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Economia

Cana-de-açúcar pode garantir energia elétrica em tempos de seca

Bioeletricidade deve ter papel estratégico para a segurança energética do Brasil, mas depende de políticas de irrigação e gestão hídrica para resistir a longas estiagens

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Redação Agro Estadão

21/10/2025 - 10:43

Foto: Adobe Stock
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A bioeletricidade gerada a partir do bagaço da cana-de-açúcar pode ajudar o Brasil a enfrentar períodos de seca com estabilidade no fornecimento de energia elétrica. É o que mostra um estudo da Universidade das Nações Unidas, em parceria com a Universidade de Bonn (Alemanha) e a Embrapa. O trabalho foi publicado na revista Environmental Advances.

Segundo os autores, a bioeletricidade da cana vem se consolidando como alternativa estratégica para diversificar a matriz elétrica e reduzir a dependência das hidrelétricas — fontes vulneráveis às variações climáticas. Durante a estiagem, quando os reservatórios atingem níveis críticos, a energia produzida a partir do bagaço pode ajudar a manter o abastecimento. A geração pode ocorrer também à noite, complementando a energia solar. 

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Mas, afinal, como o bagaço vira energia elétrica?

Depois da colheita, a cana é moída para a extração do caldo que dá origem ao açúcar e ao etanol. O que sobra desse processo é o bagaço, um resíduo fibroso e rico em matéria orgânica. Nas usinas, esse bagaço é queimado em caldeiras. A combustão aquece a água e produz vapor em alta pressão, que movimenta turbinas acopladas a geradores elétricos, gerando eletricidade.

Essa energia, chamada de bioeletricidade, serve tanto para abastecer a própria usina quanto para alimentar o sistema elétrico nacional, por meio do Sistema Interligado Nacional (SIN). Algumas unidades também utilizam a palha da cana, ampliando a produção.

Potencial energético e pegada de carbono reduzida

Atualmente, cerca de 8% da eletricidade brasileira é produzida a partir de biomassa — e mais da metade dessa parcela vem do bagaço da cana. Considerada uma das fontes mais limpas do sistema elétrico, a bioeletricidade apresenta pegada de carbono de 0,227 kg de CO₂ equivalente por kWh, contra até 1,06 kg em termelétricas a diesel.

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Além disso, o ciclo da cana não adiciona carbono novo à atmosfera. O gás emitido durante a queima do bagaço é o mesmo que foi absorvido pela planta durante o crescimento. Esse equilíbrio faz da bioeletricidade uma fonte de baixo impacto ambiental e alta eficiência energética, especialmente em períodos críticos de seca. “Mas, para mantermos essa contribuição estável, precisamos enfrentar fragilidades estruturais e institucionais que ainda limitam o setor”, explica Vinicius Bufon, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente.

Riscos e gargalos do setor

O estudo alerta que a falta de barragens para armazenar água das chuvas e a ausência de linhas de crédito específicas limitam o investimento em infraestrutura hídrica. Em muitos polos canavieiros, a irrigação ainda é restrita a pequenas áreas, o que aumenta a dependência das precipitações.

Outros desafios incluem seguros agrícolas pouco adaptados à realidade climática e falta de sistemas robustos de alerta precoce para antecipar períodos de estiagem prolongada. Essa fragilidade aumenta os custos de produção e pode comprometer o fornecimento de energia nos momentos em que ela é mais necessária.

Soluções e políticas de adaptação

Os pesquisadores defendem a modernização dos sistemas de irrigação, a digitalização do monitoramento climático e o incentivo a práticas de manejo hídrico integrado. Também recomendam políticas públicas que apoiem produtores e indústrias na adoção de tecnologias de resiliência, como sensores de umidade, barramentos sustentáveis e reuso de água industrial.

Bufon ressalta que parte dessas soluções já vem sendo testada em projetos conduzidos pela Embrapa. “Nosso foco é contribuir para uma agricultura climaticamente inteligente, que não apenas aumente a produtividade, mas também fortaleça a adaptação às mudanças climáticas e reduza as emissões de gases de efeito estufa”, afirma.

Zevallos destaca que, se bem estruturado, o sistema pode servir de modelo para outros países com forte dependência da energia hidrelétrica. “O Brasil tem condições únicas de liderar a integração entre agricultura, energia e clima. Reduzir a vulnerabilidade da bioeletricidade é fortalecer a segurança energética nacional e a transição para uma economia de baixo carbono”, conclui.

O estudo completo está disponível aqui

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