Nepomuceno.

*Com informações da Embrapa Soja

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