Economia
O futuro da pecuária de corte brasileira
Mudança de gestão, atenção ao manejo e à integração com práticas sociais e ambientais, serão cruciais para transformar o setor brasileiro
Sabrina Nascimento | São Paulo
16/12/2024 - 08:30
Em um cenário de crescimento da demanda global por carne, o Brasil tem o potencial único de liderar esse mercado. Com uma base produtiva robusta e um potencial de crescimento, o país apresenta vantagens competitivas que o posicionam como líder natural. Entretanto, será necessário superar alguns desafios estruturais da pecuária.
Atualmente, apesar de o Brasil deter 11,9% do rebanho bovino mundial, sua participação na produção global de carne bovina é de 13,8%. Em comparação, os Estados Unidos, com apenas 5,2% do rebanho mundial, produzem 16% da carne. Já a China, com 5,4% do rebanho, responde por 10,7% da produção global.
“Isso não quer dizer que nós somos ineficientes, mas quer dizer que nós temos muitas oportunidades”, afirmou Pedro Veiga, gerente global de tecnologia bovinos de corte da Cargill Animal.
Entre as oportunidades apontadas pelo especialista está a capacidade brasileira de produção em pasto: 161,4 milhões de hectares, de acordo com levantamento da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de carnes (ABIEC).
Porém, este também é o ponto de vulnerabilidade da produção de carne bovina do país. Segundo números da Athenagro, 17,9 milhões de hectares de pastagem precisam de recuperação e mais 4,9 milhões de hectares já estão em níveis avançados de degradação.
“A gente precisa aplicar tecnologias já consolidadas para produzir pasto. O que seriam? É aquilo que os nossos antecessores já fizeram: corrigir acidez de solo, calagem, adubação, manejo. […] Estamos falando em usar drone para manejo de pasto, mas tem coisa básica que precisamos fazer antes. Tem pasto que foi formado há 40, 50 anos e nunca viu um grama de calcário”, salienta Veiga ao destacar que as pastagens têm um papel importante no processo de captura de carbono do setor.
Outro diferencial do Brasil é a sustentabilidade, com destaque para o sistema de integração lavoura, pecuária e floresta. Durante a conversa com o Agro Estadão na Feicorte 2024, Pedro Veiga comentou que os americanos ficam abismados ao saber que, no Brasil, em uma mesma área e no mesmo ano, é possível realizar a sucessão de culturas e a integração com a pecuária. “Não tem nenhum outro país no mundo que tenha o potencial que nós temos para integrar”, afirma o especialista.
Segundo Veiga, o desafio neste processo é fazer com que a tecnologia e o conhecimento cheguem ao produtor de médio e pequeno porte. Como solução, ele aponta a necessidade de investimentos em extensão rural. “O produtor de maior escala tem acesso a isso, ele tem condição de contratar uma consultoria privada que provém esse serviço. […] Talvez para o produtor de médio e pequeno porte seria interessante a criação de alguma política de estado para levar uma assistência técnica de qualidade para eles”, afirma Pedro.
Gestão e sustentabilidade: pilares essenciais para o protagonismo da pecuária brasileira
“O futuro da pecuária brasileira, obrigatoriamente, passa por melhorias de gestão”, destaca o gerente global de tecnologia bovinos de corte da Cargill Animal. Para ele, atualmente, a gestão no setor ainda deixa a desejar, e é essencial que os produtores enxerguem a pecuária como uma empresa urbana.
Lentamente, a sucessão familiar no setor tem mudado o cenário. “Precisa haver uma mudança cultural. Ela está acontecendo, principalmente com os novos herdeiros ou sucessores entrando no negócio com uma visão mais empresarial. Isso para mim vai ser uma revolução”, diz com otimismo. A profissionalização e a adoção de boas práticas de manejo, associadas à sustentabilidade, são vistas, igualmente, como o caminho para transformar a produção.
O especialista ressalta que ao falar sobre sustentabilidade é essencial lembrar que não é somente o lado ambiental que importa, mas também, o social e econômico. “O negócio precisa ser lucrativo para se tornar sustentável a longo prazo, cuidando não só das pessoas envolvidas diretamente, como das comunidades ao redor e do meio ambiente”, observa Pedro ao apontar que, o Brasil está “no lugar certo, na hora certa”, o desafio é transformar esse potencial em realidade.
Siga o Agro Estadão no Google News e fique bem informado sobre as notícias do campo.
Siga o Agro Estadão no Google News, WhatsApp, Instagram, Facebook ou assine nossa Newsletter
Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Economia
1
Passarinha do boi: o que é, características e comercialização
2
Como plantar ameixa com sucesso?
3
Produção de uva-passa: entenda como funciona
4
7 fatos que marcaram o agro em 2024
5
Lagarta de fogo: o que você precisa saber sobre essa praga?
6
China vai investigar importações de carne bovina; Mapa e Abiec se pronunciam
PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas
Economia
Safra 2024/2025 de cana termina com produtividade menor, aponta CTC
Produção média por hectare na região Centro-Sul foi de 78 toneladas de cana
Economia
Exportação de arroz beneficiado cresce 7% em volume e 27% em valor
Em 2024, o Brasil exportou 1 milhão de toneladas de arroz beneficiado, o que somou US$ 387,80 milhões em receita, segundo a Abiarroz
Economia
Superávit da balança comercial na 3º semana de janeiro é de US$ 1,356 bilhão
Até a terceira semana de janeiro, a média diária das exportações registrou alta de 7,8% em relação à média diária do mesmo mês de 2024
Economia
AgRural: com chuva, colheita de soja em MT é a mais atrasada da série histórica
Levantamento mostra que 1,7% da área estimada para o Brasil estava colhida; em Mato Grosso, colheita é a mais atrasada desde 2010
Economia
Agro brasileiro aguarda primeiras ações de Trump e efeitos no mercado
Setor observa cenário protecionista e possível guerra comercial com a China e outros países que podem afetar os juros, o dólar e as exportações brasileiras
Economia
Vinícolas gaúchas projetam safra de uva da qualidade e da recuperação
Rio Grande do Sul deve colher 700 mil toneladas de uva e é responsável por 90% da fruta nacional
Economia
EUA abrem mercados para feno, erva-mate e flor seca de cravo-da-índia
Segundo o Mapa, as exportações desses produtos para os EUA poderão acontecer se a exigência de certificação fitossanitária
Economia
Financiamentos do BNDES para o agronegócio crescem 26% em 2024, para R$ 52,3 bi
No último ano, foram firmadas 191.231 operações diretas e indiretas de empréstimos do BNDES ao agronegócio, 27,9% mais que no ano anterior e 60% que em 2022