Economia
Inadimplência no campo avança de 2% para 4% em três anos
Dados do BC mostram crescimento da inadimplência entre as pessoas físicas e bancos públicos, enquanto cooperativas de crédito têm índices baixos
Redação Agro Estadão
16/09/2025 - 05:00

Nos últimos anos, o agronegócio brasileiro foi impactado pela combinação de queda nos preços internacionais das commodities, altos custos de insumos e juros elevados. Esse conjunto de fatores reduziu as margens de lucro e dificultou o pagamento de financiamentos. Como resultado, há um aumento expressivo do endividamento rural, estimado em bilhões de reais, e um crescimento da inadimplência em operações de crédito agrícola.
Muitos produtores, que aproveitaram a fase de preços recordes entre 2020 e 2022 para expandir investimentos, agora enfrentam dificuldades para honrar os compromissos assumidos. Segundo dados apresentados nesta segunda-feira, 15, durante o Fórum de Crédito e Endividamento Rural, promovido pela Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), a inadimplência entre pessoas físicas e os bancos — que concentram de 80% a 85% do crédito rural — chegou a 5,9% este ano, enquanto os atrasos renegociados somam 15,8% da carteira.
Conforme João Ferrari Neto, analista do Banco Central, entre as pessoas jurídicas, a taxa é menor: 0,5%, com renegociações em torno de 6,5%. Nas cooperativas de crédito, o índice de atraso é de apenas 0,4%, resultado, segundo o especialista, da proteção proporcionada pelo Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro). Já nas instituições financeiras públicas, como o Banco do Brasil, a situação é mais delicada: os atrasos atingem 6,3% e renegociações chegam a 16,4%, acima da média do setor privado.
Soluções para conter o endividamento
Para evitar um colapso no campo, especialistas que estiveram presentes no encontro defenderam algumas saídas viáveis para a situação atual.
Um dos pontos mais destacados foi a necessidade de ampliar o subsídio governamental. Segundo o economista Fábio Silveira, da MacroSector Consultores, enquanto os Estados Unidos destinam cerca de 11% da receita agrícola em apoio público, o Brasil destina apenas 1,5%. “Não podemos ter vergonha de buscar financiamento público para um setor estratégico da economia brasileira”, afirmou.
Outro pilar para enfrentar a crise, segundo Ângelo Ozelame, fundador da Lucro Rural, é a mudança de postura na administração das fazendas. Ele destacou que, em anos de margens elevadas, produtores assumiram financiamentos pesados para expansão, sem avaliar os riscos de queda de preços e aumento dos custos. “Precisamos voltar à base e tomar decisões mais racionais, baseadas em números e no fluxo real de caixa”, recomendou.
A terceira solução defendida no evento foi o incentivo à mediação extrajudicial como forma de renegociar dívidas e contratos. O desembargador Mário Kono, presidente do Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, ressaltou que processos judiciais prolongados não atendem mais à urgência da economia. “A composição entre produtor, trading e instituições financeiras é o caminho mais eficaz para evitar a paralisia do setor”, disse.
O que causou o endividamento no agronegócio?
Durante o evento, o economista da MacroSector destacou que a raiz do problema está no esmagamento da rentabilidade agrícola a partir de 2022. Silveira salientou que nesse período, o custo de fertilizantes disparou com a guerra na Ucrânia e a volatilidade cambial, enquanto a taxa básica de juros atingiu níveis historicamente altos, encarecendo o capital de giro.
Dados apresentados pelo especialista mostram que, na soja, por exemplo, a relação de troca saltou de 19 para 24 sacas por tonelada de fertilizante — um aumento de 22% que pressionou as margens de lucro. “Estamos em plena crise, não temos outra palavra para utilizar neste momento”, afirmou Silveira, lembrando que a inadimplência no setor subiu de 2% em 2021/22 para 4% em 2024/25.
Ele lembrou que o setor sofreu com queda nos preços internacionais das commodities e enfrentou choques climáticos, como as enchentes no Rio Grande do Sul e secas no Centro-Oeste.
Para o presidente da Aprosoja MT, Lucas Costa Beber, a soma de fatores agravou a fragilidade financeira do setor. “Vivemos uma alta inflação de insumos, a queda do preço das commodities e catástrofes climáticas”, afirmou. No entanto, o dirigente acredita em saídas viáveis para se evitar o colapso no setor.
Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Economia
1
Minerva alerta pecuaristas após China detectar resíduo acima do limite na carne bovina do Brasil
2
Arábia Saudita quer aumentar em 10 vezes sua produção de café
3
Decisão sobre salvaguardas da China leva tensão ao mercado da carne bovina
4
Banco do Brasil usa tecnologia para antecipar risco e evitar calotes no agro
5
China cancela compra de soja de 5 empresas brasileiras
6
Reforma tributária: o que o produtor rural precisa fazer antes de janeiro?
PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas
Economia
Brasil abre mercado de feijões a quatro países asiáticos
Armênia, Belarus, Cazaquistão e Quirguistão, da União Euroasiática, autorizaram exportações de feijão comum e de feijão fradinho
Economia
Governo amplia regras para a renegociação de dívidas; veja o que muda
Nova MP inclui safra 2024/2025 e CPRs, mas CNA e governo do Rio Grande do Sul consideram medidas insuficientes
Economia
Cadeia da soja deve responder por 23% do PIB do agronegócio em 2025
Apesar da queda de preços, volumes recordes garantem alta de 11,66% PIB da cadeia de soja e retomada da renda
Economia
FGV: tarifaço afetou exportações para os EUA, mas houve avanço em números globais
Perdas com mercado norte-americano foram compensadas com crescimento de embarques para outros parceiros, em especial a China
Economia
Orplana avalia pedido de exclusão de associações após memorando com a Unica
O pedido de punição ou exclusão de três associações foi feito pela Assovale sob o argumento de descumprimento das regras estatutárias
Economia
Associação eleva projeção de exportações de soja, milho e farelo em dezembro
Brasil deve encerrar 2025 com 109,28 milhões de toneladas de soja exportadas; milho deve fechar com 41,91 milhões e farelo com 21,39 milhões
Economia
Agricultores bloqueiam ruas em Bruxelas em protesto contra acordo UE-Mercosul
Milhares de agricultores estão nas ruas em protesto enquanto líderes da UE discutem mudanças ou o adiamento do pacto comercial.
Economia
AgroGalaxy emite R$ 213 milhões em debêntures para pagar dívidas
Aprovação unânime do conselho permite troca de obrigações antigas por títulos de longo prazo sem juros reais