Agropolítica
Saiba como o setor produtivo avalia o Plano Safra 2024/2025
Aprosoja-MT diz que recursos do Plano Safra foram "reduzidos" se considerar a inflação e que política agrícola "deixou a desejar"
5 minutos de leitura 03/07/2024 - 17:14
Por: Daumildo Júnior e Fernanda Farias
O presidente da Federação da Agricultura de São Paulo (FAESP), Tirso Meirelles, diz que o Plano Safra é importante, mas é preciso uma política de estado. “De longo prazo, ao estilo da Farm Bill americana, com programas e recursos definidos para o setor agropecuário. Vamos esperar que os recursos para financiamentos e seguros cheguem, em especial aos pequenos e médios produtores, que são os que mais precisam”, afirma.
Para o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Alexandre Velho, o seguro rural é uma das preocupações. O setor espera, no mínimo, R$ 1,5 bilhão para a subvenção. “Principalmente pelas questões climáticas no RS, nós precisamos avançar numa fatia maior de seguro e para que o produtor se estimule a fazer mais seguros ,ele tem que ter uma garantia da subvenção por parte do governo”, disse Velho.
O diretor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Bruno Luchi, reconheceu o esforço do governo em apresentar um plano mais robusto, no entanto está aquém do que a CNA almejou. “Tivemos incremento de 9% no volume total de recursos, sendo que a nossa demanda era de 31%. A margem do produtor caiu, ele está descapitalizado, está muito mais difícil conseguir crédito no mercado privado”, disse Luchi.
O diretor da CNA ainda falou sobre a frustração em relação ao seguro rural, já que foram anunciados R$ 210 milhões apenas para o Rio Grande do Sul. “De certa forma vai aliviar o geral, mas é muito pouco perto do que o setor almeja – R$ 3 bi”, analisou.
Luchi também avaliou que as linhas de crédito que mais necessitavam de aporte financeiro e redução de juros não foram atendidas. “A Moderfrota [que foi reforçada] foi a linha que nós dissemos que o governo podia se preocupar menos. Havia outras linhas que tínhamos interesse em ter redução de juros e aporte maior de recursos, como RenovAgro e PCA, e isso não foi ao encontro do que a gente tinha solicitado”, finalizou.
Aprosoja-MT diz que recursos até sofreram redução
Em nota, a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT) criticou o volume de recursos. Segundo o presidente da entidade, Lucas Beber, se for considerada a inflação de um ano para outro, “os recursos controlados (a juros subsidiados) do Plano Safra apresentaram redução”.
Segundo ele, a política agrícola anunciada pelo governo “deixou a desejar” na disponibilidade de recursos controlados. “Um aumento nominal de 1% dos recursos não cobre nem mesmo a desvalorização do real frente à inflação de 4,86% de 2023”, criticou. “Ou seja, um aumento negativo, traduzindo em redução de recurso controlado disponível, em uma economia com inflação prevista de 4% para 2024.”
Sobre o desconto de meio ponto porcentual na taxa de juros de custeio para produtores que possuem o Cadastro Ambiental Rural (CAR) aprovado, Beber disse que, apesar de importante, esse desconto alcança uma minoria de produtores. “Em todo o Brasil, menos de 3% dos CAR estão analisados. Esse fato não representa culpa do produtor, mas sim da ineficiência dos órgãos responsáveis”, enfatizou.
Dinheiro para comprar máquinas é considerado insuficiente
O presidente da Abimaq, Pedro Bastos, afirma que os R$ 12 bilhões em recursos para a aquisição de máquinas agrícolas não será suficiente para reverter a tendência de queda nas vendas. No máximo, deve reduzir um pouco a queda, que está em 30% e pode passar para 18%.
“A gente imagina que para a agricultura empresarial, em três meses esse recurso acabe, aí o produtor é obrigado a ir no mercado e hoje, os juros mais baratos são de 16%, que é o BNDES crédito rural e é um juro bem mais cara que esse 11,5% [do Plano Safra], então essa é nossa principal preocupação”, disse Bastos ao Agro Estadão.
OCB comemora ampliação de limite para PCA, mas vê valor ainda abaixo da necessidade
O coordenador do ramo Agro da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), José Pietro, disse que o valor do Plano Safra 2024/2025 “acabou não refletindo o pedido da que veio da base”. A OCB pediu um Plano Safra geral de aproximadamente R$ 558 bilhões.
Apesar disso, ele viu como positiva a ampliação da linha de investimento do Programa para Construção de Armazéns (PCA). “É um pleito muito grande da nossa base, nós tínhamos um gargalo que era a limitação de teto, estipulado em R$ 50 milhões, e o governo atendendo a um pleito da OCB passou para 200 milhões”, afirmou Pietro. Quanto aos juros, a manutenção da maioria das taxas foi entendida pela entidade, mas não anima.
Indústria de Alimentos está otimista
Para o presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA), João Dornellas, além dos dados divulgados nesta tarde, é importante transformar os números em maior produção. Dornellas demostrou estar otimista.
“A indústria trabalha o tempo todo muito ligada ao campo, a indústria brasileira de alimentos e bebidas compra cerca de 62% do que o campo produz. Então para nós é uma satisfação ver a empolgação do poder executivo em relação a fazer um plano safra que é recorde na história do país.”
Entre as instituições financeiras, o diretor de Agronegócios e Agricultura Familiar do Banco do Brasil, Everton Luís Kapfenberger diz que os produtores rurais podem procurar as agências imediatamente para apresentar as propostas.
“A nossa distribuição de recursos é para todas as regiões. Temos convicção de que essa será uma safra melhor, de ajuste”, disse. Segundo Kapfenberger, na próxima sexta-feira, o Banco do Brasil vai anunciar os valores que serão disponibilizados.
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