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Marcello Brito

Engenheiro de alimentos, professor e diretor do FDC Agroambiental.

Esse texto trata de uma opinião do colunista e não necessariamente reflete a posição do Agro Estadão

Opinião

13 anos do Código Florestal: ativo ou passivo brasileiro?

Instrumento essencial para destravar as novas economias verdes, o Cadastro Ambiental Rural (CAR) ainda não decolou no Brasil, comprometendo a credibilidade do país no mercado Agroambiental global

18/06/2025 - 08:00

Foto: Adobe Stock
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Ao completar 13 anos, o Código Florestal Brasileiro segue distante de sua plena implementação. No centro dessa paralisia está o Cadastro Ambiental Rural (CAR), ferramenta criada pela legislação para mapear e monitorar o uso do solo em propriedades rurais. Sem ele, a transição para uma economia verde, baseada em mecanismos como créditos de carbono e pagamentos por serviços ambientais, continua duvidosa.

Apesar de sua importância estratégica, o CAR enfrentou desde o início uma série de entraves. Judicializado por setores do ambientalismo logo após seu lançamento, o cadastro também foi alvo de resistência política por parte da bancada ruralista. A regulamentação só começou a ganhar algum impulso em 2021, na segunda metade do governo Bolsonaro. No entanto, a retomada foi interrompida novamente no atual governo Lula, desta vez por disputas internas entre os Ministérios da Agricultura (MAPA) e do Meio Ambiente (MMAMC), até que, após longa espera, a gestão do sistema foi transferida ao Ministério da Gestão e da Inovação (MGI).

Mesmo sob nova gestão, o CAR segue sem os recursos, a equipe e o respaldo político necessários para avançar. Além disso, enfrenta resistências veladas dentro do próprio governo — o chamado “fogo amigo”. Sem a gestão federal em apoio aos estados mais vulneráveis, as esperanças de um rápido avanço são pequenas. Pois, é dos estados subnacionais a obrigação da validação do CAR. Nem todos deram atenção. Espírito Santo, São Paulo, Pará e Mato Grosso são os mais avançados e seus governadores demonstram interesse genuíno para avançar rapidamente, pois entenderam a importância econômica dessa ferramenta. Mas, há estados ainda no zero, inacreditavelmente.

O Código Florestal ocupa posição ambígua no debate público. Para alguns, é “um entrave ao avanço do agronegócio”. Para outros, é “um dos mais rigorosos marcos legais de proteção ambiental do planeta”, conferindo legitimidade à produção agropecuária nacional. A depender do ponto de vista, o Código é ora um passivo, ora um ativo estratégico do Brasil.

A implementação completa do Código Florestal poderia colocar o país na vanguarda da agricultura sustentável. Seriam mais de 220 milhões de hectares com cobertura vegetal sob responsabilidade de proprietários rurais privados — uma área superior a quatro vezes o território da França e quase metade da União Europeia. Com um ativo ambiental sem paralelo no mundo, seríamos imbatíveis diante de qualquer narrativa detratora.

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No entanto, os números mostram um cenário preocupante. Somente cerca de 3% dos cadastros ambientais rurais, em nível nacional, foram efetivamente validados. Infelizmente, os números do Painel da Regularização Ambiental do SFB – Serviço Ambiental Brasileiro, aliás, uma ótima iniciativa, não estão atualizados e não incorporam dados de todos os estados, pois essa atualização não é automática, há problemas na integração dos sistemas. Sem essa etapa, produtores não podem aderir ao Programa de Regularização Ambiental (PRA), impedindo a legalização de áreas que necessitam de compensações ambientais. Em diversos estados, o próprio Programa de Regularização Ambiental (PRA) sequer foi oficialmente aprovado.

Na prática, o que poderia ser um diferencial competitivo do Brasil nas economias verdes se transforma em passivo jurídico e reputacional. A falta de segurança legal preocupa investidores, especialmente em setores como o de créditos de biodiversidade e carbono, que exigem alto grau de transparência e governança.

Enquanto a tecnologia mundial evolui a ponto de permitir que foguetes deem ré em segurança após o lançamento, o Brasil de 2025 ainda patina na implementação de uma lei aprovada há mais de uma década. A demora sinaliza fragilidade institucional e má gestão de ativos estratégicos do país.

A história nos alerta que, se não for efetivamente implementada, uma lei corre o risco de ser abandonada ou substituída. E o setor de investimentos verdes não aguarda. A inércia pode tirar o Brasil do mapa dos investimentos ambientais e Agroambientais mais rentáveis — aqueles em que governança, transparência e segurança jurídica não são opcionais, mas requisitos básicos.

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