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Dólar alto: é bom ou ruim para o produtor rural?

Especialistas analisam como moeda americana pode impactar o agronegócio brasileiro

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Daumildo Júnior | daumildo.junior@estadão.com

18/04/2024 - 16:27

Foto: Adobe Stock
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A moeda americana vem registrando saltos frente ao real nos últimos dias. O dólar saiu de R$ 5 em 9 de abril para R$ 5,29 uma semana depois, na última terça, 16. Mas como alguns centavos de diferença podem afetar o produtor rural? E quais as perspectivas para os próximos meses?

O Agro Estadão conversou com especialistas de mercado para entender como essa subida do dólar pode impactar o setor produtivo brasileiro. 

Dólar mais caro é bom ou ruim?

Segundo o pesquisador do Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV Agro) e doutor em Economia, Felippe Serigati, esse cenário da moeda americana é ruim para o agronegócio. Isso porque há uma volatilidade alta o que não permite a previsibilidade tanto para quem exporta como para quem importa. 

“Esse desenho, em via de regra, é ruim. Mas o câmbio mais alto não favoreceria o exportador? Favoreceria se ele soubesse que esse câmbio ficaria mais alto. Na situação que temos hoje, o exportador fica quase como um comportamento de especulador. Gera muita incerteza no mercado”, acrescenta Serigati.

O que fazer com o dólar mais caro?

Para o pesquisador da FGV Agro, o momento pode ser oportuno para fixar contratos futuros de commodities negociadas na bolsa, como soja, milho, café e açúcar. “A turma que já vem operando com preços muito baixos, pode se beneficiar. Aproveita que o dólar deu uma esticada e tenta travar um contrato. ‘Ah, mas amanhã pode ficar mais caro’. Sim ou não, então aproveita o que tem hoje”, recomenda Serigati.

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Quais setores são impactados?

Além de exportadores, o dólar mais caro também pode refletir nos valores dos insumos agropecuários, já que a maior parte desses produtos vem de fora do país e são negociados em moeda americana. Para Serigati, a volatilidade também acaba jogando contra e os agentes do mercado ficam especulando uma possível queda. 

“Isso também pode afetar em termos temporais a aquisição de insumos de novo. Por que? Porque o pessoal pode ficar tentando especular. ‘Será que essa taxa de câmbio não vai cair amanhã daí eu consigo comprar um insumo um pouco mais barato?’. Então, esse que é o retrato dessa volatilidade no mercado cambial, que na verdade não é no mercado cambial, é uma volatilidade do lado do macroeconômico, que tem reflexo naturalmente no mercado cambial”, explica o pesquisador.

Qual a perspectiva para o futuro e quais são os motivos dessa alta do dólar?

“Eu venderia um pouco agora de soja e milho”, avalia o fundador da Harven Agribusiness School e especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio, Marcos Fava Neves.

Para ele, caso o cenário geopolítico internacional – especialmente sobre os conflitos no Oriente Médio – continue como está, a tendência é que o dólar volte aos patamares de oscilação entre R$ 4,95 e R$ 5. “Não tendo essa escalada, pode ser um bom momento para a fixação de soja e de outros produtos do agro porque câmbio deu uma estourada”, complementa. 

“No geral, tanto na questão das importações que o Brasil tem que fazer do Oriente Médio, quanto na questão das exportações de produtos para lá, é negativo esse conflito sobre a ótica econômica”, aponta Fava Neves. 

Ambos especialistas dizem que as incertezas geradas pelo contexto econômico e político, tanto internacional como nacional, ainda não estão claras. É essa insegurança e falta de previsibilidade que faz com que a moeda americana suba rapidamente, como notado nos últimos dias. 

Os motivos para esse quadro de incerteza se dão por pelo menos três situações:

  • Inflação americana: na última semana, o número da inflação dos Estados Unidos veio acima do esperado pelo mercado, o que praticamente empurra a queda na taxa de juros americana para meados do segundo semestre. Isso eleva a projeção de juros futuros por mais tempo, o que atrai mais investidores para os títulos emitidos pelos Estados Unidos, já que o risco é menor e o retorno para os próximos meses deve continuar mais alto.
  • Conflito Israel e Irã: a tensão provocada pelos bombardeios iranianos a Israel e o temor de uma escalada do conflito também mexeram com o mercado internacional. O receio é que uma guerra entre as duas nações prejudicaria o fornecimento de petróleo, o que por consequência tornaria ele mais caro. Um dos efeitos seria o aumento ou manutenção de uma inflação elevada em boa parte do mundo, incluindo os Estados Unidos. Com inflação mais alta, os juros americanos também não cairiam. Já do lado brasileiro, o especialista Fava Neves também acrescenta que o Irã é um importante exportador de fertilizante, o que poderia provocar um aumento nos preços desses insumos. 
  • Desconfiança com o cumprimento da meta fiscal: na política interna, o governo vem anunciando mudanças na meta fiscal de 2025 e 2026. Essas modificações prorrogam o compromisso de deixar as contas públicas no azul. A consequência imediata é a fuga de investidores estrangeiros que passam a exigir um prêmio, uma compensação, maior pelo risco de deixar o dinheiro no Brasil. Além disso, eles comparam a relação risco e retorno entre Brasil e Estados Unidos, que hoje está mais favorável aos americanos. Com menos oferta de dólar circulando pelo país, o preço da moeda americana sobe.   

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