Economia
EUA aliviam tarifas, mas Brasil segue taxado com 40%, desafiando exportações do agro
Ordem executiva de Trump leva alívio ao setor de suco de laranja e algumas frutas, mas mantêm café e carne bovina na lista de tarifas elevadas

A nova ordem executiva publicada pelo governo Donald Trump trouxe um alívio limitado — e também bastante confusão — para o comércio exterior brasileiro. A avaliação é de Welber Barral, colunista do Agro Estadão e ex-secretário de Comércio Exterior, que analisou as mudanças promovidas pelo governo norte-americano.
O texto publicado pela Casa Branca na sexta-feira, 14, altera novamente o chamado “Anexo II da ordem executiva 4257”. Esse anexo é responsável por definir, desde 2 de abril de 2025, as exceções à tarifa recíproca de 10% aplicada pelos Estados Unidos (EUA).
O anexo já havia sido modificado por outra ordem executiva (EO 14346), em setembro, e agora ganhou uma nova atualização — movimento que pegou os exportadores de surpresa. Segundo Barral, muitos leram o novo anexo como uma isenção geral, interpretando que os produtos listados ficariam livres de todas as tarifas impostas pelos EUA — tanto as de 10%, quanto de 40%. “No anexo, consta carne bovina, café e algumas frutas. As frutas que já estavam na lista de exceções, estão isentas de qualquer tarifa, assim como o suco de laranja”, apontou.
De acordo com o especialista, essa decisão veio de pressão dos consumidores norte-americanos, por conta da inflação. “Os produtos que eles não têm eles buscaram baixar. O café, por exemplo, subiu 21% nos EUA. Então, eles derrubaram a ordem executiva de abril, que colocava 10% para todos os países. Foi isso que caiu. Todas as outras ordens executivas continuam. Os 40% do Brasil está mantido e depende de negociação”, disse ao Agro Estadão.
O ex-secretário de Comércio Exterior enfatizou que a decisão não teve relação com a visita, nesta semana, do chanceler brasileiro, Mauro Vieira, ao secretário de Estados dos EUA, Marco Rubio. “Foi uma decisão fruto da pressão dos consumidores norte-americanos. […] Os Estados Unidos não tem o Brasil como prioridade”, disse.
Para o especialista, 2025 já é um dos anos mais complexos para exportadores brasileiros e, diante do atual cenário, 2026 deve seguir no mesmo ritmo. No próximo ano, entretanto, segundo Barral, a corte dos EUA deve derrubar as ordens executivas de Donald Trump em relação a aplicação de tarifas recíprocas. Porém, a ação é esperada somente para março ou abril. Até lá, o governo brasileiro deve seguir tentando costurar um acordo com os norte-americanos ao passo que as exportações brasileiras, inclusive do agronegócio, tentam driblar o impacto das tarifas sobre seus resultados.
O que realmente mudou com a nova medida dos EUA?
De acordo com a análise, a situação tarifária para as exportações brasileiras fica assim:
- Revogação da tarifa de 10%
A nova ordem executiva elimina a cobrança recíproca de 10% para os produtos listados no anexo atualizado e para outros que já haviam sido excepcionados anteriormente.
- Tarifas específicas continuam valendo
A flexibilização, porém, não atinge a tarifa adicional de 40% aplicada ao Brasil a partir de agosto deste ano. Assim como no caso da Índia, seguem valendo as sobretaxas de 25% + 25% decorrentes de ordens ligadas à importação de petróleo russo.
- Sobreposições de regras
Barral lembra que, cada ordem executiva possui seus anexos de exceções, o que significa que um produto pode ser liberado da tarifa de um decreto, mas continuar sujeito às cobranças de outro. Como no caso do café e da carne bovina brasileira que seguem tarifas em 40%, apesar da retirada da tarifa de 10%.
- Ajustes para “parceiros alinhados”
A análise destaca ainda que, há um anexo na ordem executiva 14346 que prevê reduções tarifárias caso o Departamento de Comércio e o Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos concluam acordos recíprocos com determinados países. À exemplo do acordo que o governo brasileiro vem tentando costurar nas últimas semanas.
- Tarifas paralelas seguem pesando
O ex-secretário de Comércio indica que itens como aço, alumínio, cobre e madeira continuam sendo tributados pela Seção 232 — e, dependendo da composição do produto final, essas cobranças podem se somar às demais.
- Acúmulo tarifário ainda preocupa
Segundo Barral, exportadores podem enfrentar uma soma de tarifas como: NMF tradicionais — tarifa padrão que um país aplica igualmente a todos os outros membros da Organização Mundial do Comércio —, medidas antidumping, compensatórias e salvaguardas.
Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Economia
1
China acelera compras de carne bovina à espera de decisão sobre salvaguardas
2
Brasil deve registrar recorde histórico na exportação de gado vivo em 2025
3
Adoçado com engano: apicultores denunciam uso de ‘falso mel’ na indústria alimentícia
4
Banco do Brasil dá início à renegociação de dívidas rurais com recursos livres
5
Oferta de etanol cresce mais rápido que consumo e acende alerta no setor
6
Onde nascem os grãos da xícara de café mais cara do mundo?
PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas
Economia
Nova tarifa dos EUA mantém distorções no comércio de café, diz BSCA
Entidade defende avanço rápido nas negociações; exportações brasileiras aos EUA recuaram cerca de 55% desde o início do tarifaço
Economia
Redução de só 10% pode ter sido “engano” e governo brasileiro espera redução da taxa de 40%
A expectativa é de que os EUA expliquem a situação na próxima segunda; Alckmin diz que o país segue trabalhando para reduzir a taxa
Economia
Suco de laranja está isento das tarifas dos EUA; subprodutos seguem taxados
Setor sofre impacto de cerca de R$ 1,5 bilhão devido às tarifas vigentes aos subprodutos, que não foram citados na ordem executiva
Economia
Trump reduz tarifas para carne bovina, café e frutas
Sem detalhes sobre quais tarifas foram retiradas, Cecafé e ABIEC ainda avaliam a ordem executiva do governo dos Estados Unidos.
Economia
Pelo segundo ano seguido, Agro Estadão é finalista do Prêmio José Hamilton Ribeiro de Jornalismo
Reportagem sobre “carne de fungo”, desenvolvida durante a Agrishow 2025, concorre na modalidade Jornal Impresso; vencedores serão anunciados neste mês
Economia
USDA reduz safra de soja e milho dos EUA; safra do Brasil segue estável
Após shutdown, Departamento de Agricultura norte-americano publicou relatório de oferta e demanda mundial de grãos
Economia
Com investimento de R$ 60 milhões, 3tentos inicia processamento de canola no RS
Operação com a oleaginosa deve durar de dois a três meses na atual temporada, mas será estendida conforme o volume disponível
Economia
CMN aprova ampliação de crédito para empresas afetadas pelo tarifaço
Medida aumenta o acesso ao crédito, flexibiliza critérios de elegibilidade e inclui fornecedores de empresas exportadoras entre os beneficiários