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Celso Moretti

Engenheiro Agrônomo, ex-presidente da Embrapa

Esse texto trata de uma opinião do colunista e não necessariamente reflete a posição do Agro Estadão

Opinião

Tomate industrial no Brasil: avanços, gargalos e o que esperar da próxima safra

O tomate, conhecido na Itália como pomodoro — ou “maçã de ouro” —, tem origens nas regiões andinas da América do Sul, onde foi cultivado por povos indígenas no Chile, Peru e Equador 

16/05/2025 - 08:00

Foto: Embrapa/Divulgação
Foto: Embrapa/Divulgação

Hoje, o produto está presente em praticamente todas as cozinhas do mundo e ocupa papel estratégico na indústria de alimentos. É rico em sais minerais, vitaminas e pigmentos como o licopeno, que dá a cor vermelha à hortaliça e que tem comprovação científica de contribuir para a prevenção de diferentes tipos de câncer, como o de próstata. Mas por trás da aparente abundância há uma realidade que merece atenção: o Brasil ainda enfrenta grandes desafios para desenvolver sua cadeia produtiva de forma sustentável e competitiva.

A produção mundial de tomates frescos atingiu, em 2024, aproximadamente 160 milhões de toneladas, sendo 39 milhões destinadas à indústria. Os maiores volumes vêm do hemisfério norte, com destaque para China, Estados Unidos, Itália, Espanha e Turquia. O Brasil ocupa a 6ª posição no ranking global de tomate processado — um feito relevante, considerando que é o único país do hemisfério sul com produção anual acima de 1,5 milhão de toneladas. No entanto, esse avanço produtivo ainda não se reflete na balança comercial. 

Apesar de o Brasil ter processado 1,7 milhão de toneladas em 2024, o país mantém um déficit estrutural em produtos como extrato de tomate e tomates enlatados. Em 2022, esse déficit foi de US$ 39,3 milhões, com o Chile liderando as exportações ao Brasil, seguido por Peru, Itália e China. Somente a categoria de molhos e catchup apresenta um desempenho comercial mais equilibrado. Isso aponta para um gargalo na agregação de valor e na industrialização de produtos com maior margem.

O cultivo do tomate industrial exige planejamento técnico, investimento e conhecimento. Goiás responde por cerca de 70% da área plantada — cerca de 19 mil hectares —, seguido por São Paulo e Minas Gerais. A safra se estende de fevereiro a outubro, com colheita em pleno inverno, uma particularidade do Brasil que pode ser estratégica no cenário global. O custo médio por hectare em Goiás, em 2023, foi de aproximadamente R$ 30 mil, com produtividade média de 90 toneladas/ha. A comercialização da safra é, em geral, antecipada por meio de contratos com a indústria processadora, o que reduz riscos, mas impõe margens apertadas.

Os insumos seguem como principais itens de custo. Defensivos agrícolas representam 27,6% do total, seguidos por operações mecanizadas (25,9%) e fertilizantes e corretivos (22,7%). Juntos, esses três itens somam mais de 76% dos custos da lavoura. Diante disso, o uso de tecnologias como análise de solos, manejo integrado de pragas, irrigação eficiente e melhoramento genético são fundamentais para reduzir perdas e garantir viabilidade econômica.

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Para 2025, a projeção é de uma redução de 5% na área plantada, mas com crescimento de 5% na produção total — reflexo de ganhos de produtividade. Enquanto São Paulo e Minas Gerais devem ampliar sua participação, Goiás tende a registrar uma leve retração. Esses dados apontam para um movimento de consolidação produtiva com foco em eficiência.

O grande desafio agora é avançar na industrialização com maior agregação de valor e menor dependência de importações. O cenário internacional apresenta estabilidade, com leve crescimento em regiões emergentes. Isso abre oportunidades, mas também exige maior eficiência operacional, investimentos em infraestrutura de processamento e articulação entre produtores e agroindústrias.

O tomate pode até ser uma “maçã de ouro”. Mas, para o Brasil, ele ainda é uma joia bruta. O país tem potencial para se tornar protagonista global na produção e exportação de tomate processado, mas precisa enfrentar seus gargalos estruturais. O setor já demonstra capacidade técnica e escala, mas o próximo passo passa por planejamento estratégico, fortalecimento da indústria e inserção inteligente no comércio internacional

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