Economia
Etanol: adoção de E30 deve ampliar déficit e pode dobrar importação no Nordeste, diz Argus
Segundo a consultoria, compras da região devem passar de 25 milhões de litros para 50 milhões, mesmo com crescimento da safra da cana

Leandro Silveira/Broadcast Agro
04/08/2025 - 17:08

A elevação da mistura de etanol anidro na gasolina de 27% para 30%, válida desde sexta-feira, 1º, deve provocar mudanças no mercado de combustíveis, com impactos relevantes no Nordeste. A consultoria Argus estimou que as importações de etanol podem dobrar de 25 milhões de litros para até 50 milhões de litros ao mês, principalmente para suprir o déficit na região, que deve crescer com a maior demanda decorrente das novas regras.
Segundo o gerente de desenvolvimento de negócios da Argus, Amance Boutin, o aumento da demanda por etanol anidro no Nordeste pode atingir 14% em 2025, totalizando cerca de 2,46 bilhões de litros, resultado do crescimento do consumo de gasolina e da maior mistura obrigatória.
Embora a safra da cana-de-açúcar na região deva crescer 3,6%, segundo estimativa da Conab, a produção local estimada de etanol anidro é de 1,26 bilhão de litros para o ano, levando a um déficit projetado de 1,2 bilhão de litros, um aumento significativo frente aos 945 milhões de litros registrados em 2024.
“O Nordeste não tem capacidade de aumentar produção a curto prazo. Com isso, para atender à demanda adicional, o produto terá que vir de outras regiões, seja o etanol de milho do Centro-Oeste, sejam exportações”, explicou Boutin.
A diferença de preços reforça esse movimento: o preço do etanol anidro em Suape (PE) está em R$ 3,54 por litro, enquanto o etanol importado dos Estados Unidos, sem alíquota, pode chegar a R$ 3,23 por litro, segundo levantamento da Argus. Com a tarifa de importação de 18%, o preço sobe para cerca de R$ 3,79 por litro, o que pode limitar o volume importado, a depender da capacidade das empresas de acessar mecanismos de isenção como o drawback, regime aduaneiro especial que isenta tributos sobre insumos importados, desde que eles sejam usados na produção de bens exportados.
Atualmente, as importações vêm especialmente do Paraguai – isento de tarifa por ser integrante do Mercosul – e dos Estados Unidos. Segundo Boutin, algumas operações americanas têm utilizado o drawback para importação, viabilizando custos menores.
Além do desafio da oferta, o cenário comercial entre Brasil e Estados Unidos adiciona pressão sobre o mercado nordestino. O Nordeste é o grande exportador de açúcar para os EUA dentro das cotas preferenciais e está inserido na disputa tarifária que envolve açúcar e etanol. “Se os Estados Unidos fecharem a porta para o açúcar nordestino, o impacto será ainda maior para a região, que já sofre com a pressão do etanol de milho e das importações”, alerta Boutin.

Newsletter
Acorde
bem informado
com as
notícias do campo
Mais lidas de Economia
1
Pouco espaço em casa? Veja como fazer uma horta vertical
2
Chamada de nova soja, cannabis pode gerar quase R$ 6 bilhões até 2030
3
Conheça a frutinha 'parente' da jabuticaba e pouco explorada
4
Banco do Brasil inicia renegociações de dívidas na próxima semana
5
Soja: Argentina zera impostos e ameaça exportações do Brasil para a China
6
EUA caem para 7º lugar entre destinos da carne bovina brasileira em agosto

PUBLICIDADE
Notícias Relacionadas

Economia
Cafeicultores da Colômbia cobram governo para impedir triangulação
Hipótese de triangulação foi levantada após a Colômbia elevar em 578% as importações de café do Brasil em agosto

Economia
Colunista do Agro Estadão integra delegação brasileira em cúpula global na Bélgica
Teresa Vendramini e mais cinco lideranças femininas participam de painel sobre inovação e sustentabilidade no agro brasileiro

Economia
Banco do Brasil inicia renegociações de dívidas na próxima semana
Documento do BNDES para linha com juros controlados também é esperado para os próximos dias

Economia
Agricultores vão às ruas na França contra acordo Mercosul-UE
Com tratores e cartazes, grupo quer atrair atenção de Emmanuel Macron e afirma que ‘A revolta camponesa recomeçou em Versalhes’
Economia
Azerbaijão abre mercado para produtos cárneos processados do Brasil
País importou mais de US$ 21 milhões de produtos do agro brasileiro no ano passado
Economia
China pode hesitar em comprar soja dos EUA mesmo com acordo, diz CEO da CNH
Egito, Taiwan e México foram os principais compradores da oleaginosa norte-americana na última semana
Economia
Anec reduz previsão de embarque de soja e de farelo e eleva a de milho em setembro
Exportações em setembro devem ficar entre 16,451 e 17,265 milhões de toneladas; no mesmo mês do ano passado, atingiram 13,35 milhões
Economia
Faturamento bruto do setor agropecuário atinge R$ 1,4 trilhão
Milho, café e bovinos apresentam perspectivas de crescimento acima de 20%