Economia

Paratuberculose atinge mais da metade dos rebanhos de ovinos do mundo

Pesquisa da UFCG e da Embrapa alerta para a necessidade de controle sanitário

Mais da metade (55,51%) dos rebanhos de ovinos do planeta possuem sinais de paratuberculose, essa foi a conclusão do estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e Embrapa. A prevalência em rebanhos da América do Sul foi ainda mais alta, chegando a 82,64%, enquanto na Ásia foi de 58,57%. Para se ter uma ideia, o rebanho de ovinos no Brasil é estimado em 27,8 milhões de animais, segundo os dados mais recentes do IBGE. A pesquisa sobre a prevalência da paratuberculose foi publicada na revista científica Small Ruminant Research e evidenciam os desafios globais para diagnóstico e controle da patologia.

A paratuberculose é uma doença infectocontagiosa causada pela bactéria Mycobacterium avium da subespécie paratuberculosis (MAP). Ela pode afetar ovinos, levando à perda de peso, redução na produção de lã e leite, aumento da mortalidade precoce e comprometimentos reprodutivos — como maior incidência de abortos. Nos sistemas de produção, a paratuberculose também eleva os custos operacionais e provoca prejuízos econômicos. 

Responsável pelo levantamento de dados — como parte de sua pesquisa para o doutorado pela UFCG, sob co-orientação do pesquisador Selmo Alves, da Embrapa Caprinos e Ovinos — a médica-veterinária Nathália Magalhães explica que a elevada prevalência da doença nessas regiões pode ser atribuída ao sistema de manejo semi-intensivo, caracterizado por altas densidades populacionais e pela ausência de programas eficazes de controle e manejo da doença. “Além disso, o comércio de animais sem regulamentação adequada favorece a disseminação da infecção entre os rebanhos”, alerta em nota.

A pesquisa também elenca alguns outros fatores de risco como a introdução de novos animais em rebanhos sem implementação de quarentena e a deficiência nas condições de higiene e saneamento, permitindo a sobrevivência prolongada da bactéria MAP em solo, água e alimentos contaminados.

Por conta disso, o estudo reforça a importância das medidas integradas de manejo sanitário, como o isolamento e o descarte de animais infectados, para interromper a disseminação do agente causador. “A higienização das instalações, com limpeza frequente e eliminação adequada de fezes, é essencial para minimizar a contaminação ambiental”, enfatiza a médica-veterinária.

“Além disso, a proteção de neonatos, por meio do fornecimento de colostro e leite de animais livres de MAP e da prevenção de contato com fezes contaminadas e produtos de aborto, é crucial”, completa Nathália, acrescentando que a aquisição de novos animais deve observar se o rebanho de origem está certificado como livre da paratuberculose.

Relação entre a paratuberculose e a doença de Crohn

Segundo a pesquisa, existe uma possibilidade de associação entre a paratuberculose e a doença de Crohn, uma inflamação intestinal crônica que acomete os seres humanos, causando dor abdominal, diarreia, vômito e perda de peso. A Organização Internacional de Saúde Animal não considera a paratuberculose uma zoonose (doença transmissível do animal ao ser humano), mas o agente causador tem sido encontrado ocasionalmente em pessoas acometidas com a doença de Crohn.

Estudos sugerem que a transmissão do agente causador para humanos pode acontecer por meio do contato com animais ou do consumo de leite contaminado, configurando potencial risco para saúde pública. “Entre as principais estratégias para minimizar o risco de transmissão para humanos, destaca-se a garantia do consumo de alimentos seguros e com certificados de qualidade, assegurando a pasteurização do leite e evitando a ingestão de produtos de origem animal crus ou mal processados”, recomenda Nathália. 

Para saber mais sobre a paratuberculose e como adotar medidas de prevenção, acesse o boletim do Centro de Inteligência e Mercado de Caprinos e Ovinos — CIM Zoossanitário.