Cotações
Efeito Trump: dólar e juros em alta geram incertezas ao agro
Moeda ultrapassou R$ 6,00 no início do dia e mercado segue incerto com possíveis efeitos econômicos, fiscais e comerciais após eleição do novo presidente dos EUA

Sabrina Nascimento* | São Paulo
06/11/2024 - 14:14

O dólar disparou na manhã desta quarta-feira, 05, depois de Donald Trump ser eleito o novo presidente dos Estados Unidos.
Na abertura do mercado, a moeda disparou quase 2%, superando R$ 6, diante da expectativa de que o republicano adote políticas econômicas, fiscais e comerciais mais protecionistas. O efeito Trump sobre o dólar foi amenizado ao longo das horas, com a moeda encerrando o pregão em baixa de 1,26%, na casa de R$ 5,67.
Segundo a consultoria Markestrat, apesar do recuo, o movimento de valorização do dólar frente ao real deve se manter. “A provável política comercial protecionista de Trump, com elevação de tarifas comerciais para países emergentes, intensifica tensões comerciais e riscos, incentivando investidores a buscarem segurança em moedas fortes, como o dólar”, explica a consultoria em relatório.
Além disso, Trump promete reduzir impostos, o que tende a estimular a atividade econômica ao aumentar o consumo e os investimentos. Esse estímulo adicional pode aquecer o mercado de trabalho e elevar a demanda por produtos e serviços, fatores que costumam pressionar a inflação para cima.
“Combinado à noção de que o resto do mundo não acompanhará o ritmo de crescimento da economia americana, temos a justificativa do porque os juros e o dólar avançam em conjunto”, sinaliza o Banco Inter em relatório.
Com a vitória de Trump, a instituição financeira prevê uma taxa de câmbio próxima a R$ 5,70 no encerramento de 2024. A projeção está acima dos R$ 5,50 estimados pelo Banco Central brasileiro no último relatório Focus divulgado na segunda-feira, 04 – antes do resultado das eleições norte-americanas.
Volatilidade na soja
A volatilidade marcou o mercado da soja nesta quarta-feira, 06, especialmente na bolsa de Chicago, onde os preços começaram a cair logo no início do pregão, mas acabaram se estabilizando ao longo do dia. Os contratos com vencimento em janeiro de 2025 fecharam o dia a US$ 10,03 o bushel, com alta de 0,20%.
A eleição de Trump reacende as preocupações com novas tensões comerciais entre Estados Unidos e China, o que poderia impactar diretamente o comércio global de soja, assim como ocorreu em seu primeiro mandato.
Para o setor brasileiro, uma escalada de tensões comerciais entre as duas potências poderia novamente beneficiar o país, criando novas oportunidades de mercado. No entanto, especialistas apontam que é prematuro prever um novo pico de preços.
“É um pouco cedo para trabalhar com preços recordes, até porque as cotações estão bastante pressionados, principalmente, porque o ambiente já era negativo, diante de uma oferta cheia nos Estados Unidos e uma possível safra cheia aqui na América do Sul”, alerta Fernando Gutierrez, analista da Safras&Mercado.
Aumento de custo para o agro brasileiro
Como se sabe, o dólar e os juros são fundamentais para a agropecuária, pela influência direta nos custos, na competitividade e rentabilidade do setor. O dólar valorizado tende a tornar os produtos brasileiros mais competitivos no mercado internacional, impulsionando as exportações e aumentando a receita dos produtores.
Porém, há impactos negativos no custo de produção, principalmente, no âmbito dos fertilizantes. Atualmente, o Brasil importa cerca de 70% desses produtos. “Enquanto o setor exportador é beneficiado, os custos elevados de produção podem pressionar as margens dos produtores brasileiros”, avaliam os analistas da Markestrat.
Soma-se a esse movimento o fator “juros”. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, nesta quarta-feira, 06, elevar de 10,75% para 11,25% a taxa básica de juros, a Selic.
A autoridade monetária afirmou que a percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal tem afetado “de forma relevante” os preços de ativos e as expectativas, especialmente o prêmio de risco e a taxa de câmbio. O Copom defendeu ainda que o governo adote medidas fiscais estruturais que gerem impactos para a política monetária.
A alta do dólar com a vitória de Trump, o futuro fiscal do Brasil e o impacto da seca sobre o preço de energia e alimentos deixam um cenário de incerteza. “Juros elevados encarecem o financiamento, o que pode reduzir os investimentos e aumentar os custos de produção, afetando a lucratividade do setor”, ressalta a Markestrat.
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