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Economia

Baru: saiba mais sobre a castanha do Cerrado

Nativo do Cerrado, o Baru já é exportado para países do Oriente Médio

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Daumildo Júnior | Brasília | daumildo.junior@estadao.com

27/07/2024 - 08:30

Foto: Juliana Miura/Embrapa Cerrados
Foto: Juliana Miura/Embrapa Cerrados

Rico em proteínas e lipídios, o baru tem diferentes usos que vão desde a alimentação até a jardinagem. Consumido principalmente como castanha, pode aquecer a renda do produtor rural e ajudar no cultivo mais sustentável. 

A especialista no assunto e pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Cerrados, Helenice Gonçalves, traz dicas de como cultivar, as formas de aproveitamento e, ainda, um uso peculiar da castanha do Cerrado. 

O que é o baru? 

O baru é o fruto do baruzeiro. Essa é uma árvore nativa do Cerrado, pertencente à família das leguminosas – mesma família da soja e do feijão – e é considerada uma planta perene. A parte mais conhecida do fruto é a semente, também chamada de castanha do cerrado, castanha de burro, barujo e cumbaru – nome semelhante a outra espécie parecida, o cumaru

“Geralmente as pessoas pensam que é uma palmeira por associar o baru a uma espécie de coquinho. Porém, não é uma palmeira”, esclarece a especialista.

O fruto tem um formato oval e com uma casca amadeirada e resistente. A polpa é bastante fibrosa e se esfarela quando pressionada. A semente representa cerca de 5% de todo o fruto e tem uma coloração amarronzada por fora, mas por dentro é branca. 

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Foto: Helenice Gonçalves/Embrapa Cerrados

Não há registros de quando o baru começou a ser consumido, pois populações indígenas antes mesmo da colonização portuguesa, já se alimentavam dele. Também por isso, o nome baru é de origem indígena e significa “alimento que alegra”. 

A pesquisadora explica que, por não ser um planta domesticada, o baru tem diferentes tamanhos, sendo alguns de quatro centímetros e outros podendo ultrapassar os oito centímetros de comprimento. Já a árvore pode variar de altura entre 15 a 25 metros na fase adulta.

O poder afrodisíaco 

Algumas pessoas têm consumido baru por acreditarem que a castanha tenha efeitos afrodisíacos. Segundo a especialista, estudos que investigam a parte nutricional da semente apontam que há uma quantidade significativa de zinco na composição do baru, cerca de 10%, e isso é o que colabora para ser um alimento afrodisíaco. 

No entanto, ela alerta que isso ainda precisa ser melhor pesquisado. “Isso é mais um dito popular do que comprovado cientificamente. Ainda tem muita coisa em estudo, indica Gonçalves.

O baru é brasileiro?

Sim, porém ele não é endêmico do Brasil. Além do Cerrado, há também ocorrências do baru na Bolívia. Por lá, ele é conhecido como almendra chiquitana e também já era consumido pelos povos originários da região antes do contato com colonizadores europeus. 

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Quais os usos do baru?

O fruto é 100% aproveitável. A semente tem o uso mais comum, que é a torrada para depois ser consumida como uma castanha de caju ou uma castanha do Pará. Porém, a partir dela também pode ser extraído óleo ou até mesmo ser aproveitada para alimentação animal. A pesquisadora lembra que essa semente é rica em proteína (23% em 100 gramas) e lipídios (38% em 100 gramas).

A polpa, que é a parte fibrosa, também pode ser consumida, mas a partir de um processamento. Para animais, como bovinos e equinos, ela pode ser triturada e misturada em uma ração. Para alimentação humana há inclusive a produção de uma pasta, como a pasta de amendoim. 

A parte da casca, que é mais dura e resistente, pode servir como carvão vegetal, além de substrato para cultivo de plantas, como a orquídea, ou até como cobertura de jardins. 

Além disso, a árvore exerce uma função ambiental, já que ela pode permanecer pelo menos 50 anos e protege o solo contra erosões, por ter raízes profundas, além de fornecer sombra para fauna ou até mesmo no sistema ILPF. Além disso, a madeira do baruzeiro também pode ser utilizada para móveis, porém requer uma autorização para ser extraída, já que é uma árvore nativa.

Foto: Helenice Gonçalves/Embrapa Cerrados

Como plantar baru?

Antes de iniciar o cultivo do baru é importante saber a finalidade. Além disso, o baruzeiro não é uma árvore que dá retorno econômico rápido, pois a frutificação pode variar de dois até 20 anos. Por isso, em um cultivo comercial, o mais indicado é a inclusão do baru em algum sistema integrado. A pesquisadora conta que além da pecuária, há produtores que plantam baru com seringueiras ou com café, que são plantas de retorno mais rápido. 

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“O recomendado para o plantio dele é em sistemas integrados. Nunca pensar em um cultivo de monocultura”, completa. “Se o produtor for investir em produção de madeira, ele vai preferir uma árvore de porte maior, com menos copa, para dar menos sombra para pastagem. Se for para produção de frutos, aí é uma árvore de porte menor, porém com uma copa frondosa e com muitos galhos para gerar frutos. Então vai depender.”, complementa a pesquisadora.

Solo e clima

Diferente de outras plantas, o baruzeiro gosta de solos mesotróficos, ou seja, solos que têm uma fertilidade média. Além disso, é importante que o solo seja bem drenado, pois não é uma árvore que suporta encharcamento. 

Também é uma árvore que aceita a calagem do solo, adubação de cobertura e tratamento com adubos orgânicos. Caso o uso seja esterco de animais, é preciso que ele esteja bem curtido antes de oferecer para a planta. 

Quanto ao clima, por ser do Cerrado, ela suporta algum nível de temperaturas mais elevadas e uns seis meses sem chuva, como normalmente acontece nesse bioma. No entanto, uma recomendação é de que na primeira temporada de seca da planta seja feita uma irrigação de salvamento, com a distribuição de três litros de água por semana. 

Sementes e mudas

O plantio pode ser feito tanto do fruto inteiro ou da semente do baru. O tempo de germinação, no entanto, varia. Com todo o fruto, pode demorar de 45 a 60 dias. Com a semente, entre sete e dez dias. 

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Para cultivo comercial, o indicado é que sejam feitas mudas a partir de sementes pré-selecionadas, em que se saiba a origem da árvore mãe. Isso ajuda o produtor a identificar o potencial que aquela muda terá quando se tornar adulta, já que hoje o baruzeiro ainda não é uma planta domesticada. Essas mudas podem ser feitas em tubetes ou em saquinhos próprios. 

A especialista explica que para produção de muda, a época ideal é a temporada de seca no Cerrado. “O fruto caiu, já quebra e planta a semente”, explica Gonçalves. Porém, isso só é bom para mudas, já que nessa fase de germinação e nos primeiros meses de desenvolvimento o baruzeiro precisa de água. 

No caso de plantio direto, a melhor época é no começo da época chuvosa. Assim, se assegura o fornecimento de água. Segundo a pesquisadora, a Embrapa também está estudando um método de enxertia do baru para obter lavouras uniformes.

Também é possível guardar a semente para ser plantada em um momento mais oportuno, porém essa armazenagem deve ser em temperatura ambiente. Além disso, não precisa de um tempo de secagem e não pode pegar umidade. “O fruto é o melhor lugar para guardar a semente. Enquanto você não souber o que fazer com ela, deixe dentro do fruto”, recomenda. 

Por ser uma semente rica em proteínas e lipídios, é indicado também aplicar um fungicida seja na semente ou no local onde será plantada. Isso tende a evitar a proliferação de microrganismos que se alimentam desses nutrientes e podem atrapalhar na germinação.

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Colheita

A pesquisadora também revela que não há uma precisão de quanto tempo após o plantio a árvore do baru começará a dar frutos. Há casos em que com dois anos a planta já começou a florescer e outros casos que com 20 anos ainda não deram frutos. Por isso, a importância também de conhecer e selecionar uma semente de plantio cuja árvore tem um bom desempenho.

Depois que floresceu, entre junho e outubro, é a época da safra. Um ponto relevante é que o fruto do baru não pode ser colhido no pé. É preciso deixar que ele caia, esse é o ponto em que ele já está maduro e pronto para ser consumido. 

Além disso, normalmente, os frutos não caem todos de uma vez. Esse período costuma demorar em média dois meses. 

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