Com mercados suspensos e alta no preço do milho, economistas projetam rentabilidade negativa em 2025 e pressão nas cotações domésticas
O presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, afirmou que ainda não é possível mensurar os prejuízos causados pela suspensão temporária das exportações de frango do Brasil, em decorrência da confirmação de casos de gripe aviária em uma granja comercial no Rio Grande do Sul.
“[O prejuízo] não pode ser mensurado, porque uma parte das exportações vai ser redirecionada para outros mercados. O que não for vendido para a China, por exemplo, vai ser vendido provavelmente para a produção de farinhas para uso em pet food”, disse ao Agro Estadão.
Ele destacou que alguns países que haviam adotado embargos totais às importações brasileiras já estão revendo suas posições, como a África do Sul, por exemplo. “Já tivemos notícias de mercados que estavam fechados para o Brasil inteiro e agora estão colocando [o embargo] só para o estado do Rio Grande do Sul, como Cuba, Bahrein e Reino Unido”, acrescentou.
Apesar disso, Santin admite que o setor terá perdas. “Vai ser necessário mudar a logística. Já houve perda de navios, haverá custos adicionais com armazenamento. Mas não há ainda uma quantificação exata desse prejuízo, porque tudo é muito variável”, explicou.
Para o economista Fábio Silveira, sócio-diretor da MacroSector Consultores, as perdas do setor avícola brasileiro com a suspensão das exportações podem variar entre US$ 500 milhões e US$ 1 bilhão — o equivalente a cerca de um mês de receita do setor, que somou US$ 9,93 bilhões em 2024, segundo dados da ABPA.
Ao Agro Estadão, Silveira destaca que, além do impacto direto da interrupção nas exportações, o aumento de 20% no preço do milho em 2025 — principal insumo da alimentação das aves — deve agravar ainda mais o cenário. “É um ano para esquecer, para operar com rentabilidade negativa”, avalia o economista.
Com a suspensão dos embarques, o economista projeta que parte da produção será direcionada ao mercado interno, o que deve exercer pressão sobre os preços. “O preço vai diminuir de 5% a 10%, em função dos não embarques de produtos que vão ser revertidos e canalizados no mercado doméstico”, afirma Silveira.
No entanto, o economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE), ressalta que os produtores devem agir com racionalidade diante da nova conjuntura. “Um excesso de oferta pode provocar uma queda abrupta nos preços, o que não cobre os custos de produção”, explica.
Segundo Braz, caso o cenário se mantenha desfavorável para exportações, a tendência é que os avicultores reduzam a criação de aves para dimensionar a produção à nova demanda e limitar as quedas nos preços.
O ministro da Agricultura e Pecuária (Mapa), Carlos Fávaro, avalia que os preços da proteína de frango não devem cair de patamar no Brasil — conforme mostrou a reportagem do Agro Estadão. “A experiência adquirida no caso [da doença] de Newcastle no ano passado, os preços não baixaram tanto”, disse o ministro ao relembrar a detecção de um caso de outra doença respiratória ocorrido no ano passado em Anta Gorda (RS).
O economista Fábio Silveira destaca que os próximos 30 a 45 dias serão decisivos para o Brasil reverter os impactos da suspensão das exportações de carne de frango. Segundo ele, é fundamental que o governo e o setor produtivo atuem com máxima transparência e agilidade na contenção dos focos de gripe aviária.
“Quanto mais transparente for o processo de identificação e controle dos focos, melhor será a percepção do mercado externo. Porque será possível fazer um relatório internacional dizendo: ‘havia foco A, B e C, mas eles já estão sob controle’”, recomenda Silveira.