Economia
Produção de maçãs no Brasil volta a crescer após três anos de queda
Setor espera colher 1,1 milhão de toneladas; conheça o pioneirismo da empresa que produz as saborosas maçãs da Turma da Mônica

Paloma Santos | Brasília | paloma.santos@estadao.com
02/09/2025 - 07:00

Depois de três safras frustradas pelas condições climáticas, a produção de maçãs no Brasil deve voltar a crescer em 2026. A expectativa do setor é alcançar 1,1 milhão de toneladas, próximo à média histórica, segundo a Associação Brasileira de Produtores de Maçã (ABPM).
Segundo a associação, o cenário atual, no que diz respeito ao clima, neste ano, é mais favorável. Para atingir o pleno potencial, a cultura da maçã exige entre 400 e 600 horas de frio ao longo do inverno. “O inverno de 2025 trouxe um frio de muita qualidade. Esse é o principal fator que determina a quantidade e a qualidade da fruta. Nossa expectativa é retomar a média de produção na faixa de 1,1 milhão de toneladas no próximo ano”, disse o diretor-executivo da ABPM, Moisés Lopes de Albuquerque.
Além de maior regularidade no abastecimento, a expectativa do setor é de preços mais baixos para o consumidor. “Agora, com uma safra maior, teremos possibilidade de diluir custos de produção e reduzir os preços no mercado interno”, afirmou o diretor .
Nos últimos dez anos, a produção brasileira variou entre 1,1 milhão e 1,2 milhão de toneladas. O potencial produtivo, porém, chega a 1,3 milhão, de acordo com Albuquerque. O desempenho não se confirmou nas últimas três safras, que foram marcadas por excesso de chuvas e insuficiência de frio.
“Nós caímos para a faixa de 850 mil toneladas. Foi uma queda de 20% a 25% em relação ao potencial produtivo, principalmente por conta do excesso de chuva na primavera de 2023, que coincidiu com a florada e prejudicou também a safra seguinte”, afirmou Albuquerque.
Importações vs. exportações
O consumo nacional de maçã fresca é estimado em 900 mil toneladas por ano, cerca de 4,5 kg por habitante ao ano, segundo a ABPM. Nos últimos anos, a produção insuficiente abriu espaço para as importações, que chegaram a 200 mil toneladas em 2024, vindas principalmente do Chile, Itália, Portugal, Espanha, França e Argentina.
“Esse número reflete o termômetro da importação. Quando a produção nacional não cobre o consumo in natura, precisamos trazer fruta de fora. No ano passado, importamos quase 250 mil toneladas, e em 2025 esse volume deve ficar perto de 200 mil”, disse o executivo.
De acordo com levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq-USP) divulgado neste mês, as importações brasileiras de maçã cresceram 43% entre 2022 e 2024. O Cepea aponta que a oferta restrita no país também elevou os preços ao consumidor nos últimos anos.
Apesar de o mercado interno absorver 90% da produção, ainda há espaço para exportações. A Índia é o principal comprador, seguida por Bangladesh, países da União Europeia, Reino Unido e Colômbia.

O Brasil tem 35 mil hectares cultivados e as principais variedades são Gala e Fuji, com produtividade média de 40 toneladas por hectare. A produção está concentrada em Santa Catarina e Rio Grande do Sul, estimadas em 48% em cada estado.
“O setor é muito diversificado. Em Santa Catarina, 80% das áreas estão em pequenas propriedades, com média de cinco hectares. Já no Rio Grande do Sul predominam médios e grandes empreendimentos”, disse Albuquerque.
Pioneirismo
Nos anos de 1970, comer uma maçã no Brasil era um pequeno luxo. O país importava cerca de US$100 milhões em frutas por ano, 90% vindas da Argentina e Europa. A produção nacional praticamente não existia — o clima tropical, quente e úmido, era considerado pouco favorável para a cultura. O preço era alto e o consumo, restrito.
A solução veio com a introdução da variedade Gala, mais adaptada ao clima local, e da Fuji — de origem japonesa — para garantir a polinização. A virada começou na mesma década, com o pioneirismo dos primeiros plantios comerciais de maçãs no Brasil, em Santa Catarina, tendo a família Fischer como investidora.

Foto: Fisher/Divulgação
Mais tarde, em 1985, a Fischer S/A Agroindústria começou a participar diretamente na produção em Fraiburgo, no Meio-Oeste Catarinense. A primeira colheita, em 1986, rendeu 11 mil toneladas. Quatro décadas depois, a Fischer soma mais de 2,3 mil hectares de pomares e projeta expandir para 3 mil até 2027. “A Fischer foi pioneira na exportação de maçãs, abriu caminho para o desenvolvimento de todo o setor e consolidou o Brasil no mercado global”, destacou o diretor-executivo da ABPM.
O principal produto da empresa é a maçã Turma da Mônica, dedicada ao público infantil. As pequenas e doces maçãs, ideais para o consumo das crianças, entraram no mercado há 30 anos, sob a assinatura do cartunista Maurício de Souza. Hoje, representam entre 18% e 20% da produção anual da Fischer, cerca de 20 toneladas, segundo o diretor-executivo da empresa, Arival Pioli.
Para além da inovação no setor, a Fischer tem peso direto nas comunidades onde atua. A empresa emprega 1.200 funcionários, número que chega a quase triplicar em períodos de colheita. Nesse sentido, Pioli ressalta o vínculo criado com os trabalhadores ao longo das décadas.
“Temos funcionários que contam que o avô trabalhou aqui, depois o pai, e hoje eles também estão na empresa. Isso é muito bacana, porque mostra a confiança e a seriedade da companhia. Em uma cidade de 36 mil habitantes, temos aí momentos em que 10% da população tem relação direta com a Fischer”, afirmou.
Pioli acrescenta que esse impacto vai além da geração de empregos. “Empresas sérias, honestas e capitalizadas contribuem para a qualidade de vida, ajudando na saúde, na educação e no crescimento econômico dos municípios. Essa presença faz diferença no dia a dia das comunidades”, disse.

Foto: Fisher/Divulgação

Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Economia
1
Tarifa: enquanto Brasil espera, café do Vietnã e Indonésia pode ser isento
2
COP 30, em Belém, proíbe açaí e prevê pouca carne vermelha
3
A céu aberto: produtores de MT não têm onde guardar o milho
4
Fazendas e usinas de álcool estavam sob controle do crime organizado
5
Exportações de café caem em julho, mas receita é recorde apesar de tarifaço dos EUA
6
Rios brasileiros podem ser ‘Mississipis’ do agro, dizem especialistas

PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas

Economia
Brasil abre mercado de gordura animal no Japão
Ingrediente serve para a produção de ração e pet foods; Japão foi o sétimo principal destino das exportações do agro brasileiro

Economia
Crédito caro e endividamento travam entrega de fertilizantes em 2025
Plantio de soja começou no país, mas cerca de 10% do pacote de fertilizantes ainda precisa ser negociado para a semeadura da safra verão

Economia
Produção gaúcha de azeite de oliva projeta retomada em 2026
Setor aposta em clima favorável e manejo para superar duas safras consecutivas com perdas após recorde obtido em 2023

Economia
Saiba como será a audiência do Brasil na Seção 301, em Washington
Nesta quarta, 3, representantes do comércio dos EUA recebem lideranças brasileiras para esclarecer as acusações de Trump sobre relações comerciais bilaterais
Economia
CitrusBR: estoques de suco de laranja em junho crescem 25% ante junho de 2024
Ainda segundo a CitrusBR, safra 2024/25 do cinturão citrícola de SP e MG foi de 230,9 milhões de caixas, a menor das últimas três décadas
Economia
Oferta de soja em MT deve ser de 48 milhões de toneladas na safra 2025/26
Área plantada de soja cresce, mas produção e demanda caem; algodão tem maior estoque e exportações em alta
Economia
Produção de milho em Mato Grosso deve recuar em 2025/26
Imea estima produção de 51,72 milhões de toneladas, mesmo com alta na área cultivada e aumento nas exportações
Economia
País deixa de receber R$ 1,1 bi com contêineres de café parados nos portos em julho
Segundo Cecafé, infraestrutura portuária defasada tem gerado constantes atrasos e alterações de escala nos navios para exportação do produto